![]() |
Alexandre Lucas. (FOTO/ Reprodução). |
Por Alexandre Lucas, Colunista
Uma
onda festiva, harmoniosa, individualista, cheia de boas intenções e carregada
de muita convicção acredita em uma tal revolução da consciência. Revolução
cultural gestada de forma espontânea e a partir da autoconsciência. Baseada nas
ideias “eu faço a minha parte” e de que a revolução se dará a partir do momento
em que cada pessoa “tome consciência” do seu papel no processo civilizatório.
Essas ideias preencheram o pensamento dos socialistas utópicos, mas não é coisa
do passado, se faz presente no discurso contemporâneo, tanto do senso comum
como de concepções mais elaboradas.
Essa
tal revolução da consciência tem aconchego tanto na direita como na esquerda e
nos ditos e enganosos movimentos livres e independentes. O que caracteriza a
grosso modo esse pensamento é uma concepção que não leva em consideração a
perspectiva histórica-social e as condições objetivas da sociedade. De feição
idealista, ou seja, se acredita que apenas e unicamente as ideias podem fazer a
transformação social. É como definir a vitória de um time de futebol sem
considerar o time adversário ou escrever um romance épico sem conhecer a
história.
Essa
concepção coloca em disputa para a classe trabalhadora caminhos de emancipação
humana, onde o seu percurso e chegada se diferem e se antagonizam. A esquerda enfrenta no seu seio um processo
de alastramento e confusão com essas ideias, que tem ganhado capilaridade nos
movimentos sociais e enfraquecido a luta da classe trabalhadora pela sua
emancipação, a partir de uma compreensão histórica e social, que considera as
condições objetivas da sociedade e a relação capital e trabalho, como fatores
estruturantes das relações de exploração, opressão e desigualdade social.
Uma
esquerda mística e carregada de idealismo pode atrasar a acumulação de forças
da classe trabalhadora, como também uma esquerda sectária que não consegue
enxergar para além da dimensão de uma Kombi ou que ainda faz análises
conjunturais fora do tempo presente.
A
tal “revolução cultural” se encaixa como uma compressão micro de sociedade,
como narrativa de grupos e ações isoladas, como um esquartejamento espacial
para acomodação de grupos, pois não consegue dar conta de um projeto macro de
sociedade com arquitetura e engenharia social de nação que se processa na vida
real permeada de condições objetivas e de suas contradições.
Se
cada um fizer sua parte não é suficiente, é paliativo, é ilusório insistir
nesta tese. A revolução cultural se faz concomitantemente com a inversão das
estruturas de poder. O que nos leva a crer que não se faz uma coisa
independente da outra. A mudança de consciência faz parte da mudança das
relações econômicas de poder, uma interfere na outra de forma dialética.
Organizar-se com a classe trabalhadora para desestruturar o poder, tomá-lo de assalto e ao mesmo tempo perceber a revolução cultural no curso deste processo é abrir alas para a construção de uma sociedade de novo tipo, onde a felicidade não esteja à venda no shopping center e a esperança de construir mudanças na estrutura social e econômica estejam sempre vinculadas a realidade concreta.
Artigo primoroso. Parabéns ao articulista.
ResponderExcluir