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O Porto de Ilhéus exportará 27 mil toneladas de toras de eucalipto para Portugal após 30 anos com esse serviço interrompido. (FOTO/Amanda Oliveira/GOVBA). |
O
Porto de Ilhéus, na Bahia, exportará 27 mil toneladas de toras de eucalipto
para Portugal, após 30 anos sem registrar esse tipo de comércio. As transações
haviam sido paralisadas por falta de demanda, até serem retomadas em maio deste
ano. A primeira exportação experimental ocorrerá no início de julho, com outro
carregamento previsto para agosto.
A
carga de madeira in natura será vendida pela empresa Norflor Empreendimentos
Agrícolas, localizada em Montes Claros (MG), e importada pela The Navigator
Company, fábrica portuguesa de papel. As informações são da direção da
Intermarítima Portos e Logística.
"Não
há dúvida de que há um prejuízo para o Brasil ao estar exportando madeira
bruta", afirma o engenheiro florestal João Dagoberto dos Santos.
Segundo
ele, ao reforçar a posição do Brasil enquanto fornecedor de matéria prima, a
empresa deixa de incentivar o beneficiamento do material em território
nacional, mesmo com a tecnologia avançada de grandes empresas para se processar
o eucalipto e produzir celulose ou papel.
“Deixa
de se agregar valor aqui no Brasil, na região produtora. Estamos exportando,
alguns poucos estão ganhando e o prejuízo está ficando aqui", explica
Santos.
Ônus
ambiental
Além
de não favorecer a exportação nacional do produto final com valor agregado, o
engenheiro alerta sobre os danos ao meio ambiente causados pela monocultura de
eucalipto: “No monocultivo, se tem o uso de insumos e agroquímicos que inibem
toda a biodiversidade. A biodiversidade, quando vem, é tratada com herbicidas
ou com algum tipo de manejo porque, de alguma forma, significa praga e doença
pro monocultivo”.
Segundo
Regilmar Costa, diretor operacional do Porto de Ilhéus, a procura de Portugal
pelo eucalipto brasileiro ocorre justamente por conta de leis ambientais
portuguesas que restringiram a plantação da espécie.
Em
junho de 2017, um incêndio em Pedrógão Grande devastou mais de 30 mil hectares
de floresta e matou dezenas de pessoas em Portugal. O episódio suscitou o
debate sobre os riscos do plantio de eucalipto e resultou no endurecimento da
legislação.
Com
o possível retorno da exportação de toras de espécie em larga escala, as
consequências do plantio preocupam ativistas ambientais.
Valmir
Noventa, da direção do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), explica que,
além de impactar diretamente o solo, os chamados “desertos verdes” – termo
utilizado por ambientalistas para se referir à monocultura de árvores e plantas
em grandes extensões de terra – impactam os mananciais brasileiros.
Ele
cita que o desenvolvimento rápido do eucalipto, pronto para o corte em 6 ou 7
anos, faz com que nutrientes do solo e uma grande quantidade de água sejam
utilizados de modo intenso, o que leva ao desaparecimento de rios e nascentes.
De
acordo com a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase),
apenas na região Norte do estado do Espírito Santo, onde o eucalipto foi
introduzido na década de 1960, mais de 130 córregos já secaram.
“Havendo essa demanda internacional por
madeira in natura, certamente demandarão muito mais áreas aqui. Mas em que tipo
de solo? Solo agricultável. Solo de fácil mecanização, onde há potencial de
produção dessa madeira. São solos que certamente poderiam ser usados para
agricultura, para pecuária, para ocupação de comunidades, assentamentos, para o
próprio reflorestamento. Haverá uma pressão maior ainda em cima das áreas de
reflorestamento, das áreas que estão ocupadas por vegetação nativa. E também
sobre as comunidades, especialmente as ribeirinhas e quilombolas, que estão
nesses território”, alerta Noventa.
Há
ainda um outro dano ao meio ambiente causado pela exportação marítima, como é o
caso do Porto de Ilhéus.
Ao
passo que “em nome da sustentabilidade”
empresas produtoras e exportadoras do monocultivo do eucalipto destacam que o
plantio da espécie auxilia no “sequestro
de carbono” da atmosfera por meio da fotossíntese, a queima de combustível
de um navio que exporta 27 mil toneladas em uma viagem tão longa, com uma
embarcação tão pesada, neutraliza a ajuda disponibilizada pelos desertos
verdes.
Legislação
Dados
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mostram que as áreas
de plantios florestais com eucalipto estão distribuídas em todo o território
nacional, sendo que a região Sudeste detém 54,2% da extensão de áreas
plantadas.
Ainda
segundo consta no site órgão, os plantios florestais de espécies exóticas, como
o eucalipto, voltados para a produção e corte localizados fora das Áreas de
Proteção Permanente (APP) e de Reserva Legal (RL) são isentos de apresentação
de projetos, vistoria técnica e licenciamento ambiental para sua implantação.
Além
disso, a recomposição de vegetação que integra a RL permite o uso temporário de
até 50% de espécies exóticas, intercaladas com espécies nativas.
A
lei estadual nº 20.922/2013 estabelece que em Minas Gerais, onde está
localizada a Norflor Empreendimentos Agrícolas, empresa responsável pela
exportação experimental de 27 mil toneladas para Portugal, o plantio e o
reflorestamento com espécies nativas ou exóticas não dependa de autorização da
Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad),
assim como o seu corte, desde que estes plantios estejam cadastrados no órgão
ambiental.
"Dependem de declaração de corte ao Instituto
Estadual de Florestas (IEF) somente as florestas plantadas com espécies nativas
ou com espécies exóticas, que é o caso do eucalipto, quando a finalidade seja a
produção de carvão vegetal. Esta declaração visa o controle de carvão vegetal
dentro do Estado de Minas Gerais", informa a Semad.
Em
qualquer situação, seja no corte de espécies nativas ou exóticas, para
utilização in natura ou para a produção de carvão, há a incidência de taxa
florestal prevista por lei.
O
engenheiro florestal João Dagoberto dos Santos comenta que, apesar da
legislação, na atual conjuntura, há uma tendência de flexibilização do setor
florestal que pode ser muito prejudicial. Um sinal desse processo é a
subordinação do setor ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa), que há alguns anos era regido pelo Ministério do Meio Ambiente.
Outro
argumento utilizado pelos defensores da monocultura de eucalipto é o de que o
processo de plantação, produção e exportação gera empregos desde o início da
cadeia produtiva.
Santos
refuta a afirmação. “Isso é um equívoco,
porque a colheita é quase 100% mecanizada, ninguém colhe floresta com pessoas.
O plantio é super técnico e mecanizado. Estamos falando de colher árvores que
ficam com 20 metros, naturalmente gera-se pouco emprego. Pode gerar emprego nas
fábricas e ser bastante no município onde a fábrica está, mas, ainda assim, é
pouco em função do tamanho do setor e do que ele lucra.”
Segundo
a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), o setor de árvores tem impacto
relevante na economia do país, e representa 6,1% do PIB Industrial. Em 2017, a
indústria de base florestal fechou o ano com um superávit de US$ 9 bilhões,
avanço de 15% em relação a 2016.
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Com
informações do Brasil de Fato.
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