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A notícia sobre a condecoração da menção honrosa veio durante a semana de ações no mês passado, o que mostrou que a equipe segue pelo caminho certo. (FOTO/ Divulgação). |
Estudantes
do município de Milagres (CE) criaram o projeto “Juventude Negra: Movendo
Estruturas” para discutir questões relacionadas à população negra e exaltar a
cultura afro-brasileira. O trabalho foi conduzido por um grupo de estudantes do
2° e 3° ano do ensino médio da Escola Municipal Dona Antônia Lindalva de
Morais, e surgiu a partir da reflexão sobre o aumento da violência contra a
população negra no Brasil. O exercício e a atenção provida à causa foi
fundamental para que o projeto recebesse menção honrosa na quinta edição do
Desafio Criativos da Escola, organizado pelo programa Criativos da Escola, do
Instituto Alana, em alusão ao Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, que
ocorreu no dia 20 de novembro.
A
proposta nasceu no fim de 2016, tomando como base a ideia de que a escola é
formada principalmente por alunos negros. O estudo começou por meio de um
formulário divulgado entre os alunos, inspirado nas pesquisas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Grupo de Valorização Negra do
Cariri (Grunec). “83% se autodeclararam negros, que inclui cor parda e cor
preta. Apesar disso, nós tínhamos um problema: a maioria deles não se
reconhecia como sendo negros. Eles se autodeclararam, mas o nosso problema é
que eles não tinham a identidade negra, não tinha a identidade africana”,
explica o professor e orientador Carlos César.
Josiely
Felipe, aluna participante do projeto, acredita que a discriminação é fator
crucial para que haja esse distanciamento em relação às origens. “A gente via
que não tinha uma aceitação por parte deles, por conta da discriminação. Até
porque estamos em um País que cria uma série de nomenclaturas como ‘moreninha’
e tem o peso histórico. Muitas vezes, eles não entendem e se deixam usar por
uma branquitude racista”, afirma.
Agora,
como integrante da pesquisa, ela conta que a forma que passou a enxergar o
mundo vai muito mais além. “Me tornei mais sensível socialmente no quesito das
pautas sociais e fazer parte do processo de desconstrução, pois sabemos que
todos produzimos um tipo de racismo, foi um desafio, pois é evidente que a
dívida histórica é muito grande. Infelizmente, a questão racial está também
está associada à ideia colonizadora”.
Como
forma de educar e estabelecer na escola Lindalva de Morais uma grade curricular
antirracista, desde 2017, os alunos passaram a desenvolver uma série de ações
que abordam a cultura, a história e a realidade negra do Brasil. Este ano, o
primeiro evento aconteceu em março, no Dia Internacional da Mulher. “Nós
decidimos continuar trabalhando com a violência contra a mulher negra. Todas as
mulheres assassinadas no município nos últimos 5 anos, eram mulheres negras. Em
março, nós realizamos um trabalho de orientação pedagógica de pesquisa e
debates em sala de aula em referência a integração da mulher negra na
sociedade”, relembra Carlos César.
A
pandemia, entretanto, atrapalhou alguns planos para as atividades a serem
desenvolvidas ao longo do ano, mas a celebração de Dia da Consciência Negra foi
bem sucedida. “Nós realizamos uma série de atividades presenciais e virtuais.
Nós desenvolvemos com os alunos da escola publicações em sites de notícias da
região do Cariri. Nós publicamos artigos sobre a população negra de Milagres,
sobre a questão racial no Ceará e no Brasil, e também sobre a cultura negra em
Milagres”, cita o professor.
A
notícia sobre a condecoração da menção honrosa veio durante a semana de ações
no mês passado, o que mostrou que a equipe segue pelo caminho certo. “Foi
gratificante, ver que o nosso esforço em pesquisa e vontade de mudar foi notada
por uma rede jornalística tão conhecida, é uma grande honra”, compartilha
Josiely.
Para
ela, a experiência foi válida e permitiu que se sentisse parte da luta de
pessoas próximas. “Por ser miscigenada, porém de cor branca, não me impediu de
lutar pelos direitos das pessoas negras. Cresci vendo familiares e amigos
sofrerem racismo e aquilo pra mim só foi um motivo, pra me dar força e
coragem”, destaca a estudante.
Com informações do Diário do Nordeste do Ceert.
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