Após
quase 12 horas, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos
Deputados aprovou na madrugada desta quinta-feira (15), por 31 votos a favor e
20 contra, o parecer do deputado Alceu Moreira (PMDB-RS) pela
constitucionalidade da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287/16, que
trata da reforma da Previdência. O governo teve dificuldades em aprovar a
admissibilidade no colegiado. Durante a reunião, diversos partidos da base
aliada se manifestaram contrários a pontos da proposta.
Com
a aprovação do parecer, a próxima etapa será a criação de uma comissão especial
para debater o mérito da proposta, que estabelece que o trabalhador precisa
atingir a idade mínima de 65 anos e pelo menos 25 anos de contribuição para
poder se aposentar. Neste caso, ele receberá 76% do valor da aposentadoria –
que corresponderá a 51% da média dos salários de contribuição, acrescidos de um
ponto percentual desta média para cada ano de contribuição.
Todos
os trabalhadores ativos entrarão no novo sistema. Aqueles que têm menos de 50
anos (homens) ou 45 anos (mulheres) deverão obedecer às novas regras
integralmente. Quem tem 50 anos ou mais será enquadrado com uma regra
diferente, com tempo adicional para requerer o benefício. Aposentados e aqueles
que completarem os requisitos para pedir o benefício até a aprovação da reforma
não serão afetados porque já têm o direito adquirido.
A
medida é uma das principais propostas do Palácio do Planalto para tentar
reequilibrar as contas públicas. A estimativa é que as mudanças garantam uma
economia de cerca de R$ 740 bilhões em dez anos, entre 2018 e 2027.
Críticas
A
votação da admissibilidade durante a madrugada recebeu fortes críticas de
deputados da oposição. “A madrugada é
péssima conselheira e inimiga da transparência do Parlamento”, disse o
deputado Chico Alencar (Psol-RJ).
A
votação também recebeu críticas de partidos da base aliada do governo. “Eu estou votando sim porque estamos votando
a admissibilidade, mas na comissão especial eu trabalharei para modificar a
proposta”, disse o líder do PSD, Ronaldo Fonseca (DF).
Para
o líder do PSD, Rogerio Rosso (DF) foi um absurdo o que ocorreu na noite dessa
quarta-feira (14). “Essa comissão estava
trabalhando há cinco horas, foi pedido que não se suspendesse os trabalhos,
isso foi uma falha incrível”, disse.
Rosso
disse que o partido, integrante da base aliada, votaria a favor da
admissibilidade, mas que vai defender mudanças no texto. “O que vai valer é a proposta que nós vamos construir, com emendas e
negociações. O que estamos decidindo na CCJ é se queremos ou não discutir a
reforma da Previdência”.
Idade mínima
Os
deputados também criticaram a definição de uma idade mínima para a
aposentadoria. “No Maranhão, a
expectativa de vida é bem próxima dos 65 anos. Além disso, 80% dos aposentados
ganham até um salário mínimo e são trabalhadores pobres, não é justo que se
peça a eles que estendam suas contribuições”, disse o deputado Ivan Valente
(Psol-SP).
O
deputado Rubens Pereira Junior (PCdoB-MA) diz que as pessoas não vão nem poder
se aposentar. “A proposta aumenta ainda a
idade para as pessoas requererem o benefício de prestação continuada da
seguridade social de 65 para 70 anos, o que inviabiliza o acesso a esse
benefício”, disse.
Os
deputados também criticaram o argumento do governo de que a Previdência é
deficitária. O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) argumentou que a
Previdência não é deficitária e que o governo deveria rever, por exemplo, as
isenções tributárias concedidas às empresas. “A proposta retira direitos dos
trabalhadores. É um absurdo o que este governo está propondo. È preciso que se
resolva isso de outra forma, especialmente cobrando os recursos que foram
desviados da conta da Previdência”, disse.
Faria
de Sá também criticou a Desvinculação de Receitas da União (DRU) que, segundo
ele, retira cerca de R$ 120 bilhões por ano do Orçamento da Seguridade Social,
comprometendo recursos da saúde e da Previdência Social. “A DRU vai tirar R$ 1 trilhão da seguridade social até 2023. Depois o
governo vem dizer que existe déficit. Isso é mentira”, disse.
Reunião e acordo
A
sessão foi marcada por forte embate entre deputados da oposição e da base
aliada a respeito do tema. A reunião começou pouco depois das 15h da
quarta-feira e foi suspensa pouco depois das 20h, em função do início das
votações em plenário. Um pouco antes, governo e oposição chegaram a um acordo
que possibilitou a leitura do parecer de Moreira pela admissibilidade da PEC.
Pelo acordo, os partidos contrários à admissibilidade da proposta interromperam
a obstrução dos trabalhos.
Em
troca, o governo se comprometeu, caso o parecer de Moreira fosse aprovado, a
criar e instalar a comissão especial da PEC somente em 2017, após o recesso
parlamentar. A comissão terá o prazo de 40 sessões para apresentar o resultado
final dos seus trabalhos.
O
acordo foi construído em meio as discussões nos bastidores em torno da sucessão
do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Casa. A proposta evidencia
as disputas internas da base aliada em torno da sucessão de Maia e atendeu, em
parte, ao chamado Centrão, bloco informal que reúne cerca de 200 deputados de
vários partidos que dão sustentação ao governo federal.
O
intuito é que a instalação da comissão ocorra após a escolha do novo presidente
da Câmara e dos novos líderes partidários, marcada para 1º de fevereiro, evitando
que Maia use a instalação da comissão para se fortalecer para disputar a
reeleição. Apesar de negar ser candidato, o deputado tem o apoio do Palácio do
Planalto.
Obstrução
Durante
a votação do requerimento, a oposição acusou o governo de descumprir o acordo.
O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) disse que líderes do governo estavam
substituindo membros da comissão para conseguir assegurar o quórum. Em razão
disso, o PT, o Psol e a Rede chegaram a retomar a obstrução, mas depois saíram
com o argumento de que iriam honrar o acordo.
Após
a votação, o líder do governo André Moura (PSC-SE) disse que o governo vai
cumprir com a sua parte e só vai instalar a comissão especial em fevereiro.
A
reunião também foi marcada pela rejeição do requerimento que previa a inclusão
na pauta da reunião da votação da admissibilidade da Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) 227/2016 determinando que, caso o presidente e o vice saiam
dos cargos entre o terceiro ano e os seis meses anteriores ao término do
mandato o novo chefe do Executivo fosse escolhido por eleição direta.
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Alceu Moreira deu parecer pela continuidade da tramitação da PEC da Reforma da Previdência. Foto: Fábio Rodrigues/ABr |
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