De maneira unânime, o Plenário do Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu rejeitar as contas do governo Dilma Rousseff relativas a 2014, em processo que inclui as chamadas pedaladas fiscais – manobra contábil para cumprir metas fiscais. Oito magistrados acompanharam o voto do ministro-relator, Augusto Nardes, que resumiu de 1.400 para nove páginas a análise produzida por 14 técnicos do tribunal.
Ao
todo, 15 irregularidades foram apontadas por técnicos da corte a Nardes, que
acolheu o trabalho na íntegra. O Palácio do Planalto, por meio de nota (leia a
íntegra abaixo), mantém o discurso e diz que órgãos técnicos e jurídicos têm
“plena convicção” de que as contas de 2014 estão em conformidade com a lei.
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Augusto Nardes, relator do processo das contas de Dilma Rousseff no TCU. |
“As
contas não estão em condição de serem aprovadas. Recomendo a sua rejeição pelo
Congresso”, declarou o ministro-relator, para quem “o que se observou foi uma política expansiva de gastos sem
responsabilidade fiscal e sem a devida transparência”.
Ao
comentar decretos presidenciais supostamente indevidos, o ministro apontou
ainda o que seriam excessos do governo em meio a compromissos orçamentários. “Além de não efetuar o contingenciamento
[orçamentário] de R$ 28,5 bilhões, ainda foram liberados R$ 10,1 bilhões”,
emendou o ministro, que sintetizou seu parecer em nove páginas.
Tão
logo foi anunciada a deliberação da corte, uma sessão de fogos de artifício
destoou do ambiente solene do TCU. O festejo foi organizado pelo deputado Paulo
Pereira da Silva (SD), o Paulinho da Força, líder da Força Sindical e um dos
principais opositores ao governo Dilma na Câmara.
Órgão auxiliar
Formalizado
o parecer do TCU, órgão auxiliar do Legislativo, caberá ao Congresso
analisá-lo. O julgado agora segue para Comissão Mista de Orçamento (CMO), que
promoverá nova análise sobre a decisão e, em um prazo de cerca de 80 dias, deve
votar novo relatório. Em seguida, deputados e senadores devem deliberar sobre o
entendimento da CMO, em sessão conjunta ou separada – neste caso, nos moldes
das votações de propostas de emenda à Constituição.
Trata-se
da segunda vez em que o TCU recomendou rejeição de contas presidenciais desde
que foi criado, em 1890. Um parecer prévio foi aprovado pelo tribunal, em 1937,
recomendando a desaprovação das contas do governo Getúlio Vargas.
Elogios
Durante
o julgamento, ministros parabenizaram Nardes por seu relatório e o caráter
técnico do trabalho, como que em desagravo ao fato de o governo ter pedido o
afastamento do magistrado. Em seu voto, o ministro Bruno Dantas, mais novo
integrante da corte, fez menção a recente entrevista concedida por Nardes ao
jornal Valor Econômico, em que o magistrado diz que o TCU faria “história”.
“Vossa excelência não mentiu, ministro Nardes, quando disse que este tribunal
faria história”, observou Dantas.
Nota do planalto
“A decisão hoje tomada pelo Tribunal de
Contas da União constitui um parecer prévio sobre as contas de 2014 do governo
federal. A matéria ainda deverá ser submetida a ampla discussão e a deliberação
do Congresso Nacional.
Os órgãos técnicos e jurídicos do
governo federal têm a plena convicção de que não existem motivos legais para a
rejeição das contas. Além disso, entendem ser indevida a pretensão de
penalização de ações administrativas que visaram a manutenção de programas
sociais fundamentais para o povo brasileiro, tais como Bolsa Família, Minha
Casa Minha vida. Também entendem não ser correto considerar como ilícitas ações
administrativas realizadas em consonância com o que era julgado, à época,
adequado pelo Tribunal de Contas da União.
Os órgãos técnicos e jurídicos do
Executivo continuarão a debater, com absoluta transparência, as questões
tratadas no parecer prévio do Tribunal de Contas, para demonstração da absoluta
legalidade das contas apresentadas.
Secretaria de Comunicação Social da
Presidência da República”
Nardes
O
relator do processo relativo às contas do governo Dilma, Augusto Nardes, é
investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal (PF)
sob suspeita de ter recebido R$ 1,65 milhão de uma empresa que estaria
envolvida com fraudes fiscais.
De
acordo com a apuração, Nardes foi sócio até 2005, junto com seu sobrinho Carlos
Juliano, da empresa Planalto Soluções e Negócios, alvo da Operação Zelotes. A
Planalto teria recebido pagamentos da SGR Consultoria, suspeita de corromper
membros do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), órgão
responsável por julgar recursos contra multas aplicadas pela Receita Federal.
No
total, os pagamentos chegaram a aproximadamente R$ 2,6 milhões entre dezembro
de 2011 e janeiro de 2012. Nesse período, Nardes era ministro do TCU e havia se
desligado oficialmente da empresa. A investigação aponta que há citações a
Nardes em mensagens telefônicas da secretária da SGR, onde ele seria
identificado como “Tio”, tendo recebido R$ 1,65 milhão. Outros R$ 906 mil foram
direcionados para “Ju”, que a investigação acredita ser o sobrinho do ministro.
Segundo
a apuração do MPF e da PF, Nardes pode ter recebido o pagamento por trabalhar a
aproximação da SGR do grupo gaúcho de comunicação RBS, que tinha pendências no
Carf. O ministro foi deputado federal pelo PP do Rio Grande do Sul entre 1995 e
2005.
Nardes
diz desconhecer os pagamentos. Como membro do TCU, ele só pode ser investigado
e processado com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF).
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