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Nicolau Neto durante manifestação em Nova Olinda em 2016. (FOTO | Acervo pessoal). |
Por Valéria Rodrigues, Colunista
O professor e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras, José Nicolau da Silva Neto, é um dos mais importantes sujeitos políticos e atuantes contra o processo de discriminação na região do cariri cearense e se tornou referência regional e nacional na defesa da educação para as relações étnico raciais. Nascido em 14 de março de 1986, na cidade de Assaré, no sul do Estado do Ceará, é filho dos agricultores João Nicolau da Silva e Neusa Lourenço da Silva, hoje aposentados.
A família composta por 10 filhos saiu de Assaré com
destino a Altaneira, também no sul do Ceará em 06 de maio de 1990 e durante
anos viveu de aluguel. Pouco tempo depois, o falecimento de um dos filhos,
Edson, abalou a família. Com o pai trabalhando na roça e a mãe tendo que deixar
de ajudar o companheiro na agricultura para trabalhar na vizinha cidade de
Crato visando adquirir renda extra, o sustento e a educação dos filhos foi
garantida. Com muito trabalho conseguiram moradia própria.
Terceiro na lista dos mais jovens, Nicolau Neto sempre estudou em escola pública. Iniciou a vida estudantil aos 4 anos na Escola Municipal de Educação Infantil Disneylandia, hoje denominada de Escola Municipal de Educação Infantil Professora Fausta Venâncio. O Ensino fundamental foi feito nas Escolas Joaquim Rufino de Oliveira (antes um anexo da Escola 18 de Dezembro) e nesta própria. Concluiu o Ensino Médio na Escola Estadual Santa Tereza em 2006. Ainda neste ano prestou vestibular na Universidade Regional do Cariri (URCA), campus do pimenta, em Crato, vindo a figurar entre os 10 primeiros colocados para o curso de História.
No período da universidade, Nicolau teve a oportunidade
de ter uma ampla formação educacional influenciada pelos valores de sua própria
cultura e da cultura europeia. Com isso, o futuro professor e ativista político
e social conseguiu diferenciar como o pensamento colonial se impôs no meio educacional,
influenciando de forma decisiva o ambiente educacional, vindo a dizer quais os
lugares que pretos e indígenas podiam e deviam ocupar. Foi também no ambiente
universitário que Nicolau teve a oportunidade de se inserir nas lutas e nos
movimentos sociais que lutavam e ainda lutam contra as desigualdades sociais e contra
a discriminação racial.
Seu ativismo veio junto com a função de professor,
onde prestou seleção pública da Secretaria da Educação do Estado Ceará (Seduc)
em 2012, vindo a lecionar História e Filosofia na Escola Estadual Santa Tereza,
em Altaneira. Em 2013 deixa à docência para exercer a função de Assistente
Técnico junto a Secretaria Municipal de Educação de Altaneira. Mas a paixão
pela sala de aula falou mais alto e mais uma vez presta seleção pública e em abril
de 2014 vai lecionar na recém-criada Escola Estadual de Educação Profissional Wellington
Belém de Figueiredo, em Nova Olinda, que atende além de alunos desta, os de
Altaneira e Santana do Cariri em regime de consórcio. Nesta instituição de
ensino, Nicolau exerceu também a função de Diretor de Turma no Curso Técnico em
Redes de Computadores. Seu trabalho voltado principalmente para atender uma
educação para a cidadania, politização e para as relações étnico raciais levou a
escola a ter reconhecimento nacional a partir do projeto “Cultura Afro-brasileira
e Indígena”.
Em 2016, seu trabalho como professor foi mais uma vez interrompido, tendo que deixar a escola em março em virtude de ter logrado êxito em dois concursos públicos, em Nova Olinda e Altaneira. O namoro com a professora Valéria Rodrigues, hoje sua esposa e que conhecera naquela escola, o fez optar por Altaneira, pois esta também tinha passado neste mesmo concurso.
Casado com Valéria, bacharel e licenciada em Biologia, Nicolau tem uma filha, Beatriz. Antes de conhecer sua esposa, ele teve um filho, Saullo.
