![]() |
Professora usa cultura africana para ensinar matemática. (Foto: Reprodução/ Educação Integral). |
Ao
imaginar a calculadora mais antiga do mundo, é provável que pensemos no início
dos computadores, com dimensões enormes, ou lembremos do ábaco, o instrumento
de cálculo composto por bastões e contas. Mas a primeira ferramenta para
calcular de que se tem notícia é o osso de Ishango, desenvolvido por africanos
20 mil anos antes de Cristo, a partir do fêmur de um macaco babuíno.
“Esse
é o tipo de informação que raramente temos na escola, porque só estudamos os
matemáticos de sempre, quando desde muito antes dos árabes e gregos, os
africanos, além dos egípcios, já dominavam os conhecimentos que estudamos
hoje”, diz Andreia Viliczinski, professora que tomou para si a iniciativa de
ensinar matemática por meio da cultura e da história africana, com o projeto
que denominou “África, berço da matemática”.
"A etnomatemática propõe ensinar matemática levando em consideração outras culturas que também produzirem e produzem conhecimento, de variadas maneiras, mas que são frequentemente apagadas das narrativas da sociedade e da escola. A afroetnomatemática, por sua vez, apresenta a matemática a partir da cultura africana. "
As
atividades para ensinar matemática por meio de projetos envolvendo a cultura
africana tiveram início em 2016, na Escola Estadual de Ensino Médio Governador
Celso Ramos, em Joinville (SC), quando Andreia pesquisou sobre etnomatemática e
apresentou a ideia para os alunos, que se entusiasmaram com o assunto.
“Eu
não conhecia a história dos negros no Brasil, só sabia o que aprendi no Ensino
Básico. Pesquisando, passei a compreender as questões das relações raciais no
País e perceber nas salas de aula e na comunidade muito preconceito e racismo.
Mas durante o projeto notei também que alguns alunos se sentiram representados,
se identificaram”, comenta a professora.
Conhecendo
a contribuição africana
O
início do projeto consistiu em assistir ao filme Besouro (2009), que traz parte
da memória dos afrodescendentes no Brasil, ao relatar a história da capoeira e
das religiões desse povo. Depois, a professora dividiu os alunos em turmas para
realizarem, durante um mês, pesquisas sobre matemática e cultura africana.
Ao
final do período, os alunos fizeram apresentações sobre o que descobriram.
Estas primeiras atividades introduziram o tema, permitindo que os alunos
fizessem suas primeiras descobertas e as compartilhassem com os colegas.
A matemática dos búzios e outros
elementos
Em
seguida, começaram os estudos matemáticos propriamente ditos: números primos,
raciocínio lógico, geometria, ângulos, e probabilidade, envolvendo a
contribuição de africanos para a ciência e sua cultura.
Andreia
usou os gráficos de Sona – representações simbólicas e narrativas da África
central – para explicar análise combinatória e os búzios para tratar
probabilidade
Andreia
conta que usou os gráficos de Sona – representações simbólicas e narrativas da
África central desenhadas na areia – para explicar análise combinatória e os
búzios para ensinar probabilidade, já que eles, assim como a moeda, também têm
dois lados. “Eu propunha exercícios como: qual a probabilidade de, em um jogo
com quatro búzios, dois caírem abertos e dois fechados?”, conta.
Com
o osso de Ishango, estudaram números primos e sequências matemáticas, fazendo
reproduções da calculadora primitiva em argila, aprendendo que ela foi também o
primeiro calendário lunar. Ao mesmo tempo, discutia com os jovens a história de
como os búzios vieram para o Brasil, os tipos de jogos, quais são as religiões
africanas e afro-brasileiras que os utilizam e os seus significados.
O
osso de Ishango, encontrado na atual região do Congo, possui três faces, com
riscos em cada uma delas, representando sequências numéricas.
Para
estudar fractais – figuras da geometria não-Euclidiana –, fizeram máscaras
africanas e estudaram seus padrões geométricos. O exercício foi ponte também
para abordar o uso cultural dessas máscaras, os rituais nos quais são
utilizadas, os diversos significados de suas pinturas, bem como a configuração
de algumas aldeias, que reproduzem fractais por meio da disposição de seus
elementos.
Valorização cultural e alunos
engajados
“Os alunos se interessaram, se envolveram, e
trouxeram a questão da música africana, que eu aproveitei para falar não só da
música nos países do continente africano, mas também sobre o som, que nada mais
é do que uma onda. Então fomos para trigonometria, amplitude, frequência”,
conta Andreia.
Para
finalizar o projeto, trabalharam dados do IBGE sobre as violências contra as
mulheres negras, analisando sua incidência, atores, tipos de violência, entre
outros pontos. “É nosso dever discutir as
questões étnico-raciais e uma das maneiras é mostrar toda a contribuição dos
negros construtores do conhecimento, porque eles têm um papel muito grande para
a comunidade científica”, finaliza a professora. (Com informações do Educação Integral).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!