2 de outubro de 2024

"A educação antirracista é a que queremos", diz Nilma Lino Gomes

 

Estudante Giovanna, da EEMTI Padre Luís Filgueiras em oficina sobre grafismos indígenas. (FOTO | Prof. Nicolau Neto).

Antirracismo. Comunidade. Igualdade. Território. Coletivo. O que essas palavras têm em comum? A ex-ministra do então Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Nilma Lino Gomes, explica: todas fazem parte do movimento negro educador. Professora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e autora do livro “O movimento negro educador: Saberes construídos nas lutas por emancipação” (Editora Vozes), Nilma abriu os debates do 3º Encontro Diálogos Antirracistas: educação, democracia e equidade, nesta quarta-feira (25), em São Paulo.

Organizado pelo Ceert (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades), o evento acontece no Sesc Pinheiros, na capital paulista. Na mesa inicial, intitulada “Raízes de uma educação antirracista: construções coletivas, pedagógicas e de gestão escolar”, Nilma reforçou que a superação do racismo deve ser um compromisso de toda a sociedade. 

“Durante muito tempo, pensou-se que era um dever da população negra. Mas é de toda a sociedade. No caso da escola, é de todas e de todos que lá atuam, inclusive de quem está na gestão”, afirma. “O movimento negro educador adverte que a educação antirracista deve ser uma das competências de qualquer profissional que assuma a gestão, a coordenação básica e a equipe técnica. Afinal, não se trata de algo paralelo à educação democrática. A educação antirracista é a educação que queremos, e ela só se realiza em um chão democrático.”

Equidade e participação

Nilma adverte, porém, que trazer o antirracismo para o centro das ações escolares ainda implica enfrentar ignorâncias e incompreensões, mas que não se pode fugir do tema. “O mito da democracia racial nos faz jogar o racismo para debaixo do tapete pedagógico, um lugar onde a escola e a universidade tentam esconder questões que não querem enfrentar. Debaixo desse tapete também temos questões de gênero e diversidade sexual e o combate à violência religiosa”. 

De acordo com a professora, é preciso levantar esse tapete e lidar com as questões que permeiam as instituições de ensino. Nilma ressalta que o movimento negro educador contribui neste sentido por ter como um de seus pilares a ideia de que a escola deve ser um espaço de acolhimento, escuta, orientação e mediação. “Não se trata apenas sobre gestão democrática, e também sobre equidade. A escola precisa reconhecer as desigualdades presentes na sociedade e estar preparada para lidar com elas”, disse Nilma.

“Como vamos acolher uma pessoa que, devido à sua posição social ou raça, pode ter passado por situações de sofrimento e constrangimento? A escola deve ser um espaço onde essas pessoas se sintam acolhidas com seu pertencimento étnico-racial, valorizadas por quem são e pelo que representam”, reforça.

A formação continuada dos gestores e funcionários, portanto, é fundamental para garantir que o respeito e o reconhecimento da diversidade racial comecem desde a entrada da escola, com a equipe da portaria, e se estendam por todo o ambiente escolar. 

Educação antirracista: um pouco de história

Contudo, muitas práticas cotidianas nas escolas estão, por vezes, fora do alcance das políticas institucionais e da supervisão dos gestores. Apelidos racistas e situações de discriminação, especialmente em espaços informais, como recreios e corredores, foram mencionados por Nilma como barreiras a serem enfrentadas pelas lideranças.

Ela também reforça ser fundamental repensar como envolver as famílias no ambiente educacional. “Muitas vezes, as famílias são chamadas apenas para tratar de problemas. Além disso, os horários das reuniões raramente consideram a realidade das famílias trabalhadoras, o que dificulta a participação.” Para melhorar esse cenário, é preciso que a escola adote uma perspectiva que leve em conta diferenças, garantindo que todos sejam ouvidos.

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Com informações do Povir

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