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(FOTO/ Divulgação/ Brasil Eco/ Fashion Week ). |
Linguagem lúdica para reconstruir a história não contada nos livros e representar a pluralidade de códigos culturais dos povos indígenas. Esses foram os fatores que motivaram a ativista, designer e empresária We’e’ena Tikuna a criar uma linha de bonecas em homenagem à sua aldeia de origem, a Umariaçu, no Amazonas, território da nação Tikuna. Com produção de três a cinco dias, os grafismos, o algodão cru e a fibra vegetal retirada do pé de Tururi - espécie local e milenar - são os materiais que dão vida às pequenas. Formada em artes plásticas no Instituto Dirson Costa de Arte e Cultura do Amazonas e com 12 de suas obras compondo o acervo permanente da exposição no Museu Histórico de Manaus, a amazonense usa do consumo consciente para informar.
Em
entrevista para a Alma Preta Jornalismo, We’e’ena, que na língua Tikuna
significa “a onça que nada para o outro
lado do rio”, conta que o desejo de criar as miniaturas surgiu após um
convite feito em 2019 para desfilar outros produtos da sua marca, que leva seu
nome, como peças de vestuário no Brasil Eco Fashion Week. Com a identificação
expressiva dos espectadores e consumidores pela sua arte, a designer decidiu
democratizar o acesso e atingir todas as idades, trazendo para cada look da
passarela, uma boneca.
Dona da primeira marca de moda contemporânea
projetada inteiramente por uma indígena nativa, sem intermediários, We’e’ena
conta que seu intuito sempre foi informar sobre a sua origem através das suas
expressões artísticas. Com as miniaturas não foi diferente. “Desde o princípio, trabalhei com grafismos
sagrados do meu povo, com estamparia colorida e com materiais que
representassem o nosso dia a dia. A intenção sempre foi reafirmar que o
consumidor não estava ali levando apenas uma boneca de pano, mas, sim, uma
história, que vai contra o preconceito e o não conhecimento da verdadeira
história do meu povo”, conta.
A
preocupação em educar as novas gerações por meio dos brinquedos acessa um lugar
íntimo da memória da idealizadora. Natural do povo Tikuna, We’e’ena foi para
Manaus ainda criança pelo propósito dos pais de educar seis 6 filhos. Em sua
chegada na escola, ela relata que sofreu racismo e foi humilhada por não falar
português. “Foi uma situação difícil
quando ainda era jovem. Tive que repetir o colegial várias vezes por não
entender o português. Até os 12 anos, só
tinha contato com a língua nativa Tikuna, minha língua-mãe. Isso foi motivo de
preconceito na escola, mas foi quando entendi que ninguém nasce com o pré julgamento
e, com conhecimento, você passa a respeitar o outro e suas particularidades”,
pontua.
A
chave de virada foi buscar dar informação e meios de conquistar crianças e
jovens pela educação de base. Hoje, a marca de We’e’ena pretende reeducar e
contar a verdadeira história do seu povo, aquela que não está nos livros como
forma de reafirmar a cultura indígena e sua importância para a formação e
entendimento de quem é o povo brasileiro. “Até
nas visitas que fazia nas escolas, quando paramentada com minhas roupas
tradicionais, as crianças fugiam, choravam e eu não conseguia compreender as
reações. Depois entendi que aquilo era resultado da associação da figura
passada pelos livros, uma visão que coloca o indígena como alguém que flecha,
que mata e que assusta. Um retrato errado de quem somos”, denuncia a
empresária.
We’e’ena
traz uma pluralidade de modelos de bonecas em miniatura com seu próprio nome,
mas com roupas e formas diferentes. A ideia central é não reproduzir o que já
existe no mercado, nem na representação do povo de sua origem, nem na estética
como um todo. “As bonecas We’e’ena Tikuna
também chegam como forma de representar o corpo real, sem cintura fina, sem
traços lidos como padrões da sociedade. Quis trazer com elas o que é ser nativa
e as possibilidades que um corpo brasileiro pode ter. Tudo para gerar
identificação e exercitar um olhar de amor a quem somos desde pequenos. Uma
tentativa de exercício que fala, também, sobre aceitação”, explica.
Sobre
o futuro de suas produções, uma nova roupagem será preparada para o próximo
período de produção, marcado para o Dia das Crianças, em outubro. “Pretendo colocar mais pinturas nos rostos
das bonecas para contarem ainda mais sobre os significados dos traços, do
processo de criação e da nossa história. Espero que continue sendo um meio de
sensibilizar os pais para o repasse de conhecimento aos seus filhos. Com
informação, conseguirei concretizar o desejo de que meu povo, cada vez mais,
seja respeitado”, finaliza We’e’ena.
Mesmo
com o estoque das bonecas Tikuna esgotado, outras peças de produção autoral
estão disponíveis no link. Para a próxima remessa, um calendário será
disponibilizado e os pedidos poderão ser feitos on-line e com entrega para todo
o Brasil. Mais informações podem ser encontradas no Instagram da marca.
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Com
informações do Alma Preta Jornalismo.
Estou encantada, com a atitude e com a beleza da criação. Adoraria ter uma, tenho uma boneca de pano de um projeto na escola e a tenho comigo para contar histórias,pois sou professora de história. Parabéns .
ResponderExcluirEstou encantada, com a atitude e com a beleza da criação. Adoraria ter uma, tenho uma boneca de pano de um projeto na escola e a tenho comigo para contar histórias,pois sou professora de história. Parabéns .
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