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Professor Nicolau Neto durante roda de diálogo na EEEP Wellington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda - CE sobre igualdade de gênero. (FOTO/ Lucélia Muniz). |
A
pesquisa nacional Educação, Valores e Direitos revelou que a maioria dos
brasileiros defende a abordagem de temas relacionados à desigualdade de gênero
e à educação sexual nas escolas. Coordenada pelas organizações Ação Educativa e
Cenpec, a pesquisa inédita foi realizada pelo Centro de Estudos em Opinião
Pública (Cesop/Unicamp) e Instituto Datafolha, no marco da articulação de
organizações da sociedade civil em defesa do direito à educação e contra a
censura nas escolas. Foram ouvidas 2.090 pessoas em todo o país sobre questões
consideradas polêmicas relativas à política educacional. Outros dados da
pesquisa serão divulgados nas próximas semanas. A realização da pesquisa contou
com recursos do Fundo Malala.
A
pesquisa fez diversas perguntas sobre a abordagem de questões relacionadas à
educação em gênero e sexualidade. Perguntados se estudantes devem receber, nas
escolas, informações sobre as leis que punem a violência contra mulheres, 96%
dos entrevistados disseram concordar, 93% acreditam que as escolas precisam
ensinar meninos a dividirem com meninas e mulheres as tarefas de casa e 88%
dizem ser importante que as escolas discutam as desigualdades entre homens e
mulheres. Com relação à afirmação de que as escolas devem promover o direito
das pessoas viverem livremente sua sexualidade, sejam elas heterossexuais ou LGBTs,
a concordância foi de 81%.
Em
relação à educação sexual, o apoio também é expressivo: 96% afirmam que as
escolas devem oferecer informações sobre doenças sexualmente transmissíveis e
como preveni-las; 93% são favoráveis a que os estudantes recebam, nas escolas,
informações sobre como evitar uma gravidez indesejada; e 91% concordam que a
educação sexual ajuda crianças e adolescentes a se prevenirem contra o abuso
sexual. Sete em cada dez acreditam que a escola está mais preparada que os pais
para explicar temas como puberdade e sexualidade (veja tabelas ao fim do
texto). “A pesquisa mostra que a
população compreende a educação sexual como uma forma de proteger crianças e
adolescentes. É a partir dessa abordagem, por exemplo, que crianças podem
identificar e denunciar situações de abuso sexual e adolescentes podem se
informar sobre a prevenção de uma gravidez indesejada”, comenta Anna Helena
Altenfelder, presidente do Conselho de Administração do Cenpec.
Educação sexual e gênero: tentativas de
censura
A
presença da temática de gênero e sexualidade na educação tem sido alvo de
diversos ataques e tentativas de censura. Diversos municípios chegaram a
aprovar leis proibindo qualquer referência a gênero, identidade de gênero ou
orientação sexual nas escolas. Em uma série de julgamentos em 2020, o Supremo
Tribunal Federal (STF) reconheceu que essas legislações são inconstitucionais,
por violarem valores democráticos, liberdades individuais e princípios como a
tolerância e a convivência com a diversidade. As decisões também afirmam que a
abordagem de gênero e sexualidade é uma obrigação de secretarias de educação,
escolas e professores, para a promoção de políticas de igualdade e não
discriminação.
“Essas
decisões são um marco, reafirmando que a abordagem de gênero e sexualidade nas
escolas está amparada na Constituição Federal e em diversas legislações, como a
própria Lei Maria da Penha, que em seu artigo oitavo determina a educação para
a igualdade de gênero e raça em todas as escolas. Além do respaldo legal, a
pesquisa mostra que a maior parte da população compreende e apoia que o debate
de gênero e sexualidade avance nas escolas, o que contraria o discurso de movimentos
ultraconservadores que promovem desinformação e pânico moral sobre essas
agendas”, explica Denise Carreira, coordenadora institucional da ONG Ação
Educativa e integrante da Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala. Em fevereiro deste ano, um
grupo de mais de 80 entidades de educação e direitos humanos lançou uma nova
versão do Manual de Defesa Contra a Censura nas Escolas. A publicação apresenta
orientações jurídicas e estratégias político-pedagógicas em defesa da liberdade
de aprender e de ensinar, baseadas em normas nacionais e internacionais e na
jurisprudência brasileira.
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Grau de concordância sobre alguns assuntos relacionados à educação sexual. |
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A escola deve oferecer informações sobre doenças sexualmente transmissíveis e formas de prevenção dessas doenças. |
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Os estudantes devem receber, na escola, informações sobre como evitar uma gravidez indesejada. |
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A educação sexual nas escolas ajuda as crianças e adolescentes a se prevenirem contra o abuso sexual. |
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Com informações do Gênero e Educação e replicada no Geledés.
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