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Dados do IBGE revelam que, pela primeira vez, negros são maioria nas universidade públicas. (FOTO/Mídia Ninja). |
Demorou
131 anos para que os negros, descendentes de pessoas escravizadas no Brasil até
1888, representassem pela primeira vez mais da metade, 50,3%, dos estudantes
matriculados no ensino superior público. É o que revela o levantamento “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no
Brasil”, divulgado nesta quarta-feira (13), pelo IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística).
Entre
os estudantes negros, de 18 a 24 anos, o percentual dos que frequentam o ensino
superior público ou privado aumentou de 50,5% em 2016 para 55,6% em 2018.
Apesar do avanço, os negros ainda estão mais de dez pontos percentuais abaixo
dos brancos na mesma faixa etária. Entre os estudantes brancos, de 18 a 24
anos, 78,8% frequentam o ambiente acadêmico.
De
acordo com Letícia Gabriella da Cruz Silva, mantenedora e voluntária do
Educafro, instituição que promove a inclusão da população negra e pobre nas universidades,
o avanço dos negros no ensino superior é resultado das políticas públicas
conquistadas com o esforço do movimento negro.
“A ascensão dos jovens negros no ensino
superior é fruto de muita luta dos movimentos sociais negros. A realização de
cursos populares, a isenção de taxa nos vestibulares e no Enem (Exame Nacional
do Ensino Médio) e as cotas raciais foram fundamentais para chegarmos aos
números expressivos da pesquisa. Os dados também mostram que as políticas
públicas fazem toda a diferença na vida das pessoas”, afirma.
Outros indicadores educacionais
Em
relação à população que havia concluído o ensino superior em 2018, os brancos
somavam 36,1% e os negros 18,3%. A taxa de ingresso no terceiro ano do ensino
médio é de 53,2% entre os brancos e 35,4% entre negros. Na faixa etária de 18 a
24 anos que concluiu o ensino médio e não estava estudando por precisar
trabalhar ou procurar emprego, 61,8% eram negros.
Ainda
na faixa de 18 a 24 anos, o número de negros com menos de 11 anos de estudo e
que não frequentavam a escola diminuiu de 30,8% em 2016 para 28,8% em 2018. O
indicador para a população branca é de 17,4%.
Para
José Henrique, professor e coordenador do núcleo da Uneafro na Ocupação 9 de
Julho, a implementação de políticas que melhorem a taxa de ingresso de negros
no ensino básico é urgente.
“Apesar de a melhora na representação negra
ser um marco importante da luta do movimento negro, a quantidade de alunos
concluintes do ensino médio é um gargalo que requer atenção. Ainda vemos os
governos estadual e federal despreocupados em melhorar o ensino médio. É
necessário democratizar a escola e melhorar as condições de trabalho dos
professores”, avalia.
O
índice de analfabetismo para brasileiros acima de 15 anos também diminuiu.
Entre os negros, a queda foi de 9,8% em 2016 para 9,1% em 2018. A taxa dos
brancos é de 3,9%.
Na
frequência à creche ou escola, crianças negras de até cinco ano passaram de
49,1% para 53%, enquanto 55,8% das crianças brancas têm acesso a essa etapa
educacional. Nos primeiros anos do ensino fundamental, para crianças de seis a
dez anos, o IBGE considera que não há diferença expressiva, com 96,5% das
brancas e 95,8% das negras acessando o ambiente escolar.
Mercado de trabalho e renda
O
novo levantamento do IBGE aponta que a desigualdade racial no mercado de
trabalho perdura. Em 2018, a população negra representava 54,9% da força de
trabalho no país (57,7 milhões de pessoas), e a branca, 43,9% (46,1 milhões).
Os negros correspondiam a 64,2% dos desocupados e 66,1% dos subutilizados.
No
mercado informal, sem carteira assinada e benefícios, no ano passado os negros
ocupavam 47,3% dos postos e os brancos 34,6%. Tanto nas ocupações informais
como nas formais, os negros tiveram rendimento menor do que os brancos.
A
renda média dos trabalhadores brancos foi de R$ 2.796, 73,9% superior ao dos
trabalhadores negros, que recebiam R$ 1.608. Por hora trabalhada, independente
do nível de instrução, em 2018 os brancos recebiam mais que os negros. Enquanto
o rendimento dos brancos atingiu R$ 17 por hora, o dos negros foi de R$ 10,1.
Na comparação entre os trabalhadores com ensino superior, os brancos ganhavam
por hora 45% a mais.
“A melhora no acesso da juventude negra ao
ensino superior é um avanço significativo, mas que deveria estar acompanhado de
uma boa perspectiva igualitária para representar a melhora econômica e social.
Apesar de a população negra estar conquistando a mesma qualificação que a
branca, os salários ainda não são os mesmos”, conclui o professor José
Henrique.
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Com
informações do Alma Preta.
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