O ambiente escolar e as universidades sempre são os locais
mais frequentados por Nicolau. Em 2012 resolveu fazer pós-graduação em Docência
do Ensino Superior pela Faculdade Católica do Cariri (FCC), em Crato. Ao
concluir o curso, Nicolau passou a fazer com constância palestras em escolas e em
universidades, tendo como temáticas principais a educação, desigualdades sociais
e raciais, preconceitos, discriminação, políticas afirmativas (como cotas
raciais) e as leis 10.639/2003 e 11.645/2008 que versam sobre a obrigatoriedade
da história e cultura africana e afro-brasileira e história e cultura indígena no
ensino básico.
No dia 25 de junho de 2016, em um encontro em Crato, Nicolau
resolveu integrar sua luta e defesa da cultura e igualdade para as populações afrodescendentes
no Brasil junto ao Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec). Naquela oportunidade,
ele chamou a atenção para a volta de pautas que colocavam em riscos o direito da
juventude pobre e preta deste país, como, por exemplo, a Proposta de Emenda à Constituição
que faz menção a Redução da Maioridade Penal (PEC 171/93), assim como aquela que
tinha como objetivo colocar a margem e censurar as manifestações artísticas e sociais
do Estado do Ceará através de um projeto de lei apresentado pela Deputada
Silvana Oliveira com mandato pelo PMDB que disciplina, no âmbito do estado do Ceará,
manifestações sociais, culturais e/ou de gênero e dá outras providências.
No dia 21 de julho de 2018 a Academia de Letras do
Brasil/Seccional Araripe elegeu Nicolau como seu mais novo integrante para
ocupar a cadeira de número 33. Ele percebeu a Academia como mais um espaço para
buscar um reconhecimento pelo que cotidianamente luta e que externa também em forma de textos,
se referindo as relações étnico-raciais e os efeitos dela resultantes, como as
desigualdades e o racismo. Sua posse ocorreu em 12 de outubro de 2019 em Araripe,
tendo como patrono João Zuba, o mestre da banda cabaçal de Altaneira.
Em 2018, Nicolau prestou concurso público para professor
junto à Secretaria da Educação do Estado Ceará (Seduc), vindo a figurar na lista
dos aprovados. Com a homologação ocorrida em 27 de dezembro de 2019, ele
integrou em agosto de 2021 o quadro de professores efetivos da rede estadual de
ensino.
Além de professor, ativista dos direitos civis e humanos
das populações negras, Nicolau também é blogueiro com atuação neste ambiente desde
abril de 2011. Nunca usou o espaço para práticas de sensacionalismo e de
elitismo para conseguir mais acessos. O único objetivo do blog é estar sempre A
SERVIÇO DA CIDADANIA, EMPODERAMENTO e DIVERSIDADE e, para tanto, sempre buscou
oportunizar os menos favorecidos, os que por algum motivo não tem voz através
da comunicação. O Blog, inclusive, se tornou uma importante ferramenta
pedagógica e coletiva visto que abriu espaço para escritores e escritoras. Atualmente
conta com nove colunistas, vindo a reforçar este compromisso sendo colunista do
site Intelectual Orgânico.
Nicolau é integrante da Rede de Professores Antirracista,
do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação, Gênero e Relações Étnico-Raciais
(NEGRER) e colaborador do Grupo de Estudo e Pesquisa em História Afrodiaspórica
(GEPAFRO). Este dois últimos vinculados a Universidade Regional do Cariri
(URCA).
Sua atuação antirracista em cada espaço que ocupa o fez
renunciar a cadeira de membro na Academia de Letras do Brasil/Seccional
Araripe-CE em 27 de julho de 2023 pela ausência de discussões e ações nesse
sentido. Porém, sua luta tem muito alcance. Tanto que o Poder Legislativo de
Altaneira, no cariri cearense, prestou homenagem a ele concedendo certificado e
medalha de honra ao mérito legislativo em 29 de junho de 2024. A ação partiu do
presidente da casa, o vereador Deza Soares (PT).
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