Reproduzimos
abaixo carta do Deputado Chico Alencar, com assento no legislativo federal pelo
Partido Socialismo e Liberdade – PSOL, sobre a cogitação de seu nome para
representar a sigla na disputa da Presidência da República em 2014. A carta foi
publicada também no Blog do jornalista Jorge Alexandre Lucas.
Vamos a ela
 |
Deputado Chico Alencar diz que o objetivo central da
sigla é ocupar espaços no legislativo, sobretudo
na Câmara Federal. |
SOBRE
SER PRESIDENCIÁVEL - Chico Alencar
Camaradas:
1. Agradeço a grande honra de ter sido
lembrado para esta bela, dura, desafiadora e tentadora missão. Minha gratidão
vai especialmente para a APS Novos Rumos, para o Coletivo Rosa Zumbi, para o
ex-Enlace e para a APS Corrente Comunista, segmentos do PSOL que levantaram
essa ideia. E para os que, militantes ou não, individualmente, simpatizaram com
a possibilidade. Destaco que em momento algum houve qualquer pressão indevida:
apenas o bom debate político, a ‘cobrança' saudável;
2.
Desde o início coloquei-me aberto a esta reflexão, e tentei fazer dela uma
oportunidade de encontro ‘desarmado' e diálogo construtivo entre TODAS as
correntes do nosso partido. Também pensei bastante nas capacidades e limitações
que teria para cumprir tal tarefa (sei que essas decisões, em última instância,
serão sempre pessoais e intransferíveis);
3.
Destaquei que a candidatura majoritária nacional do PSOL tem que ser do partido
inteiro (obviedade que não se realizou em 2010, absurdamente), e expressão de
um programa básico nacional (que, aliás, as teses ao IV Encontro Nacional já
esboçam, com alto grau de concordância entre os diversos textos, mas valorizar
pontos de aproximação não tem sido o nosso forte). Só assim ela será capaz de
colocar na cena pública questões cruciais para os rumos futuros do nosso país e
do que lhe dá sentido: o povo que aqui habita;
4.
Abri, na contramão do timing das decisões exigidas a quem dirige a máquina
partidária, uma consulta sobre a oportunidade da candidatura. Ouvi os grupos
que constroem e/ou se referenciam no nosso Mandato: a equipe que o faz,
cotidianamente; os componentes do Conselho Político; as pessoas que nos
acompanham mais de perto, chamados de ‘Amigo(a)s do Mandato'; meu entorno
familiar e afetivo. Todo(a)s, vivamente interessados, contribuíram diretamente
- cerca de duas centenas de cidadã(o)s! - com suas opiniões generosas e
instigantes, ajudando democraticamente na minha decisão (ou aprofundando as
dúvidas...). A estes também sou muito grato. Traduzindo em porcentuais, o
retorno foi de 61% mais favoráveis a uma recandidatura a deputado federal, 21%
animados com uma candidatura presidencial e 19% em dúvida;
5.
A proposta do encontro entre correntes para construção de uma candidatura
unitária não teve êxito. Ao contrário, em função da dinâmica do IV Congresso,
ela até refluiu, consolidando o que considero um ‘blocamento' bipolar e um
discurso, crescente nesses períodos, de crítica ácida ao caráter quase
‘destrutivo' do antagonista, caso o adversário mantenha ou venha a ter a
hegemonia na Direção Partidária;
6.
A posição que defendo, junto com outros valorosos companheiro(a)s, expressa na
tese ‘Para o PSOL continuar necessário', está evidentemente secundarizada no
debate nacional - como, de resto, o debate político sobre a conjuntura mundial e
nacional. As questões ali colocadas, embora respeitadas, não repercutem muito.
O que parece galvanizar é a disputa - magnificada, em vários momentos - sobre a
‘encruzilhada' do partido, que, de acordo com o ponto de vista de cada setor,
ou cai no fisiologismo corrompido e no adesismo à ordem, situando-se como mera
‘esquerda do governo e/ou do PT' e aberto a alianças com a direita, ou no
esquerdismo sectário, baluartista, autoproclamatório e isolacionista, como ‘um
PSTU com um pouco mais de densidade eleitoral'. Já nós entendemos que - sem
afrouxar no combate aos desvios, cuja gravidade os episódios recentes no RJ
revelam, em tons dramáticos! - é preciso construir um espaço democrático de
convivência respeitosa entre os grupos internos, sem blocamentos definitivos e
perspectivas catastróficas, evitando despender tanta energia com o ‘inimigo
interno' - sempre o mais fácil de atacar, por sinal (até em abomináveis
agressões). Reconheço que esta visão tida como ‘conciliadora demais' é hoje, no
PSOL, minoritária (talvez não entre os nossos 105.331 mil filiados nacionais,
mas certamente entre os militantes que participaram dos encontros de base.
