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Estudantes da EEMTI Padre Luís Filgueira durante ação de ressignificação do 25 de março em 2024. (FOTO | Professor Nicolau Neto). |
Por Nicolau Neto, editor
Em 9 de janeiro deste ano a lei 10.639, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/96) que tornou obrigatório o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nos currículos das escolas públicas e privadas do país, completou 22 anos. Apesar de duas décadas a educação para as relações étnico-raciais ainda não é realidade em mais 70% dos municípios brasileiros.
Considerada
uma das mais importantes conquistas do movimento negro e uma referência para a
construção de uma educação antirracista e que busque refletir a diversidade
histórica e cultural do país, a lei 10.639 vem sendo constantemente acompanhada
e revisitada por profissionais que desejam ver sua implementação em todas as
escolas. No entanto, apesar de alguns avanços, os desafios ainda são enormes,
sendo o principal deles o racismo estrutural.
Pesquisa
feita em 2022 pelo Instituto Alana e Geledés Instituto da Mulher Negra
constatou que sete em cada dez secretarias municipais de educação não
realizaram nenhuma ação ou poucas ações para implementação do ensino da
história e da cultura afro-brasileira nas escolas. Segundo Beatriz Benedito, analista
de políticas públicas do Instituto Alana, “os municípios alegam como
principais desafios para implementação da lei a ausência de apoio de outros
entes governamentais e a falta de conhecimento de como aplicar a legislação. Há
indicação do baixo engajamento ou a resistência de profissionais a esse tema.
Temos algumas frentes que a gente pode incidir para implementação da lei.”
Isso significa dizer que falta compromisso político
institucional (secretarias de educação e gestão das escolas) para que a lei
seja efetivamente cumprida. O dado mais recente que evidencia isso foi a 1ª mostra
de boas práticas e recursos pedagógicos – leis nº. 10.639/03 e nº. 11.645/08,
onde alguns profissionais da educação básica expuseram suas ações em sala de
aula a respeito da educação para as relações étnico-raciais (ERER) durante o
XVI Congresso Internacional Artefatos da Cultura Negra. Como destacado neste
blog, todos aqueles e aquelas que expuseram seus trabalhos já integram direta
ou indiretamente o núcleo do artefatos.
Houve uma campanha de divulgação junto as redes
estadual e municipal sobre a mostra. Mesmo assim, não houve participação efetiva dessas instituições. Essa realidade é a que se verifica nas escolas. E isso é fruto de um
trabalho individual, como também foi mencionado nas apresentações dos artigos
científicos na 16ª edição do Artefatos.
É preciso destacar que um dos grandes desafios para
que a ERER seja uma realidade nas escolas é torna-la um compromisso coletivo e
que envolva toda a comunidade escolar. A
educação antirracista é um dever político e ético da escola e não individual. É
um trabalho que passa pelo compromisso embrionário das gestões escolares
buscando ações cotidianas, como formação docente adequada junto as credes e secretaria
estadual de educação; reformulação dos currículos e de práticas pedagógicas, do
regimento interno e do PPP de modo que se adequem as leis vigentes, além de disponibilizar
recursos financeiros para a execução de atividades com essa finalidade.
No entanto, note-se também que a falta de engajamento docente não ocorre apenas falta de formação, mas também porque não são encorajados a isso. Não se pode continuar a fechar os olhos e relegar esse trabalho a apenas a um (a) profissional. Não se pode, de igual modo, continuar a não criar as mínimas condições estruturais e de materiais pedagógicos que torne o tema um caso institucional para que de fato a diversidade e a pluralidade cultural do país seja valorizada.
Excelente matéria. Marca do blogueiro em denunciar as negligências institucionais para com a causa do racismo
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