![]() |
(FOTO: AGÊNCIA BRASIL/VALTER CAMPANATO). |
O 13
de maio de 1888 poderia ser uma data lembrada pelos bons frutos que deixou, já
que marca o dia da assinatura que acabou com a escravidão no Brasil. Poderia. A
Lei Áurea tinha apenas 1 parágrafo e nenhuma maneira de dar oportunidades aos
ex-escravos do País. O martírio continuaria.
Passados
131 anos, a maioria da população brasileira ainda encontra barreiras de difícil
transposição, independente de onde estiverem no cenário social do País. “Eu
achava antes que, quanto mais eu ascendesse, menos eu iria vivenciar essa
questão. Porém, quanto mais eu subo, mais eu estou em espaços raros para negros
e sinto estranhamento das pessoas na minha presença”, comenta Liliane Rocha,
mestra em Políticas Públicas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e CEO da
Consultoria Kairós, especializada em promover sustentabilidade e diversidade no
ambiente empresarial.
Segundo
pesquisas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese) de 2018, o mercado de trabalho absorve profissionais
negros para áreas tradicionalmente com rendimentos mais baixos, o que faz com
que essa parcela receba, em média, 69,3% do rendimento de não negros.
Por
mais que o debate esteja cada vez mais em destaque – para o incômodo da massa
conservadora que governa o País -, ainda são poucas as empresas que pensam em
políticas de diversidade para o quadro de funcionários. De acordo com a
pesquisa Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 maiores empresas do Brasil e
suas ações afirmativas, feito pelo Instituto Ethos em 2016, o assunto ainda é
incipiente na prática.
Contratar
mais negros é uma das soluções mais óbvias, mas não apenas. O conceito de
discriminação intergeracional pode explicar melhor sobre a disparidade de
oportunidades observada recentemente, de acordo com Adilson Moreira, doutor em
direito constitucional pela Universidade de Harvard e professor da Universidade
Mackenzie. “O que as gerações sofrem se
perdura no tempo. Se eu sou um homem negro e acabo de me formar na mesma
faculdade do meu colega branco, o meu colega ganhará mais do que eu. Se eu
tiver filhos, o meu colega já conseguiu acumular patrimônio e colocar o filho
em um cursinho particular, e eu não, porque ganho metade. O meu filho vai para
uma escola com menor qualidade, e assim vai.”
O
processo para inclusão, então, deve passar pelo esforço em adotar a diversidade
como cultura, e não apenas como mera estratégia de marketing – o que Liliane
Rocha definiu como diversitywashing. “As
pessoas precisam ter um espaço para prosperar”, disse a empresária, além de
acrescentar que é necessário olhar para as estratégias em curto, médio e longo
prazo.
“Os estigmas como dimensões prescritivas e
falsas generalizações existiam antes dos programas de diversidade e vão existir
depois”, acrescentou Moreira, que também é autor do livro ‘Racismo
Recreativo’, da coleção Feminismos Plurais. “Parte-se do pressuposto que todas as pessoas brancas estão nos lugares
por competência, quando temos uma cultura do clientelismo, nepotismo e
preferência”, comentou.
Até
o lucro das empresas mostra que políticas por inclusão constroem melhores
negócios. De acordo com pesquisa feita pela consultoria inglesa McKinsey em
2017, a correlação entre diversidade étnica e de gênero e a performance
financeira mantém-se em todas as regiões do mundo. Empresas com essas políticas
em mente tinham 33% maiores chances de maior lucratividade do que as que menos
investiam.
Para
Adilson Moreira, trabalhar contra o mito da meritocracia é também selecionar
talentos por meio de ações pró-ativas, que busquem jovens fora do círculo comum
de universidades de elite e que, mesmo nessas, os executivos se mostrem
compromissados com as causas.
Nos
negócios, Liliane Rocha aponta que não há mais debate internacionalmente sobre
o assunto. “Os CEOs são unânimes em
considerar que a questão racial é prioritária”, comenta. “Não é mais uma
escolha.”
__________________________________________________________
Por Giovanna Galvani, na Carta Capital
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!