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Coletivo Sementes, em Crato-CE, busca espaço na Câmara Municipal. (FOTO/ Reprodução/ Facebook). |
A eleição municipal da capital paulista viu a multiplicação de candidaturas coletivas para o cargo de vereador. A cidade tem pelo menos 34 chapas compartilhadas na disputa legislativa, com pautas que vão desde a luta antirracista, passando pela defesa do movimento feminista, a ampliação do direito à cidade e até questões como a legalização da maconha.
Um
levantamento da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps) mostra que,
ano após ano, o número de candidaturas coletivas só aumentou. Nos pleitos de
2012 e 2014, foram sete no Brasil. Já entre 2016 e 2018, 98 coletivos se
lançaram nas eleições. Um dos principais exemplos foi a Bancada Ativista, que
levou nove pessoas de três diferentes partidos, por meio da figura de Mônica
Seixas (Psol), a dividirem um único mandato na Assembleia Legislativa de São
Paulo (Alesp).
O
cientista político Paulo Niccoli Ramirez, também professor da Fundação Escola
de Sociologia de São Paulo (FESPSP), acredita que essa explosão de mandatos
compartilhados é motivada pela tentativa de evitar a dispersão de votos sobre a
mesma pauta, o que permite o aumento da representatividade de alguns temas e
segmentos no Legislativo.
“O
atual modelo eleitoral evita um alto grau de representatividade, o que traz
essas candidaturas como alternativas para um sistema que dificulta a eleição de
minorias. Torna-se viável diante dos votos que se dispersam entre tantos
candidatos. Elas (candidaturas) ocupam um espaço onde há dificuldade de eleger
representantes sobre algumas questões progressistas”, afirmou o especialista à
RBA.
Representatividade coletiva
As
candidaturas coletivas funcionam da seguinte forma: uma pessoa é escolhida pelo
grupo para registrar a candidatura em seu nome. Os outros integrantes do
coletivo são covereadores e se dividem no gabinete, por meio da ocupação do
cargos de assessores, por exemplo.
O
urbanista Nabil Bonduki (PT), que representa a candidatura Coletivo Mais
Direito à Cidade, explica que o grupo é formado por sete pessoas e todas as
decisões são tomadas em conjunto. “Nós assinamos um termo de compromisso em que
todas as decisões serão tomadas pelos sete membros da candidatura. Porém, ainda
haverá um conselho com outras 70 pessoas para pensar em ações estratégicas.”
Na
avaliação de candidatos, apenas 55 vereadores não conseguem representar 12
milhões de habitantes de São Paulo. A advogada Rute Alonso (Psol) encabeça a
chapa feminista Coletiva Nós Mulheres e acredita que a ampliação desse modelo é
capaz de dar visibilidade para todas as garantias de direitos.
“As
candidaturas coletivas têm permitido que mais pessoas acessem o Legislativo,
levando pautas de interesse público, sobretudo da classe trabalhadora. As
candidaturas são eleitas pelo voto em uma pessoa, mas que transcende para
muitas vozes”, defende Rute.
Niccoli
lembra que o atual cenário político é dominado principalmente por grupos
empresariais e latifundiários, o que agrava o problema da falta de
representatividade no Legislativo. “As campanhas coletivas fazem com que as
pautas progressistas cheguem a esses lugares, dando voz aos grupos
marginalizados e excluídos”, aponta.
Candidaturas entre partidos
O levantamento
feito pela RBA mostra que as 34 candidaturas coletivas de São Paulo estão mais
situadas nos partidos de esquerda. O Psol é quem mais apresentou esse modelo,
com oito coletivos. O PT e PCdoB aparecem em seguida, com cinco cada um.
O
PDT e PMB possuem, cada um, quatro candidaturas compartilhadas concorrendo à
eleição. O PCB apresentou duas chapas coletivas. Já o PV, DEM, Rede, Avante,
Podemos e PSDB têm um concorrente, cada.
Entre
alguns nomes, o PT apresenta a Bancada Hip-Hop e o Movimento Negras Vozes. Já o
Psol terá uma chapa criada por mulheres do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
(MTST), o Juntas, além da Ganja Coletiva, que trata das políticas de droga.
Segundo
Niccoli, esse modelo de gestão compartilhada dribla o personalismo político.
“Acredito que elas (candidaturas coletivas) rompem esse perfil, já que é um
representante que vai além da figura, trata-se de uma bandeira. Ou seja,
vota-se numa pauta”, afirma.
Bandeiras de luta
Por
meio do Movimento Negras Vozes, Marilândia Frazão, Déia Zulu e Regina Conceição
querem romper com a sub-representação das mulheres pretas na Câmara Municipal.
Formada por moradoras da periferia, a candidatura coletiva defende a efetivação
dos direitos básicos para as populações desses bairros.
“São
pessoas que, às vezes, têm que percorrer quilômetros até chegar num posto de
saúde. A escola também fica distante. Na favela, falta um escadão com corrimão.
Luz no ponto de ônibus, para garantir a segurança dos usuários”, explicou Déia,
ao repórter Tiago Pereira, da RBA.
Já a
candidatura coletiva do MTST também busca trabalhar sua agenda a partir da
periferia. De acordo com Jussara Basso, o aumento de vagas em creches é
essencial, pois garante às mulheres condições para trabalhar. “Quando é
garantido o direito da mulher buscar o seu sustento, fica assegurada também a
possibilidade dessa mulher sair de um lar violento, para criar os seus filhos e
ter a sua autonomia resguardada”, defende.
O
aumento de casos de feminicídios em 41,4% no estado de São Paulo durante a
pandemia de covid-19, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, é uma
das preocupações de Rute, da Coletiva Nós Mulheres.
“A
execução dos serviços de defesa e enfrentamento à violência contra as mulheres
é municipal. Na cidade, há 15 Centros de Defesa e de Convivência da Mulher,
nove Centros de Referências a Mulher, e há também abrigos sigilosos, mas são
poucos. Então, é preciso olhar para o desempenho e a ampliação do orçamento
desses serviços”, afirmou a candidata.
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