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Sala de Aula. (FOTO/Reprodução/CartaCapital). |
Em
vez de combater o desemprego, a fome ou a falta de moradia, Bolsonaro parece
decidido a levar adiante uma cruzada contra a Educação. Sua trajetória, é
verdade, jamais inspirou bons ventos para a área no Brasil, mas seria difícil
imaginar uma saga tão bizarra e com tamanha repulsa de um dos pilares centrais
para o nosso desenvolvimento.
A
passagem de menos de cem dias de Vélez Rodríguez pelo MEC dava a impressão de
ter garantido ao colombiano o título de pior ministro que ocupou a pasta na
história. O novo titular, Abraham Weintraub, parece, no entanto, ter um empenho
fervoroso em disputar o prêmio e segue a mesma direção, em ritmo até mais
acelerado do que seu antecessor.
Antes
mesmo de assumir, Weintraub defendia que os nordestinos deveriam trocar a Filosofia
pela Agronomia. Como ministro, o preconceito transformou-se em proposta de
governo anunciada e apoiada publicamente por Bolsonaro: corte de investimentos
em faculdades de Ciências Humanas de todo o País e foco em áreas que gerem um
suposto “retorno imediato ao contribuinte”.
A
alegação é de que esses cursos seriam elitizados, por isso deveriam ser pagos e
não oferecidos na universidade pública. “Pode estudar Filosofia? Pode”,
tranquilizou o ministro, como se estivesse sob sua alçada banir a disciplina do
Brasil. “Mas com dinheiro próprio.”
Qualquer
um que circula em universidades públicas percebe o perfil de quem frequenta
cursos como Filosofia e Sociologia. Somam hoje apenas 2% do total de alunos das
federais e, ao contrário do que é a regra em cursos como Medicina ou
Engenharia, a maioria não tem origem elitizada. Muitos são os primeiros de suas
famílias a ingressar no Ensino Superior. A formação desses jovens representa,
inclusive, um investimento crucial para o futuro: serão eles que vão lecionar em
milhares de salas de aula de escolas públicas e formar nossas próximas
gerações. Nada disso parece significar alguma coisa para o atual governo.
E a
imposição de critérios discricionários – e delirantes – para a distribuição de
recursos nas universidades não se limita aos cursos de Ciências Humanas.
Weintraub decidiu nos últimos dias anunciar um corte de quase 6 bilhões de
reais em gastos com água, luz, limpeza e bolsas de auxílio de universidades
federais para as instituições que, em sua prova de avaliação, promovem
“balbúrdia”. Para o ministro, uma instituição que organiza debates críticos ou
recebe “sem-terra dentro do campus” precisa ser retaliada.
O
corte de verbas por critérios ideológicos e, além de tudo, toscos é não só
autoritário como flagrantemente ilegal. Sabendo ser alvo fácil de uma ação de
improbidade, o ministro “recuou”, mas da maneira mais estúpida que se poderia
imaginar: estendeu o corte de 30% para todas as universidades federais.
Na
verdade, o que está em jogo não é o perfil social dos estudantes ou atividades
pontuais nas dependências das universidades, mas uma indisfarçável aversão ao
pensamento crítico. A educação que prepara para a vida e forma para a cidadania
é vista com temor. Nunca isso foi tão evidente num governo. Por isso atacam
tanto Paulo Freire. Por isso gostariam que a universidade fosse reservada
apenas para uma “elite intelectual”, cabendo aos demais apenas ler, escrever e
fazer contas.
Ao
contrário de seu carinho pelos milicianos, Bolsonaro sempre tratou professores
como inimigos. Estimula a violência, divulga vídeos descontextualizados por
meio das redes sociais, faz pronunciamentos preconceituosos. O ataque e a
perseguição são as bases de sua plataforma de governo. Fora delas, é incapaz de
formular propostas e sequer frases com algum nexo. O presidente, o “conge”
Sérgio Moro, o ministro da Educação que “insita” a violência e seu
“literalmente” incompreensível filho colocam até a língua portuguesa no rol de
adversários.
O
mais grave é que não se trata apenas de tuítes ou discursos. Seu governo
utiliza o ministério com maior orçamento do País para sustentar uma plataforma
de destruição da educação e manter seus alucinados sequazes em atividade. Caso
siga em marcha, os efeitos dessas medidas podem afetar milhões de brasileiros e
comprometer o futuro da próxima geração. (Por Guilherme Boulos na CartaCapital).
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Guilherme Boulos - Coordenador
do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Foi candidato à Presidência da
República em 2018, pelo PSOL.
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