![]() |
Estudantes da Escola Padre Luís Filgueiras na Caminhada Antirracista. (FOTO | Lucélia Muniz). |
A Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Padre Luís Filgueiras, em Nova Olinda-CE, realizou nesta segunda-feira, 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, um conjunto de ações desenvolvidas em sala de aula durante o ano letivo 2023 e oriundas do projeto “aCORde uma voz”, da área de Ciências Humanas.
Com
o tema “20 anos da lei 10.639/2003 – educação, resistência e equidade racial”,
o evento foi aberto pela manhã com uma grande “caminhada antirracista” pela valorização da história e cultura dos
povos negros e originários do Brasil, vindo a percorrer as principais ruas da
cidade.
O objetivo
com a caminhada é sair dos quatro muros da escola e das quatro paredes da sala
de aula e fazer a aula nas ruas. A ideia era estabelecer um diálogo com a
população e com as outras escolas do município de Nova Olinda para que juntos, refletissem
sobre a importância de contar outra história dos povos negros e dos povos
originários diferente desta se percebe nos livros. Queremos trazer uma história
não de quem dominou e escravizou, mas a história de quem lutou, resistiu e que
contribuiu e contribui para a formação do nosso país. Queremos contar uma
historia do povo negro e dos povos indígenas na visão deles próprios.
Durante
todo o percurso que teve paradas estratégicas, como em frente as escolas da
rede municipal, Padre Cristiano Coelho e Avelino Feitosa e em frente à sede da
Prefeitura, o público acompanhou dados de pesquisas realizadas com estudantes e
educadoras/es, como a que tratou sobre o quantitativo de pretos, pardos e
indígenas. 76,5% dos estudantes são negros e 1,8% se reconhecem como indígena.
Os dados também mostraram que 67,6% das professoras e professores são negros e
5,9 dos professores são indígenas.
![]() |
Estudantes Grazielly e Victor com o banner dos dados étnico-raciais da Escola Padre Luís Filgueiras. (FOTO | Lucélia Muniz). |
Blocos
divididos por temáticas também fizeram parte da caminhada, a exemplo do “Identidade”, “ancestralidade”, onde as religiosidades e a capoeira deram a
tom. No “personalidades”, a escola homenageou nomes pertencentes as etnias
dos povos originário e povos negros. “Quantos homens e mulheres negras e
indígenas aparecem nos livros que você estuda? Quantas lideranças; quantos
escritores e escritoras; quantos reis e rainhas, caciques e pajés aparecem nas
suas aulas? Foram alguns dos questionamentos feitos. As indígenas cearenses Tereza Kariri e Merremii Jaguaribaras e indígenas reconhecidos por suas lideranças
até fora do Brasil, como Raoni, Ailton Krenak e Sônia Guajajara estiveram nesse bloco. Quanto a negros/as, Abdias do Nascimento, Oliveira Silveira, Maria Felipa, Dandara e
a cearene Tia Simoa marcaram
presença entre estudantes.
Pensar
os povos indígenas somente nas aldeias é uma visão do passado. Os povos
indígenas são muitos por aqui e possuem diferenças entre si. Eles estão em
todos as partes do Brasil e não somente nas aldeias. O lugar onde vivem não é
apenas uma moradia, mas um lugar território que precisa ser protegido. E eles
estão em todos os lugares e ocupando várias posições. São médicas, advogados,
professoras, lideranças políticas, escritores e escritoras. O bloco dos povos
originários – “Afirmação” e o bloco “artefatos indígenas” disseram muito sobre
isso.
Quem
foi às ruas de Nova Olinda na manhã de segunda também acompanharam o reisado da
mestra Angelina Umbelina. Nova Olinda é uma terra indígena e uma das tradições
que demonstra isso é o reisado. Mesmo sabendo que a origem da folia dos reis
tem base portuguesa e espanhola, no Brasil ela chegou durante a colonização e
há pesquisadores que afirmam que a folia dos reis foi usada para catequisar os
povos indígenas. O Fato é esta manifestação cultural vem sendo sustentada e é
um dos elementos da identidade indígena. Dona Angelina Umbelina, a mestra
Angelina, fundadora do Grupo de Danças Tradicionais e que ao longo dos anos vem
atuando para fortalecer essa cultura em solo novo-olindense, realizou
apresentações do grupo junto ao grupo jovem.
