Feminismo Negro: o que é, pelo que luta e como ser um aliado. (FOTO/ Reprodução/ DCI). |
O
feminismo negro é um movimento crescente nos dias de hoje. No entanto, sua
relevância ainda é questionada pelos que não conhecem seu contexto. Entenda a
luta das mulheres negras, seus motivos e propostas.
O
feminismo negro é um movimento que combate tanto a discriminação de gênero
quanto de raça. Mais do que isso, nos desafia a entender como as opressões se
somam para aumentar a desigualdade.
Nos
dias atuais, o movimento floresce e podemos encontrar material para entendê-lo
nos mais diversos formatos e plataformas. Conheça a luta das mulheres negras e
o que ela propõe à sociedade.
O que é o feminismo negro?
Para
entendermos o feminismo negro, precisamos dar um passo para trás e observar
alguns contextos históricos do movimento feminista. O surgimento do feminismo
está bastante associado aos movimentos sufragistas. As sufragistas foram
mulheres que lutavam pelo direito ao voto no fim do século XIX e início do
século XX.
Acontece
que, nessa época, a escravidão ainda era uma realidade para o povo negro. Em
sua obra “Mulheres, Raça e Classe”, a filósofa estadunidense Angela Davis conta
essa história. De acordo com Davis, quando o movimento das mulheres surgiu, era
organizado e idealizado pelas mulheres brancas de classes ricas. Logo, essas
mulheres queriam dispor da mesma liberdade que seus companheiros.
Nesse
momento da história, as lutas das mulheres negras eram outras. Agressivamente
exploradas, essas mulheres tinham outras prioridades. Assim, muitas de suas
necessidades se aproximavam mais das necessidades dos homens de sua raça.
Afinal, seus companheiros também viviam os horrores da escravidão.
Assim,
desde seu surgimento, o movimento feminista tinha um recorte de raça. Por isso,
não atendia as demandas de todas as mulheres. Por exemplo, enquanto as mulheres
sufragistas brancas lutavam pelo direito ao voto, as mulheres negras lutavam
por liberdade e alfabetização.
Logo,
o feminismo negro é um movimento que enriquece a luta pelos direitos das
mulheres, expondo que nem todas vivem sob condições iguais. Por isso, nem
sempre suas dores, esperanças e necessidades serão as mesmas.
Obviamente,
é necessário dar voz a todas as mulheres para que o movimento seja
verdadeiramente plural. Para isso, uma das ferramentas desenvolvidas pelo
feminismo negro é a chamada teoria interseccional.
A teoria interseccional
Um
dos pontos centrais do feminismo negro é a teoria interseccional ou
interseccionalidade. Esse conceito foi apresentado pela primeira vez pela
professora Kimberlé Crenshaw.
A
teoria interseccional analisa como as diferentes identidades sociais de uma
pessoa se combinam. As identidades sociais são nossas características aos olhos
da sociedade. Por exemplo, a cor de nossa pele, nosso gênero, nossa classe
social, nossa religião, etc.
Assim,
ela nos mostra que essas características se somam e a opressão que sofremos é o
resultado. Por exemplo, uma mulher branca sofrerá machismo. Uma mulher negra
sofrerá machismo e racismo. Um homem gay sofre lgbtfobia. Um homem indígena gay
sofre lgbtfobia e racismo.
Além
disso, a intersecção dessas opressões pode não simplesmente se somar, mas gerar
um novo e mais violento tipo de opressão. Por exemplo, a violência sexual na
guerra, que é intensificada pelo racismo.
Dessa
forma, a interseccionalidade é uma ferramenta para que possamos analisar a
discriminação e entender sua origem. Assim, seremos capazes de entender as
verdadeiras raízes dos problemas para que possamos combatê-los.
Para Entender o Feminismo Negro
Hoje
em dia, existe muita literatura feminista negra. Para os que não têm o hábito
da leitura, também é bastante fácil encontrar material em vídeo ou áudio sobre
o assunto.
Feminismo Negro Brasileiro
No
Brasil, uma das maiores fontes de pensamento feminista negro é o Geledés –
Instituto da Mulher Negra. Fundada e dirigida pela filósofa Sueli Carneiro, a
organização possui um portal na internet. Nele, encontramos produção,
científica ou não, da mais alta qualidade.
