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(FOTO | Matheus Alves) |
Sueli
Carneiro recebeu, nesta quarta-feira (21), o título de Doutora Honoris Causa,
pela Universidade de Brasília (UnB). Ela é a primeira mulher negra a receber a
homenagem nesta instituição de ensino. Antes dela, apenas três homens negros
haviam recebido a outorga: Abdias do Nascimento, Milton Santos e Nelson
Mandela.
A
condecoração foi dada pelas mãos da reitora Márcia Abraão. No auditório
Esperança Garcia, da Faculdade de Direito, estavam cerca de 500 pessoas. Em seu
discurso, Sueli disse que, a sua geração de militantes negros “foi educada e conscientizada pelo movimento
negro, por seus intelectuais ignorados pela universidade brasileira”.
“Portanto, sei que este título presta
reverencia a pensadores e pensadoras que forjaram nossas consciências, nossas
vozes insurgentes, no calor das lutas que travaram contra o racismo e o sexismo”,
ressaltou Carneiro.
Durante
sua trajetória, Sueli Carneiro se empenhou em "desnudar os dispositivos de saber e poder implicados na persistente
reprodução da inferioridade social das pessoas negras". Para ela, a
luta mais importante da humanidade é conquistar a equidade de gênero e de raça.
“Neste sentido, me ocupei em desagregar
racialmente dados censitários para produzir evidências das desigualdades
raciais entre as mulheres. Me ocupei em afirmar valores culturais
negro-africanos que sustentam a identidade e a resistência das mulheres negras.
Me ocupei em produzir argumentos para consubstanciar uma estratégia política,
de enegrecimento do ideário feminista, em especial, no âmbito das políticas
públicas voltadas para a promoção da igualdade de gênero”, disse em seu
discurso.
Por
fim, ela declarou que compreende o título como o reconhecimento da justeza das
lutas das mulheres e homens negros que “clamam
por um novo pacto civilizatório que desaloje os privilégios consagrados de
gênero e de raça".
À
Alma Preta Jornalismo, colegas e admiradores de Sueli Carneiro disseram que
este é um momento memorável. A advogada Vera Lúcia, que compõe a lista tríplice
para o cargo de ministra do Tribunal Superior Eleitoral, conviveu com Sueli e
ressalta que é um grande marco para a universidade brasileira, uma aula que a
UnB oferta para as demais instituições.
O
professor Wanderson Flor do Nascimento afirmou que a ativista é uma referência
de luta tanto militante como intelectual. Para ele, essa reverência às pessoas
negras precisa ser feita ainda em vida, para que “mantenhamos os nossos símbolos vivos”.
Bianca
Santana, diretora da Casa Sueli Carneiro, expôs à reportagem que foi uma emoção
muito grande ver Sueli e outras mulheres negras da mesma geração serem homenageadas
neste momento. Ela, que escreveu a biografia de Sueli Carneiro, diz que a
responsabilidade das mulheres mais novas é de continuar e documentar os feitos
históricos das mais velhas, aprendendo sempre um pouco mais sobre a luta e
perseverança das mulheres negras.
“O papel dessas gerações se acumulaa nas
nossas interações. A gente quer construir junto com as nossas ancestrais, com
as mais velhas, preparando o caminho para quem vem depois”.
A
UnB foi a pioneira entre as universidades federais que implantaram o sistema de
cotas raciais. Este ano, foi criada a Secretaria de Direitos Humanos, com o
objetivo de fortalecer as políticas de direitos humanos, e está sob chefia da
professora Débora Santos.
Autora
de oito livros e vários artigos sobre o racismo no país, Sueli Carneiro
defendeu em 2005 a tese 'A Construção do Outro como Não-Ser como fundamento do
Ser', no curso de Filosofia da Universidade de São Paulo, em que utiliza os
conceitos de Dispositivo e Biopoder, de Michel Foucault, para analisar as
relações raciais no Brasil. Em sua vasta publicação, defende a necessidade de
enegrecer o feminismo e denuncia o apagamento ou epistemicídio de mulheres
negras que chegam ao poder.
Por
sua obra e militância, a filósofa paulista recebeu vários prêmios, dentre eles:
Prêmio Kalman Silvert (2021), Prêmio Especial Vladimir Herzog (2020), Prêmio
Itaú Cultural 30 Anos (2017), Prêmio Benedito Galvão (2014) e Prêmio Direitos
Humanos da República Francesa. Também foi integrante do Conselho Nacional da
Condição Feminina, onde criou o único programa brasileiro de orientação na área
de saúde voltado para mulheres negras.
______
Com informações do Alma Preta.
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