Tarde
![]() |
Professor Mota em palestra para estudantes da Escola Padre Luís Filgueiras. (FOTO | Lucélia Muniz). |
No
período vespertino, estudantes se deslocaram para o Teatro Violeta Arraes -
Engenho de Artes Cênicas para acompanhar a palestra
do professor Dr. João Luís do Nascimento Mota, o professor Mota, da URCA.
Mota alou sobre a temática “a luta do negro e a negritude”. Em uma linguagem simples
e direta, ele destacou sua origem de luta e ativismo em São Tomé e Príncipe, um
país africano, até sua vida dedicada aos estudos no Brasil onde correlacionou
com a luta pela inclusão da história da população negra na educação. Mota é Doutor
pelo Programa de doutorado em Direito Econômico e Sócio Ambiental da PUCPR
(PPGD) e atualmente é professor da Faculdade de Juazeiro do Norte e
professor associado do quadro efetivo da Universidade Regional do Cariri.
A
palestra de Mota foi aberta o coral da Escola Padre Luís Filgueiras que cantou
o hino sul-africano dialético Zulu.
Entre uma apresentação e outra, o público assistiu o designer gráfico, agora as
faces do movimento negro com a apreciação
de nomes importantes, como Abdias Nascimento.
“Antes
das pessoas querem ver a capoeira numa olimpíada, a capoeira precisa estar em
todas as escolas, porque é um instrumento educacional, social, desenvolvedor de
vários saberes e as pessoas pouco conhecem.” Essa frase, muito certa por sinal,
foi dita pelo mestre Coala. E foi com ela que o grupo de capoeira da PLF encantou
o público.
Temas
caros ao Brasil, sobretudo para negros e indígenas, como as cotas raciais, foram trazidas para
discussão. Segundo o professor Kabengele Munanga, as pessoas que estão contra
cotas pensam como se o racismo não tivesse existido na sociedade, não estivesse
criando vítimas. Se alguém comprovar que não tem mais racismo no Brasil, não
devemos mais falar em cotas para negros. Deveríamos falar só de classes
sociais. Mas como o racismo ainda existe, então não há como você tratar
igualmente as pessoas que são vítimas de racismo e da questão econômica em
relação àquelas que não sofrem esse tipo de preconceito. Por isso as cotas são
essenciais no Brasil. Elas são uma medida de ação contra a desigualdade num
extremamente racista como o nosso. E foi com esse propósito que estudantes encenaram
a peça “cotabilize”, que foi segundo
lugar no Ceará Científico na etapa regional deste ano.
No
final, ainda teve danças, poemas e músicas que visaram destacar não só o
racismo estrutural, mas a força, a luta e a valorização dos povos negros e
originários.
O estudante
do segundo ano “a” da PLF, Fabrício, deixou o público atento com o recital SLAM, uma poesia de protesto
escrita pelo estudante Marcos Antônio, da mesma sala. Já João Neto, do 1º ano
B, Gente, veio com um musical intitulado “respeita a minha pele”. Alegria e
celebração das riquezas culturais do nosso povo veio para o palco com uma dança
afro-brasileira interpretada por estudantes.
Nessa
mesma tônica, o evento foi encerrado com duas belíssimas apresentações e com
duas vozes que não cantaram, mas encantaram. As estudantes Ingrid Vitória, do
3º ano B, cantou a música “resistência” e Emilly Deylane, estudante
do 9º ano da Escola Avelino Feitosa, uma das convidadas, cantou a música “a
carne”, da brilhante Elza Soares.
O
evento fez parte das ações do Projeto “aCORde uma voz”, da área de ciências
humanas, que está em sua 3ª edição, e contou com a colaboração dos demais
professores e professoras e equipe gestora.
Os
registros fotográficos podem ser acessados no perfil oficial da escola no
instram e nos perfis do instagram da professora Lucélia Muniz e do professor
Nicolau Neto:
@peluis_plf;
@luceliamuniz_09 e @nicolauneto_
Registros
em vídeos você encontra no perfil do instrgram do professor Nicolau Neto
(@nicolauneto_) e no canal do YouTube do mesmo (Nicolau Neto)
_____
Equipe de Ciências Humanas da EEMTI
Padre Luís Filgueiras
Rua Professora Nanô, S/N
Nova Olinda-CE.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!