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Abdias Nascimento. (FOTO/ Reprodução). |
Abdias Nascimento foi um dos grandes brasileiros do século XX. Com ele iniciou-se o movimento negro organizado, uma luta pela consciência racial, inaugurou-se o Teatro do Negro, o primeiro jornal voltado para as causas de valorização do negro, e uma trajetória de vida inteira, de um homem que chegou a ser quase centenário, com progressos em todos os campos, pois Abdias foi “ator, poeta, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras brasileiro”, conforme nos informa a Wikipedia. E é justamente aí que eu quero chegar.
A
Wikipedia, enciclopédia virtual, hoje o veículo mais procurado para consultas
imediatas, e superficiais, não pode ser usada como instrumento de proselitismo
político e ideológico. Nem pode nem deve ser usada para reescrever a História
do Brasil através da redução biográfica de seus personagens. Elisa Larkin do
Nascimento, viúva de Abdias e sua companheira de muitas décadas de ativismo,
continuadora de sua luta, vigilante de sua memória, e presidente do movimento
Ipeafro, fundado com ele, queixa-se de que a biografia de Abdias na Wikipedia
foi profanada por indivíduos ou grupos provavelmente interessados em desvirtuar
a história do grande homem, reduzindo-a a momentos desimportantes de sua
trajetória pessoal, como se quisessem desmerece-lo.
Os
dados originais sobre Abdias na Wikipedia foram cuidadosamente coletados por
uma equipe de historiadores contratados pelo Ipeafro, e foram postados tanto na
Wikipedia dos Estados Unidos, em inglês, como na do Brasil, em português. E
nesta hora em que o Governo brasileiro já expressou explicitamente seu desejo
de reescrever a História do Brasil à sua maneira, nomeando para dirigir a
Fundação Palmares uma pessoa como Sergio Camargo, radicalmente contra a luta
racial, com recursos e poder, de que os idealistas do Ipeafro não dispõem,
curiosamente acontece o ataque virtual à biografia de uma personalidade de
nossa História, Abdias Nascimento.
Elisa
Larkin por várias vezes tentou repor os dados sequestrados, sabe-se lá por quem
e por qual motivo, e a Wikipedia, em seguida, os apaga. É triste ver que essa
guerra, que no Brasil acontece em todos os setores, não respeita sequer a
memória das bravas mulheres e dos bravos homens, que por todas as suas vidas se
sacrificaram pelas causas mais importantes, em benefício de nosso povo, nossa
Nação, e que agora não mais aqui estão para se defender da voracidade
destrutiva dos que querem a História do Brasil narrada a seu modo, de acordo
com seu gosto, conveniência, preconceito e prazer. Elisa não sabe em que porta
bater para reclamar à Wikipedia, nem a quem escrever, muito menos para qual
endereço. Pois esses dados não estão disponíveis na internet.
Nesse
novo mundo horroroso, em que as corporações falam através de vozes gravadas, em
que o consumidor, o comum mortal não tem acesso algum sequer espaço para sua
voz, rumamos, como cabras cegas, guiados apenas por nossa indignação, rumo ao
precipício do desamparo. Sugeri a Elisa Larkin procurar os demais amigos da
mídia, simpatizantes da causa negra, admiradores de Abdias Nascimento, como fez
comigo. Espero que o faça.
_______________________________
Por Hildegard Angel, para o Jornalistas pela Democracia, no Brasil 247
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