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| A professora língua inglesa Aretha Soyombo. (FOTO | Acervo pessoal). |
Celebrado em 15 de outubro, o Dia do Professor reforça a importância da educação como direito universal e da função dos educadores na formação de cidadãos.
Neste sentido, também se destaca o papel fundamental dos professores negros, que transformam a realidade e contribuem para a construção de uma educação mais ampla e diversa.
A Alma Preta conversou com a professora de inglês Aretha Soyombo, formada em Letras com ênfase em Literatura pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A educadora compartilhou suas experiências como profissional da educação no país, abordando temas como a desvalorização da profissão e a representatividade no ensino.
Atualmente, Soyombo dá aulas particulares de inglês, mas durante sua trajetória em sala de aula viveu momentos significativos. Ela relembra a experiência de ter trabalhado em uma escola com um diretor negro e como sua presença impactou outros estudantes negros.
“Teve uma aluna, uma vez, que falou que se sentiu mais segura em um colégio novo quando me viu entrando na sala de aula. Isso é muito significativo, porque eu não tive professoras negras é eu acho que ter um professor negro, que tem noção das causas raciais, pode fazer com que um aluno negro se sinta acolhido”, conta.
Aretha também reforça a importância de professores negros em sala de aula como forma de identificação e pertencimento para estudantes negros, especialmente em escolas particulares, onde sua presença contribui para desconstruir estereótipos. “É uma forma de desconstruir alguns pensamentos e ajudar a acolher e proteger alunos racializados que estão naquele espaço”, acrescenta.
A ausência de professores negros desde a educação básica até o ensino superior pode refletir a dificuldade em alcançar posições de liderança acadêmica e compromete o senso de pertencimento dos alunos.
Apenas um em cada cinco professores universitários em exercício se declara preto ou pardo (21%), proporção muito inferior aos 55,5% de negros na população brasileira, segundo o Censo Demográfico de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os dados são do Censo da Educação Superior de 2023, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Desvalorização da profissão
Diante do cenário atual, Aretha chama atenção para a desvalorização do professor na educação brasileira. Para ela, o problema vai além da baixa remuneração.
“A valorização da educação como um todo é essencial. Acho que a desvalorização do professor vem do fato de que as pessoas não estão valorizando a educação. E falo de todo tipo de educação, não só a formal. Existe, em parte da elite, uma ideia proposital de desvalorização da educação. Pessoas mais marginalizadas acabam caindo nesse discurso de coach, de não valorizar o professor, de não valorizar quem ensina de fato”, aponta.
Ela ainda classifica o impacto desse processo como algo intencional, um plano também presente na área da educação. “Essa desvalorização da educação e, consequentemente, do professor é um plano. A gente precisa entender que a educação é importante, de todos os tipos. Se educar é se emancipar”, explica.
A identificação e o estudo da língua inglesa
Apesar de ter cursado Letras, Aretha não pensava em ser professora. Ela passou por áreas como tradução e revisão antes de se encontrar na licenciatura. A paixão pelo contato com os alunos e a vontade de ensinar a motivaram a seguir na docência.
O interesse pela língua inglesa começou cedo, por influência familiar. “Comecei a estudar inglês com 12 anos, para me comunicar com a família do meu pai. Cresci vendo meu pai e minhas primas falando inglês em casa”, relembra.
Hoje, a maioria de seus alunos é composta por mulheres e homens negros. Aretha enfatiza a construção de um ambiente acolhedor e encorajador, especialmente para quem tem traumas relacionados ao aprendizado da língua.
“No Brasil, muita gente tem uma trava emocional com o inglês. Já entrevistei pessoas com excelente formação e currículo, mas que foram excluídas de processos seletivos por não falarem inglês. Há um sentimento de que inglês é algo somente para o outro. Muitos alunos chegam dizendo que todo mundo consegue, menos eles. Quando se identificam comigo, a partir da raça, se sentem mais confortáveis para errar e, assim, mais confortáveis para aprender. E aí, aprendem”, conta.
A paixão pela literatura e pela língua inglesa também levou a educadora a outros espaços. Em 2022 participou de um TEDx com a palestra “A literatura como ponte para novas perspectivas”, onde falou sobre novas culturas e narrativas a partir de uma visão afrocentrada.
Nas redes sociais, a educadora compartilha experiências literárias, com destaque para obras de autoras africanas, como forma de aproximar a literatura da juventude negra.
Com 11 anos de atuação na educação, a visibilidade conquistada por Aretha em sua profissão também tem inspirado outras pessoas, contribuindo para desconstruir a imagem tradicional do professor na sociedade.
“Recebo mensagens de meninas que estão começando o curso de Letras na UFMG, dizendo: ‘Aretha, eu entrei na Letras agora e conheço você’. Isso é importante para desmistificar a ideia do que é ser professor. Muitas vezes, quando se pensa em professor, vem uma imagem engessada. Eu fujo um pouco dessa imagem, mas não porque sou ‘diferente’, e sim porque sou uma boa profissional que gosta do que faz. Tenho amigos professores que têm boa qualidade de vida e conseguem fazer coisas legais, e tudo que conquistei também veio da profissão.”
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Publicado originalmente na Alma Preta.

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