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Professor Nicolau e professora Josyanne, de Altaneira, são convidados a debater o racismo. (FOTO/ Reprodução). |
Como parte de uma programação voltada para a “Semana de Ciências Humanas”, a Escola de Ensino Médio Patativa do Assaré, localizada na Serra de Santana, zona rural do município de Assaré, realizou na tarde desta sexta-feira, 12, um debate sobre o racismo no Brasil.
O
debate ocorreu via Meet, app da Google para videoconferências e envolveu professores,
professoras, coordenação e estudantes da instituição. Mediado pelo professor de
História Alisson, o encontro foi aberto com músicas e poesias cantadas e
recitadas por estudantes.
Segundo
o professor Alisson Evangelista, mesmo
em tempos de pandemia o que os impediam de se reunirem presencialmente, o
momento é mais que oportuno principalmente em face do aumento desenfreado de
casos de racismo e eles enquanto cidadãos não poderia se furtar de falar e
propor alterativas para o combate ao racismo.
Para
o debate foi convidado o professor, ativista negro, blogueiro, colunista do
site Intelectual Orgânico e membro da Academia de Letras do Brasil/Seccional
Araripe, Nicolau Neto. Em sua fala,
o professor Nicolau afirmou que iria dividir a fala com a professora da rede municipal
de ensino de Altaneira e colunista do Blog Negro Nicolau, Josyanne Gomes, a que
agradeceu por ter aceito o convite.
Nicolau
conceituou racismo, o diferenciou de preconceito e discriminação e
prelinarmente realizou uma contextualização do racismo no Brasil, tendo como
enfoque o processo de escravização dos povos nativos e de negros e negros que
foram trazidos de forma forçada de seus locais de origem para o Brasil,
passando pela assinatura da Lei Áurea. Para ele, o Racismo no Brasil sempre
esteve presente, violentou e matou incontáveis vidas negras. Está presenta, violenta
e mata vidas negras.
Segundo
Nicolau, o racismo é institucional e estrutural e o que acaba dificultando o
seu efetivo combate é o famigerado “Mito da Democracia Racial” apoiado na ideia
tosca de “Miscigenação”. Para ele, o mito da democracia racial já foi refutado,
não tem sustentação e usou como exemplos o “Teste do Pescoço” que por meio dele
é possível verificar as desigualdades e quais lugares ocupam negros e negros no
país. Nós somos subrepresentados nos espaços de poder, enquanto pessoas não negras
são super-representadas, mesmo sendo os negros a maioria da população segundo
dados do IBGE.
Nicolau
seguiu apresentado dados que denotam o racismo no Brasil como institucional e
estrutural. São poucos negros/as que ocupam cargos de direção escolar, mas muitos
ocupando funções que ganham menos. São poucos como legisladores/as nas três esferas.
Quantos negros/as tivemos como governador/as e quantos/as como presidente? E no
STF, como estamos representados? Quem mais morre vítimas de um sistema
militarizado e opressor? Quem mais precisa do SUS? Quem menos consegue concluir
a educação básica e o ensino superior?
Ainda
de acordo com Nicolau, nós estamos constantemente disputando narrativas e
tendo, principalmente nessa nova conjuntura, um discurso que tenta deslegitimar
as lutas dos movimentos negros e descaracterizar todas a conquistas e citou
como exemplo o presidente da república e o presidente da Fundação Cultural
Palmares.
Ao
citar o professor e antropólogo brasileiro-congolês, kabengele Munanga que afirmou
numa entrevista em 2009, que “o nosso
racismo é um crime perfeito” e a educadora e professora americana Angela
Davis, que pontuou “numa sociedade
racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”. Nicolau
destacou que é nesse ambiente que devemos nos posicionar e apresentar soluções.
Disse que as frases denotam que devemos fazer esse enfrentamento ao racismo e
que não há caminho fora da educação, não só a institucional. Não há caminho
fora da construção de uma Educação Antirracista.
Já
a professora Josyanne Gomes
enveredou pela discussão das leis 10.639/03 e 11.645/08 que obrigam que escolas
públicas e particulares trabalhem nos currículos a História e a Cultura
Africana e Afro-brasileira e a História e Cultura Indígena, respectivamente.
Segundo ela, a própria aprovação destas leis que foram frutos de muita luta de
movimentos negros, professores/as e demais ativistas, atestam o caráter racista
do Brasil. Mas somente elas não garantem que tenhamos uma educação para as
relações étnico-raciais, votada para a equidade e para o reconhecimento e
valorização do negro, da negra.
Josyanne
pontuou que se faz necessário o empenho e o envolvimento de todo o corpo
escolar acompanhada de uma participação e cobrança da sociedade para que elas
sejam cumpridas. “Não é só função de
docentes da área de humanas, mas de todos/as”, disse. “É importante que
reformulemos nossa forma de pensar e de agir para que tenhamos um currículo que
faça com que negros e negras se vejam de forma positiva nele”, destacou.
O encontro foi encerrado com intervenções de professores e alunos/as e músicas.
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