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Babu Santana. (FOTO/ Reprodução). |
Achille
Mbembe, filósofo e historiador camaronês, propõe, em Crítica da Razão Negra
(Antígona, 2014), que o conceito de escravo tende a se fundir com o de negro
até estes se tornarem uma coisa só. Para desfazer isso, ele defende a
“reinvenção da comunidade”, e tal conceito encontra respaldo no processo de
ressignificação e politização da ideia de raça, proposto pelo Movimento Negro
Unificado no final da década de 70.
E aí
a pergunta que o título deste texto traz começa a ganhar várias respostas. Um
artigo publicado em 1967 por Lerone Bennet Jr, editor sênior da revista Ebony,
traz pontos importantes ao debate, como, por exemplo, a discussão que tomou
conta dos Estados Unidos à época. Bennet escreve que “há um grupo que sustenta
que a palavra negro é um epíteto impreciso que perpetua a mentalidade de
mestre-escravo (…) outro grupo, constituído por defensores do Black Power,
adotou um novo vocabulário em que a palavra preto é reservada para ‘irmãos
pretos e irmãs que estão emancipando a si mesmo'”.
Tal
debate nos remete à fala de Babu, que foi – acredito – um dos assuntos mais
comentados nas redes sociais na quarta-feira (1). Ele fala da origem da palavra
“negro”, dizendo que vem de nigro – do grego, inimigo – e, por isso, o certo
seria falar “preto”. Na verdade, há discordância sobre a origem, posto que
alguns historiadores acreditam que o termo tenha vindo do latim nigrum ou ainda
necro (referente à morte). Mas o ponto chave é que o discurso de Babu caminha
lado a lado ao que foi adotado nos Estados Unidos, o que me leva a crer que a
escolha do termo tem mais a ver com não aceitar a forma como os brancos se
referem a negros/pretos do que a qualquer outra coisa. Ou seja, se brancos usam
negros, vamos usar pretos, como forma de romper com laços escravocratas. Vai
nessa linha.
Na
África, a raiz é mais profunda, mas até de mais fácil compreensão. O conceito
de raça não existia no continente: quem o levou – e o criou, aliás – foi o
branco colonizador para justificar a escravidão. Ou seja, lá, antes da chegada
dos europeus, não existia nem negro, nem preto: era tão somente um povo de pele
escura.
A
escravização e as diásporas nos deixaram vários símbolos, e nenhum deles é
vazio. Criado-mudo não existe em vão. A destruição do racismo é complexa por
inúmeros fatores, e um deles é a língua, pois temos um dicionário ainda
racista. Apesar de concordar com a visão de rompimento com o léxico proposto
pela escravidão, não ouso discordar dos mais antigos daqui, como o pessoal do
MNU, que ressignificou a palavra negro – e antes ainda, na década de 30, com a
Frente Negra. Por isso, repito, não há um consenso. A língua é viva, mas a
História também tem que ser.
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Publicado
originalmente no Mídia Ninja.
*Marcos Luca Valentim é jornalista e
líder do coletivo negro do Coletivo Diáspora
Confira também:
“A definição do preto ou do negro no Brasil é maior que as pessoas imaginam” publicado no site Mundo Negro.
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