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30 de junho de 2025

O velho câmera

 

Alexandre Lucas. (FOTO | Acervo pessoal).

Por Alexandre Lucas, Colunista

Buscava respostas para as preocupações como se a madrugada respondesse alguma coisa. Os cachorros latiam para cada mexido de gente. O velho por trás da porta segurava as suas incertezas e tentava colher alguma novidade, um simples bom dia para conforta a sua solidão.

O homem corcunda passa cedo para ir ao mercado, junta lavagem para os porcos. A bodega abre as seis horas. Os cachorros correm. O homem ensaca frangos dentro da D20. A mulher passa para comprar o pão fiado, paga quando puder.

O velho por trás da porta monitora o movimento da rua, o homem câmera. Os pombos buscam os milhos que restaram, caminham como velhas mancas. A senhora que acorda cedo espana a parede para tentar escutar melhor as conversas.

O velho por trás da porta chora. Já não tem mãe, nem pai. É segunda-feira e não se tem nenhum recomeço. O ex-carnavalesco coloca comida para os gatos, desistiu do carnaval.

O velho por trás da porta observa tudo. O tumulto e o silêncio se escondem nas oito décadas da câmera do velho.

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