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Weintraub em audiência pública na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado. (FOTO/ Marcelo Camargo/ Agência Brasil). |
Em
um país de tão poucos consensos, unanimidades são raras. Por isso mesmo
impressiona uma concordância tão firme, proveniente dos mais diversos lados,
sobre as características pessoas e profissionais do ministro da Educação do
governo Bolsonaro, Abraham Weintraub.
A lista dos disparates, absurdos e coisas republicanamente inaceitáveis ditos ou feitos pelo titular da Educação é de estarrecer. Em apenas 10 meses no cargo, tantas aberrações já praticou o moço que não de raro consegue se destacar mesmo no insuperável conjunto dos feios, sujos e malvados do Governo Federal. Convenhamos que você ser notado, no quesito desastres verbais, incapacidade de gestão e falta de decoro, em um governo que já tem Ricardo Salles (Meio Ambiente), Damares Alves (Mulheres, Família e Direitos Humanos), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Augusto Heleno (Segurança Institucional), além do recém-eliminado Roberto Alvim (Secretaria Especial da Cultura), e o próprio Chefe do Executivo e seus filhinhos co-presidentes, é uma proeza e tanto. Mas Weintraub é incansável na arte de passar vergonha, meter-se em confusões, colocar os pés pelas mãos, perseguir, atacar e insultar.
Mas
parece, enfim, que a tolerância de todo mundo se esgotou com o sujeito que
deveria ser ministro de uma das pastas mais importantes para o futuro do país,
mas se comporta como, ao mesmo tempo, profeta e capanga do bolsonarismo,
passando por cima de tudo e de todos, atropelando princípios e regras de boa
educação. Até mesmo o site o Antagonista, a organização de defesa do
bolsonarismo mais parecida com jornalismo, perdeu a paciência e decretou esta
semana: “Deve existir um sujeito de direita mais centrado e preparado para
exercer a função de ministro da Educação”.
Até
chegar a este ponto, foram 10 meses de manifestações de pessoas chocadas. No
final ano passado, a jornalista Miriam Leitão já havia chamado Weintraub de “o
pior ministro da Educação que o país já teve”. Antes disso, o ministro já havia
se metido em uma briga com Fernando Henrique Cardoso, que ele “polidamente”
comparou com a AIDS. O PSDB retribuiu a gentileza e publicou que o atual número
um do MEC era uma “doença terminal da Educação no Brasil”.
Para
ficarmos nas duas últimas semanas, tivemos de tudo. Começou com o ministro se
tornando piada nos ambientes digitais por ter escrito “imprecionante” em um
post no Twitter, em um dos muitos erros grosseiros de ortografia que ele
costuma cometer. Depois, tivemos os registros das vulgaridades e obscenidades
que o ministro costuma dizer nas brigas em que se envolve com seguidores em
mídias digitais. Falo de coisa muito adultas como dizer a uma menina que o
criticava que a mãe dela era uma “égua sarnenta e desdentada”. Ou ter práticas
republicanas como xingar um detrator e, ao mesmo tempo, dizer a um pai
bolsonarista e antipetista, pelo Twitter, que determinou pessoalmente uma nova
análise da prova do Enem da filha deste. Tudo isso à vista de todos.
E ainda
tivemos os ataques contra os analistas políticos da mídia. Sobre Reinaldo
Azevedo, da BandNews, ele repassou de forma entusiasmada, uma fake news que
dava conta da demissão do comentarista. Falso. Sobre Marco Antonio Villa,
comentarista da Jovem Pan e colunista de Istoé, publicou não um, mas dois
vídeos em que Villa é acusado do supremo crime de ter mau hálito. O que mais se
poderia esperar de um Ministro da Educação, não é mesmo?
Por
fim, o acúmulo de erros gravíssimos no Enem parece ter fornecido o que faltava
para colar definitivamente a pecha de incompetente em Weintraub. Até então, era
claro tratar-se de um louco fanático, um incansável pregador da doutrina da sua
seita, um anti-intelectual e inimigo das universidades e dos professores, um
ignorante e tosco, mas a sua incompetência só se exibiu plenamente ante sua
incapacidade de conduzir um exame tão crucial para o país e em que todas as
famílias prestam muita atenção. Como disse Reinaldo Azevedo, “a primeira edição
do exame sob o seu comando conseguiu destruir o que se se construiu ao longo de
21 anos: a confiança no resultado, de sorte que funcionários do próprio MEC
dizem — sob anonimato, claro! — ser impossível assegurar que o resultado
colhido é 100% confiável…”. Um desastre de grandes proporções.
Para
coroar o seu desempenho semanal, o fiasco do Enem levou o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia, a declarar que Weintraub “atrapalha o futuro das nossas crianças.
Está comprometendo o futuro de gerações a cada ano que se perde com a
ineficiência, o discurso ideológico e péssima qualidade na administração. Ele
acaba prejudicando os anos seguintes da nossa sociedade”.
O
homem é um estorvo, em suma. Mas será dispensado pelo patrão?
Ora,
Weintraub é incompetente, incapaz e estúpido. Em qualquer lugar do mundo,
apenas uma dessas características bastaria para que fosse demitido, mas aqui
não. Se todos os incapazes e burros fossem demitidos do governo, sobrariam bem
poucos do primeiro escalão amanhã, a começar do presidente. Como se previa,
para além do filtro ideológico altamente rigoroso, não há filas das melhores
mentes do Brasil para trabalhar para este governo. Estão lidando com o que têm,
por isso é um governo que combina fanatismo proselitista com doses cavalares de
estupidez e ignorância.
Weintraub,
como era de se esperar, é ignorante, inculto e mal-educado. Essas seriam boas
razões para ser posto na rua. No governo Bolsonaro, não. Se o próprio
presidente e os seus filhos são obtusos e abrutalhados, como poderia ser este
um critério para demitir ministros? E em um governo em que se tem pavor de
intelectuais, de cientistas e de pensamento independente, como se poderia
recrutar diferentemente que vem a fazer parte dele?
Weintraub,
por fim, não tem a menor noção de decoro ou de comportamento republicano, nem
tem a mínima noção do alcance e funcionamento do Ministério que dirige, mas se
isso não foi entrave para contratá-lo, por que seria razão para demiti-lo? E o
presidente da República não é exatamente assim? Weintraub foi contratado para o
cargo por ser fiel a Bolsonaro e ao bolsonarismo, e por que se dedica
devotamente a converter os descrentes e a tornar infernal a vida dos infiéis.
Noções de republicanismo, decoro, decência, liturgia e competência em gestão
não faziam parte dos requisitos para a função. Afinal, se nem de Bolsonaro os
eleitores exigiram isto, por que se haveria de exigir tal coisa dos ministros
do governo?
Em
suma, Weintraub não será demitido vez que o que consideramos os seus principais
defeitos são as mesmas características do presidente da República que o
contratou: incompetente, ignorante, sem noção do que está fazendo ali e de como
funciona um país, bruto, mal-educado, perdido. Similis cum similibus
congregantur, diria Cícero. Cada um se junta com os seus semelhantes, digo eu.
WILSON
GOMES é doutor em Filosofia, professor titular da Faculdade de Comunicação da
UFBA e autor de A democracia no mundo digital: história, problemas e temas
(Edições Sesc SP)
____________________________
Com
informações da Revista Cult.
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