Atualmente,
a filósofa Djamila Ribeiro é o maior expoente do feminismo negro no país. Seu
livro “”Quem Tem Medo do Feminismo Negro” reúne uma coleção de artigos
publicados pela pensadora. A linguagem leve não exige conhecimento prévio e a
divisão em textos mais curtos torna a leitura fácil e prazerosa.
Além
disso, Djamila Ribeiro é responsável pela coleção Feminismo Plurais. Dela,
destacamos os livros de outras duas feministas negras fundamentais: Carla
Akotirene e Joice Berth. “Interseccionalidade” de Akotirene e “Empoderamento”
de Berth são livros curtos que exploram conceitos importantes para o feminismo
como um todo.
A
intelectual Lélia Gonzalez é hoje reconhecida como a grande responsável pelo
debate sobre racismo e machismo no meio acadêmico do Brasil. Lélia discutia a
situação da mulher negra brasileira, criticando os papéis limitados que a
sociedade lhe oferece. Seu artigo “Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira” é
um divisor de águas no debate.
Feminismo Negro no mundo
Fora
do Brasil, podemos citar Angela Davis, bell hooks, e Audre Lorde. Como já foi
mencionado, o livro “Mulheres, Raça e Classe” é excelente para que possamos
entender a necessidade de um feminismo negro. Angela Davis traça uma linha do
tempo completa, na qual enxergamos como o feminismo surgiu em um contexto
racista. Por isso, as mulheres negras precisaram criar espaços para si mesmas,
em que suas vozes fossem escutadas.
bell
hooks, assim mesmo, sem letra maiúscula, é uma professora estadunidense e
feminista negra. Sua produção é extensa e discute principalmente machismo,
racismo, educação e suas intersecções. Seu livro “O feminismo é para todo
mundo” traz o propósito de libertação do movimento. bell hooks defende que o
feminismo quer livrar todos do sexismo: mulheres e homens.
Já
Audre Lorde apresenta um feminismo que contesta não apenas raça, mas também
liberdade sexual. Por ser lésbica, Lorde sentiu na pele mais um tipo de
opressão. Sua experiência como mulher negra lgbt expande e enriquece o debate.
Seu aclamado livro “Irmã Outsider” é considerado uma das maiores contribuições
para a teoria feminista contemporânea.
Para ouvir e assistir
Se
você não se dá muito bem com os livros, não desanime! A produção do feminismo
negro também está disponível em outros formatos! A tecnologia atual nos oferece
uma infinidade de videoaulas, palestras e podcasts sobre o assunto.
Por
exemplo, no Youtube você pode encontrar palestras de algumas das autoras acima
mencionadas. Além disso, existem muitos canais em que mulheres negras debatem
questões de gênero e raça. Assim como as comunicadoras Gabi Oliveira e Nátaly
Neri, que trazem vídeos falando de questões políticas e subjetivas da mulher
negra com muita propriedade e sensibilidade.
Na
área dos podcasts, encontramos o trabalho impecável das jornalistas Flávia
Oliveira e Isabela Reis, mãe e filha. A dupla alia a riqueza de suas
experiências profissionais e pessoais para manter seu público informado,
combinando capacidade crítica e leveza como poucos. Já o Pretas na Rede é um
podcast que debate temas variados. De maternidade a rap, o programa busca
trazer a perspectiva de mulheres negras sobre diversos assuntos.
Como ser um aliado do feminismo negro
Quando
falamos de feminismo, muitos pensam que não há nada que se possa fazer pelo
movimento se você não for uma mulher. Logo, esse sentimento tende a piorar
diante do feminismo negro. Mas isso não é verdade e colaborar com essas lutas
anti-opressão é mais simples do que parece.
Veja,
por exemplo, o que diz Conceição Evaristo, expoente da literatura negra, em
entrevista para Djamila Ribeiro em 2017: “Nossa fala estilhaça a máscara do
silêncio. Penso nos feminismos negros como sendo esse estilhaçar, romper,
desestabilizar, falar pelos orifícios da máscara”.
Assim,
talvez o feminismo negro seja a busca por voz de mulheres que por muito tempo
não foram escutadas. Logo, para ser um aliado dessa luta, você pode começar por
um gesto muito simples: consumir o conteúdo produzido por essas mulheres.
Ao
ouvir, ler e assistir feministas negras, você já está, de certa forma,
combatendo seu silenciamento e opressão. Além, é claro, de ter contato com o
maravilhoso material produzido por essas mulheres.
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