![]() |
Depois da insônia das ruas, a tramoia da direita e do capital |
Os
véus foram removidos; as máscaras que cobriam as reais intenções da mídia e da
direita foram sacadas, e o jogo conspirativo finalmente está desnudo. Para a
direita, as manifestações multitudinárias que deixaram as ruas brasileiras
insones durante o mês de junho já cumpriram seu papel. Doravante, as ruas não
precisam e, sobretudo, não devem ser ouvidas, porque atingiram o objetivo de
“derreter Dilma”.
A
Presidenta havia captado o essencial dos acontecimentos: a necessidade de
reformar a política. O atual sistema político, concebido no contexto da
transição conservadora da ditadura cívico-militar para a democracia
liberal-burguesa, foi pactuado há 25 anos entre as distintas frações da classe
dominante na Constituição de 1988 para blindar o país do “risco” de
transformações democrático-populares radicais.
Dilma
anunciou a proposta de decidir por plebiscito se a reforma seria realizada por
uma Assembléia Nacional Constituinte [ANC] específica. Menos de 24 horas
depois, por razões não esclarecidas, recuou. O plebiscito passaria a ser,
então, para definir o conteúdo da reforma a ser elaborada pelo Congresso que,
sabe-se, é eleito pelo poder econômico e tem compromisso com a manutenção do
sistema, não com sua mudança.
O
combate à proposta de instalação de uma ANC não partiu somente da oposição
[PSDB, DEM, PPS, Ministros do STF e mídia], mas sofreu forte contrariedade do
próprio Vice-Presidente da República Michel Temer, do PMDB.
Derrotada
a tese da ANC, em seguida veio o combate ao plebiscito por todos os lados. O
Ministro tucano no STF Gilmar Mendes considerou a proposta “temerária” e “de
difícil exequibilidade” - o TSE confirmou a militância pela tese dele. Merval
Pereira, do jornal O Globo, chama de “tentativa de golpe antidemocrático” que
faz do país “um arremedo de república bolivariana”. Michel Temer, após
oficializar a entrega da proposta aos Presidentes da Câmara dos Deputados e do
Senado, nas entrelinhas de sua declaração, é como se dissesse: “todo o Poder ao
Henrique Alves e ao Renan Calheiros!”. Leia-se: são oceânicas as chances do plebiscito
desandar como maionese.
Para
o governo, essa conjuntura se complica ainda mais pela variante econômica. As
dificuldades políticas se cruzam com as complicações da economia brasileira
derivadas da crise mundial. Depois dos tsunamis das ruas, são as placas
tectônicas do capital que entram em frenesi.
A
conexão entre as dificuldades econômicas e os impasses políticos está feita.
Com sutileza, veículos de comunicação passaram a publicar pesquisas de opinião
que instrumentam a narrativa para debilitar Dilma também na gestão da economia.
O capital financeiro internacional é o novo ator que sai do subterrâneo para se
juntar abertamente à farra conspirativa promovida pela direita e seus
monopólios midiáticos.
A
essas alturas, no debate agendado pela mídia, o que menos conta é racionalidade
e honestidade política e histórica. Não importa invocar a maior resiliência do
Brasil ante uma das piores crises do capitalismo; como também não faz diferença
lembrar os colapsos do Brasil na era neoliberal de FHC em crises infinitamente
menos graves.
A
evolução complicada da conjuntura poderá ser destrutiva. Há uma grave urgência política
no ar. A disputa real que se trava nesse momento é pelo destino da sétima
economia mundial e pelo direcionamento de suas fantásticas riquezas para a
orgia financeira neoliberal. Os atores da direita estão bem posicionados
institucionalmente e politicamente. Ao apelarem pela preservação do
establishment e do status quo da classe dominante, conseguem selar alianças com
setores da coalizão de governo do PT.
A
possibilidade de reversão das tendências está nas ruas, se soubermos canalizar
sua enorme energia mobilizadora. Por que não instalar em todas as cidades do
país aulas públicas, espaços de deliberação pública e de participação direta
para construir com o povo propostas sobre a realidade nacional, o plebiscito, o
sistema político, a taxação das grandes fortunas e do capital, a
progressividade tributária, a pluralidade dos meios de comunicação, aborto,
união homoafetiva, sustentabilidade social, ambiental e cultural, reforma
urbana, reforma republicana do Estado e tantas outras demandas históricas do
povo brasileiro, para assim apoiar e influir nas políticas do governo Dilma?
O
PT e o conjunto da esquerda partidária e social do Brasil devem se esforçar
para construir uma plataforma comum capaz de animar vigorosas mobilizações de
rua em defesa das mudanças em andamento, mas especialmente na exigência das
transformações democrático-populares represadas pelo enredamento em alianças
pragmáticas.
Leia Também:
Via
Carta Maior
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!