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Djamila Ribeiro. (FOTO/ Mauro Pimentel). |
A
filósofa, escritora e ativista Djamila Ribeiro afirmou em entrevista ao UOL
Debate, na manhã de hoje, que o debate sobre racismo está sendo feito sem tabus
atualmente no Brasil, mas que, para haver mudanças, será necessário mais tempo.
A
entrevista foi conduzida pelos jornalistas Leonardo Sakamoto, colunista do UOL,
e Paula Rodrigues, repórter de Ecoa. “Estamos
falando de estrutura secular. Estamos discutindo mais no debate público. Isso
que é novo, na verdade. O Brasil foi fundado na violência de sangues negros e
indígenas. Hoje a gente pode falar sem tabu”, disse.
Djamila
relembrou que o Brasil começou a considerar o racismo como um crime contra a
humanidade na Conferência de Durban, em 2001, na África do Sul, se
prontificando a reparar os danos causados pela escravidão. “Houve um levante interessante, mas que só
foi possível as pessoas falarem sobre isso porque existiu um movimento que vem
historicamente, sobretudo depois das cotas raciais, mais pessoas negras nas
universidades, fazendo pesquisa. Tem aí uma resposta em relação a uma maior
aderência esse debate.”
“Nossa geração talvez não veja os benefícios
disso. Sem nunca perder a perspectiva histórica, é um trabalho de formiguinha,
de base, não se muda de hora para outra, mas é importante que esses temas
estejam em evidência, e que as pessoas leiam de fato”, complementou a
filósofa.
Estereótipo e cargas pesadas
Djamila disse que, historicamente, no Brasil, o negro sempre foi retratado com como “malandro” e, até mesmo, de forma “animalizada”. Isso, segundo ela, vai sendo naturalizado pela população o que começa a gerar ódio de determinados grupos, usando muitas vezes um “humor que não tem nada de ingênuo”.
“Se a gente for olhar desde o ‘black face’, o
Show dos Menestreis, como os negros eram representados, sempre estereotipados
com a boca grande e vermelha, ou comparados a animais. Então há aí uma certa
linguagem que vem muito depois das teorias racistas, do racismo cientifico, que
vieram para tentar justificar essa suposta inferioridade, essa animalização das
pessoas negras, e a gente vê como isso vai sendo perpassado”, ela diz.
Um
exemplo de como os estereótipos e a estrutura racial permanece forte no Brasil
pôde ser observado na demissão do ex-ministro da Educação Carlos Alberto Decotelli.
“É sempre importante frisar que estamos em lados opostos. É claro que a gente
não apoia esse governo e tudo o que ele representa, porém não tem como a gente
não observar que existem ministros que fraudaram também seus currículos e
continuam ocupando seus cargos. Tem um outro peso quando são homens brancos que
fraudam e não há a mesma cobrança.
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