Por Nicolau Neto, editor
A EEMTI Padre Luís Filgueiras, uma das duas instituições da rede pública estadual do Ceará, localizada no município de Nova Olinda, na região do cariri, conta hoje com 12 turmas em regime integral, sendo 5 primeiros anos, 4 segundos e 3 terceiros e mais de 500 estudantes matriculados. Para atender a essa demanda, a escola conta com quase 40 educadores e educadoras, entre direção/coordenação, professores/as diretamente lotados em sala, secretária/o, auxiliares administrativos, etc.
Não
há como pensar o Brasil e, em particular a educação, sem trabalhar a
diversidade. É impossível falar em democracia na sua amplitude sem se voltar
para os dados alarmantes de casos de racismo, uma herança perversa de mais de
300 anos de escravização. Em um país que assopra aos quatro cantos do mundo que
vive em uma estado democrático de direito e em muitos casos em uma democracia
racial, é muito salutar colocar os pingos no is, visto que dados educacionais
tem demonstrado que a maior taxa de evasão escolar são de pessoas negras.
Muitos jovens negros precisam fazer a difícil escolha entre trabalhar e ajudar
em casa ou estudar; aqueles e aquelas que escolhem os estudos não conseguem
acompanhar os demais que possuem condições financeiras razoáveis (a maioria não
negros).
Analisar
a educação e de maneira particular as escolas passa necessariamente pelo
entendimento das relações étnico-raciais, trazendo a lume dados que façam
menção as questões de gênero e das etnias. Dentro dessa perspectiva
desenvolvemos uma pesquisa visando colher informações referentes a questão
étnica-racial das/os educadoras/es da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral
Padre Luís Filgueiras, em Nova Olinda, no interior do Ceará.
Os
dados são parte integrante das ações desenvolvidas em sala visando a educação
para as relações étnico-raciais, tendo como base os critérios utilizados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e pelo Estatuto da
Igualdade Racial quanto a cor ou raça e visa corroborar na discussão sobre
representatividade do corpo de educadoras/es desta instituição de ensino.
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Dados étnico-raciais da EEMTI Pe. Luís Filgueiras. (Gráfico colhido junto do google forms elaborado pelo professor Nicolau Neto). |
O questionário foi feito pelo Google Forms e encaminhado no grupos de WhatsApp da escola e recebeu respostas de 34 das/os 38 educadoras/es.
Pelos
números, foi constatado que a parcela destas/es que se declara preta atingiu
17,6%, o que representa 6 profissionais da educação. O grupo que se reconhece
como pardo, no entanto, é maioria e ocupou metade das respostas no formulário,
equivalendo a 17 pessoas. É importante frisar que tanto para o IBGE quanto para
o Estatuto da Igualdade Racial, a população negra no Brasil é definida pela
somatória de pardos e pretos. Assim, as/os profissionais da educação negros na
EEMTI Padre Luís Filgueira representam 67,6%.
O formulário
também apurou que 5,9% se reconhecem como indígena (2 profissionais); nenhum/a se autodeclarou amarelo
e a parcela de profissionais brancos atingiu 26,5%, ou 9 profissionais.
Em
julho deste ano cerca de 340 estudantes também foram submetidos a formulário
como esse e foi constatado que apenas 14,7% se reconhecem como pretos. (clique aqui e acompanhe os dados na integra).
Todos
esses dados farão parte de uma exposição no dia 20 de novembro, dia nacional da
consciência negra e integram as ações do projeto “a cor de uma voz”, que este ano
tem como temática “20 anos da lei
10.639/2003: educação, resistência e equidade racial”.
Para refletir
É importante
destacar que a população negra no Brasil representa a maioria. São 56% conforme
dados do IBGE. Levando em consideração somente as pessoas autodeclaradas pretas,
o número corresponde a 9,1%.
No município
de Nova Olinda, tendo com base dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad) Contínua 2018 do IBGE, 70,3% da população se autodeclara
negra.
A baixa representatividade da população preta e indígena nos espaços de poder é um problema e precisa ser enfrentado com muita seriedade, pois não contribui para o desenvolvimento do país, além de ser um impedimento para a superação do racismo estrutural.
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