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(Damares. (FOTO/ Marcello Casal Jr./ EBC) |
A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves quer revisar a Política Nacional de Direitos Humanos (PNDH), mas sem a participação da sociedade civil. Na quarta-feira (10), a pasta publicou a portaria nº 457 que institui o Grupo de Trabalho para a realização, segundo o documento, de “análise” do 3º programa, chamado de PNDH-3. O grupo, no entanto, será composto apenas por servidores do próprio ministério.
Ao
todo, serão 14 integrantes do governo federal que terão direito ao voto
ordinário e de qualidade, em caso de empate. Mas não há nenhuma previsão de
representação da sociedade civil ou de outros órgãos públicos com atuação na
temática de direitos humanos. Em um trecho da medida, o texto cita apenas que o
grupo de trabalho poderá convidar “representantes de entidades públicas e
privadas”. Mas elas “não terão direito a voto” na discussão sobre a PNDH.
A
portaria menciona ainda que o objetivo é “analisar aspectos atinentes à
formulação, desenho, governança, monitoramento e avaliação da Política Nacional
de Direitos Humanos, com vistas a oferecer recomendações para seu aprimoramento
e de seus programas”.
Sem participação, sem democracia
Decretado
em 2009, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o PNDH-3 é
considerado um “verdadeiro roteiro para a consolidação da democracia”
brasileira, ao traçar ações voltadas às maiorias ‘minorizadas’, como a
população negra, LGBT, de mulheres, pessoas com deficiência e trabalhadores.
Seu processo de criação à época também ficou marcado por uma “construção
coletiva”, com a participação popular de cerca de 14 mil pessoas.
Por
conta disso, o Conselho Nacional dos Direitos Humanos afirmou ter recebido a
nova portaria com “surpresa”, “pois exclui a sociedade de um debate
fundamental”. Em nota, publicada nesta quinta-feira (11), o CNDH informa que
“não há como garantir os preceitos constitucionais e democráticos, sem a
participação social legítima”. “Inclusive com representação de minorias, além
de previsão de tempo suficiente para aprofundamento e amadurecimento das
discussões e de um amplo debate sobre qual será a agenda priorizada para
ampliação da garantia de direitos humanos em nosso país”, adverte o documento.
A
informação de que o texto seria refeito por Damares foi antecipada pela
colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, na quarta-feira. Ao jornal, o
ministério declarou que o texto atual “tem metas inatingíveis e pouco focadas
em ações efetivas e de impacto social”.
Aparelhamento ideológico
O
Conselho Nacional de Direitos Humanos também contesta essa crítica do governo.
O órgão lembra que as propostas aprovadas no campo da segurança, educação e das
garantias fundamentais receberam o aval de “27 conferências em todos os estados
e no Distrito Federal”. Além de terem passado por “137 encontros prévios,
conferências livres, regionais, territoriais, municipais ou pré-conferências”.
Para
a diretora executiva da CUT, Virginia Berriel, a portaria de Damares é uma
proposta “autoritária”. Segundo ela, “debater a PNDH significa que o governo
pretende alterar o programa “inserindo seu viés ideológico”. Nesse caso,
“conservador, machista, misógino e de exclusão dos segmentos mais vulneráveis”.
Em
dois anos, desde o começo da gestão da ministra, a Política Nacional de
Direitos Humanos é marcada por ofensivas do governo de Jair Bolsonaro. O
presidente do CNDH, Yuri Costa, ressalta que em 2019 Damares assinou decreto
que extinguiu o Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do PNDH-3. No ano
passado, o órgão denunciou, como mostra reportagem da RBA, diversas
interferências da ministra contra o próprio Conselho, que era ignorado por ela
para que a secretaria-executiva, órgão do CNDH, fosse nomeado apenas por sujeitos
alinhados ao governo.
De
acordo com a Folha, ex-ministros de Direitos Humanos e parlamentares ligados à
temática também estão se organizando para denunciar às autoridades
internacionais a nova portaria de Damares.
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