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Imagem de divulgação do livro “Caderno Educação das Relações Étnico-Raciais no Cariri Cearense e Orientações Didáticos Pedagógicas” |
Publicação
apresenta estudos que pautam a educação das relações
étnico-raciais da perspectiva negra e indígena no Cariri cearense
“O
projeto emociona na medida em que nos possibilitou, apesar do período
mais complicado da pandemia, um reencontro com a história do povo
negro e indígena, a partir da nossa própria história e do nosso
lugar. Os materiais produzidos retratam esse encontro e essa
reconexão.”
É
assim que a pesquisadora Cícera Nunes define como se sentiu após a
realização do projeto “Currículo e os processos de formação
docente no campo das relações étnico-raciais.”
Um
dos frutos da experiência foi a publicação “Educação das
Relações Étnico-Raciais no Cariri Cearense”, que pode ser
acessada gratuitamente na Biblioteca Dinâmica do Observatório
Anansi neste link.
O
CEERT conversou com Cícera a respeito da publicação e do projeto.
Cícera é doutora em Educação Brasileira pela Universidade Federal
do Ceará (UFC) e atualmente é Professora vinculada ao Departamento
de Educação da Universidade Regional do Cariri (URCA). Confira os
principais trechos da entrevista:
Como
surgiu a ideia de elaborar o projeto e qual foi o objetivo dele?
Cícera:
O projeto “O Currículo e os processos de formação docente
no campo das relações étnico-raciais”, em uma perspectiva
inter e transdisciplinar, surge de uma trajetória de trabalho junto
ao Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação, Gênero e Relações
Étnico-Raciais, que coordeno no Cariri cearense e tem buscado
construir relações de parceria, em especial com escolas de educação
básica, visando suprir a necessidade de suporte formativo e a
produção de material bibliográfico e didático pedagógico na
temática das relações étnico-raciais.
O
projeto teve na sua centralidade a proposta de recontar e
ressignificar a história do Cariri cearense a partir de perspectivas
negras e indígenas. Fizemos uma inserção em um bairro negro,
chamado Comunidade do Gesso, localizado na cidade do Catro (CE),
procurando estabelecer parceria e aproximação com agentes escolares
e moradores da comunidade, para que pudéssemos perceber influências,
referências e presenças negras e indígenas na história desse
lugar.
Depois
disso, debatemos uma proposta de currículo e processos de formação
dos profissionais da educação que caminhassem para uma educação
de pertencimento a partir da relação com a história do lugar e do
povo negro e indígena do Cariri cearense.
Quais
são os destaques da publicação Educação das Relações
Étnico-Raciais no Cariri Cearense, orientações didático
pedagógica?
Cícera:
O Caderno é uma inspiração das Diretrizes Curriculares Nacionais.
É uma tentativa de levantamento dos estudos que pautam a educação
das relações étnico-raciais, tanto a partir da perspectiva negra,
como da perspectiva indígena no Cariri cearense.
São
estudos que propõem a discussão a partir das escolas de educação
básica e trazem uma contextualização sobre a política educacional
antirracista e processos de formação de professores.
Trazem
também indicações importantes de estudos e materiais pedagógicos
que essa rede pode acessar para servir como suporte para
implementação da política e também como suporte para a elaboração
e fundamentação dessa política no contexto do Projeto Político
Pedagógico das Escolas.
Quais
são os demais produtos do projeto?
Cícera:
Nós tivemos a produção de um vídeo-documentário chamado “Sankofa
Gesso” e de três cadernos pedagógicos: “O Território
Criativo do Gesso, Memórias e Narrativas Negro-Indígenas”; “A
escola de Educação Básica e Educação para Relações
Étnico-Raciais” e o “Caderno Educação das Relações
Étnico-Raciais no Cariri Cearense e Orientações Didáticos
Pedagógicas”.
Além
disso, instalamos duas bibliotecas com a média de 200 títulos de
autorias negras e indígenas, sendo uma biblioteca comunitária na
escola parceira do projeto e uma biblioteca no Núcleo de Estudos e
Pesquisa em Educação, Gênero e Relações Étnico-raciais, que
está localizado na universidade regional do Cariri.
Nós
também desenvolvemos um aplicativo que mapeia os pontos de memória
da Comunidade do Gesso e conta a história da comunidade a partir das
informações postas no material didático.
Também
realizamos, por mais de um ano, uma ação de formação que envolveu
professores da educação básica da rede de ensino da região do
Cariri cearense e também os estudantes da escola parceira do
projeto.
Por
fim, realizamos uma intervenção urbana com grafite, com a
participação dos estudantes, professores e moradores do lugar,
retratando nas paredes da comunidade um pouco de história e da
trajetória da população negra no contexto brasileiro e local.
Como
o projeto desenvolvido contribui para a Educação Antirracista?
Cícera:
O projeto contribui para o fortalecimento de uma Educação
Antirracista na medida em que proporcionou uma melhor identificação
das referências negras e indígenas presentes na história e na
cultura do lugar que possibilitam desdobramentos em várias ações
pedagógicas nas variadas áreas do conhecimento. Essas informações
foram materializadas nos cadernos pedagógicos e nas ações de
formação que contaram com a colaboração de pesquisadores negros e
indígenas.
A
ação também contribuiu para aprofundar reflexões em torno da
implementação da história e cultura indígena, discussão
praticamente ausente nas ações de formação da região. A ação
de formação proposta e o material pedagógico produzido são
importantes suportes de ressignificação das propostas pedagógicas
das escolas e das ações de formação dos profissionais da
educação.
Como
se sentiu com a experiência?
Cícera:
O projeto emociona na medida em que nos possibilitou, apesar do
período mais complicado da pandemia, um reencontro com a história
do povo negro e indígena, a partir da nossa própria história e do
nosso lugar. Os materiais produzidos retratam esse encontro e essa
reconexão.
Considero
que, ao fim dessa experiência, o que fica de mais marcante foi a
possibilidade concreta que o projeto aponta para que a escola dê
sentido a essas experiências que são vividas fora e dentro dela,
com a possibilidade que a gente se reencontre com a história que nos
foi negada historicamente e é nossa. Agora a gente precisa construir
essa relação de pertencimento.
Projeto
selecionado – O projeto “Currículo e os processos de formação
docente no campo das relações étnico-raciais, numa perspectiva
inter e transdisciplinar” é um dos projetos apoiados pelo
Edital Equidade Racial na Educação Básica: pesquisa aplicada e
artigos científicos, lançado em 2019, iniciativa do Itaú Social
coordenada pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e
Desigualdades (CEERT), em parceria com o Instituto Unibanco, a
Fundação Tide Setubal e o Fundo das Nações Unidas para a Infância
(Unicef).
Outros/as
pesquisadores/as sobre o tema mapearam exemplos de práticas
pedagógicas antirracistas e também têm obras disponibilizadas para
download gratuitamente no acervo digital Equidade Racial na Educação
Básica: Pesquisas e Materiais, que pode ser acessado na Biblioteca
Dinâmica do Observatório Anansi, pelo site:
https://anansi.ceert.org.br/biblioteca
Até
dezembro deste ano, o acervo digital vai abrigar mais de 50
produções, entre livros, teses acadêmicas, artigos, e-books, jogos
didáticos e vídeos, que serão lançados periodicamente.
A
iniciativa foi lançada oficialmente em 9 de janeiro deste ano, em
comemoração aos 20 anos da Lei 10.639, que alterou a LDB (Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional), tornando obrigatório o
ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas
brasileiras.
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Com
informações do Observatório Anansi e do Ceert.