Muito
se fala da Inconfidência Mineira e o aclame por Tiradentes (sim teve seu papel
importante na História) porém o quê e quem fala da Conjuração Baiana? E sobre
Lucas Dantas, Manuel Faustino, Luiz Gonzaga e João de Deus?
Publicado originalmente no Esquerda Diário
Primeiro
vale expor dois pontos importantes:
A
Inconfidência Mineira (1789) passa em um período em que era grande a extração
de ouro em Minas Gerais e o qual era devido vinte por cento como imposto
daqueles que o possuíam. A insatisfação principalmente dos fazendeiros rurais e
donos de minas que queriam pagar menos impostos, membros da elite brasileira
começaram reunir-se para buscar solução definitiva para o problema. Assim os
inconfidentes lutavam pela liberdade definitiva. Mas e a questão da escravidão?
(Estes não tinham uma posição definida).
Enquanto
a Conjuração Baiana (1798) também em busca de liberdade porém com grande
participação popular de pequenos comerciantes, soldados, artesãos, alfaiates e
negros libertos buscavam a independência e proposta mais ampla incluindo a
abolição da escravatura.
A
ideia de liberdade e igualdade se contrastavam com a precária condição do povo,
elevada carga tributária e escassez de alimentos levando a saques em
estabelecimentos portugueses em Salvador. Na liderança do movimento
destacaram-se Lucas Dantas, Manuel Faustino, Luiz Gonzaga e João de Deus e
participação de mulheres negras como as forras Ana Romana e Domingas Maria do
Nascimento.
A
violenta repressão metropolitana conseguiu deter e desarticular o
movimento, prendendo e torturando os suspeitos. Após o processo de julgamento os
quatros líderes são condenados à morte por enforcamento (assim como Tiradentes)
em 8 de novembro de 1799. Outros como Cipriano Barata, Hernógenes
Aguilar (tenente) e Francisco Moniz (professor) foram absolvidos assim como os
pertencentes à loja maçônica ‘’Cavaleiros
da Luz’’. Ainda há os que foram acusados de ‘’grave’’ envolvimento
recebendo pena de prisão perpétua ou degredo na África.
Diante de tudo aqui abordado fica claro a punição dos condenados que eram pobres e negros e suas três gerações familiares seguintes com a memória amaldiçoada publicamente.
A
indignação não é só ter quatro líderes negros esquecidos com suas participações
no maior movimento social da época, mas também ver que três séculos depois
seguimos com a população trabalhadora e negros sendo reprimidos, lutando por
melhores condições de vida, pagando elevadas cargas tributárias, a ‘’justiça’’
sendo feita para os mais favorecidos, a violência da polícia nas periferias. E
não é difícil expor essas lutas basta lembrar de do caso Amarildo, Claudia
Ferreira, os 5 jovens negros assassinados em novembro de 2015 pela PMRJ, as
recentes lutas de operários para manter seus empregos como Mabe, GM e tantas
outras. O precário sistema de Saúde onde milhares de pessoas morrem em
corredores nos hospitais, uma juventude tendo que enfrentar o sistema pelo
direito da educação e sendo reprimidos, trabalhadores tendo seus direitos
alterados ou ate mesmo retirados.
E até quando o passado vai se misturar com a atualidade? Até quando seremos esquecidos, reprimidos? Até quando iremos sustentar a elite?
Cotidianamente
unimos forças pela liberdade, por melhores condições sociais mesmo sendo
massacrados pelo sistema e na luta para que um dia nomes e histórias não caiam
no esquecimento e principalmente para que o respeito e igualdade de humanidade
enfim faça parte deste cotidiano.
Aqui
pagamos a conta por não ter quem nos ouça e nada faz por nós, afinal só haverá
dialogo quando o lado de quem sempre teve voz começar a ouvir o que a gente tem
a dizer.
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Lucas Dantas, Manuel Faustino, Luiz Gonzaga e João de Deus - Líderes da Conjuração Baiana. |