Estes somaram menos de 10% deste total nas convenções de base, o que deveria
nos preocupar: por que nossos debates internos, por mais animados que sejam,
atraem poucos filiados e até, em alguns casos, os desestimulam?);
7.
A conjuntura que se abre nos é mais favorável, como em nenhum outro período de
nossa existência de oito anos. Seria uma irresponsabilidade colocar tudo a perder
por procedimentos incompatíveis com nosso ideário, por nossas querelas internas
e, fixados nelas, por um insuficiente debate político sobre o mundo ‘lá fora',
com suas complexidades. As chamadas ‘Jornadas de Junho', ainda que marcadas,
naquele momento massivo, pela rejeição à política e aos partidos, vai se
decantando e acolhendo com simpatia o que pareça nova forma de se fazer
política. O PSOL, em certa medida, é identificado como portador dessa
possibilidade;
8.
Este cenário relativamente promissor não elide - ao contrário, acentua - nossa
imensa debilidade orgânica. Para além do problema das práticas apequenadas e
manipuladoras, aqui e ali, temos Diretórios impedidos de receber o Fundo
Partidário. Mesmo a campanha majoritária de Plínio, tão parca de recursos,
ainda não teve a prestação de contas aprovada. Mais que dolo, há inexperiência,
descuido (alguns consideram que essas tarefas administrativas não são
‘revolucionárias', e as relegam ao último plano) e incompetência;
9.
É imperativo também se repensar as formas do dinamismo partidário, nesses
tempos em que os núcleos presenciais, sempre serão importantes, perdem espaço
para os grupos de debate na internet (dispensando os autofágicos). Urge
capacitar o partido com instrumental teórico para melhor inserção e incidência
nos conflitos da sociedade de classes do século XXI e para superar nosso dilema
‘partido de quadros X partido de massas', falso mas repetidamente proclamado;
10.
Para a disputa institucional de 2014, junto com as candidaturas e o programa,
insisto que é preciso definir nosso objetivo central de ocupação de espaços, em
especial nos Legislativos, sobretudo na Câmara federal - minha inclinação de
contribuição, inclusive para possivelmente (mas não seguramente) ampliarmos a
bancada fluminense, já que não se apresentaram muitos nomes com significativa
densidade eleitoral. É importante constituir frentes de luta mais relevantes
nos parlamentos. Elas são instrumentos de reverberação dos movimentos sociais,
propagação de nossas propostas e crescimento do partido, pequeno mas com
vocação de grandeza. Claro que candidaturas majoritárias nos estados, aos
governos e ao Senado, junto com a candidatura presidencial, ajudarão muito
nisso, em sua tarefa realística de marcar posição e acentuar nossa identidade.
Para esta peleja não faltam nomes capazes, como os já colocados dos
ex-deputados federais Luciana Genro e Milton Temer, do ex-vice de Plínio,
Hamilton de Assis, e do ex-candidato à prefeitura de Fortaleza, Renato Roseno.
O mundo acadêmico militante, que não entrou no silêncio acrítico na Era Lula,
pode ser procurado: um Vladimir Safatle ou um Ricardo Antunes agregariam também
muita qualidade na campanha que se avizinha, por sintonizados e comprometidos
com os movimentos vivos dos trabalhadores e da juventude.
Ao
fim e ao cabo, com a certeza cerzida no provisório de toda escolha, amparo-me
na sabedoria oriental milenar (que nossa racionalidade cartesiana pouco
valoriza), que me chegou em uma das respostas à consulta: "não há de fato
uma decisão certa a ser tomada. O certo é decidir e seguir em frente com a
escolha".
Em
frente!
Vamos
juntos.
Chico
Alencar
Rio
de Janeiro, 15 de setembro de 2013