![]() |
Integrantes da comunidade quilombola Serra Boca da Mata, em Jardim-CE. (FOTO/Reprodução/YouTube). |
Texto | Nicolau Neto
Entre
2012 a 2018, o número da população do Estado do Ceará que se declarou preta
dobrou. A informação tem como base os dados publicados na última quarta-feira,
22, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a partir da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua 2018.
Nesse
intervalo de tempo a população preta cearense teve um aumento de 82%, passando
dos 253 mil para 480 mil. Em termos percentuais o Ceará conta hoje com 5,3% de
pretos/as. Em 2012 o número era apenas de 2,9%.
O
Blog Negro Nicolau (BNN) entrou em contato com especialistas em questões
étnico-raciais para saber o porquê desse aumento na população cearense que se
autodeclarou preta.
Para
Valéria Carvalho, do Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), “o aumento dos pretos e pardos dar-se à
conjuntura em que estamos e o trabalho desenvolvido pelos movimentos negros
espalhados pelo país. Essa conjuntura, onde temos a morte da Marielle e os
tantos grupos como o Grunec e pessoas como você trabalhando nas bases faz com
que as pessoas comecem a se afirmarem”.
Ela
disse que ainda precisa refletir sobre a questão, mas a princípio destacou
esses pontos. “A conjuntura e o trabalho
desenvolvidos pelos diversos grupos estão fazendo as consciências despertarem e
as pessoas passam a não mais ter medo de se afirmarem pretos”, afirmou
Valéria que ainda citou exemplos:
“A exemplo disso temos as comunidades como a de Salitre, Arapuca e de Porteiras. Essas comunidades que a gente trabalha que quando a gente chegava lá para falar de preto e de quilombola era um bicho de sete cabeças, hoje as pessoas se declaram, se afirmam”, pontuou.
Outro
fator que segundo ela tem ajudado para esse aumento é a nova geração das
universidades e o tombamento.
Karla
Alves, do Grupo de Mulheres Negras do Cariri - Pretas Simoa, atribuiu o aumento
dessa autodeclaração ao trabalho desenvolvido pelos movimentos no que pese a
valorização negra e do reconhecimento dessa presença no Estado. Quando
questionada ela foi taxativa - “Ao nosso trabalho de valorização negra e de
reconhecimento de nossa presença e história na construção do estado do Ceará”.
A
professor Dra Cícera Nunes, do Departamento de Pedagogia da Universidade
Regional do Cariri (URCA), seguiu a mesma linha de Valéria e Karla.
"Eu atribuo a ação dos movimentos negros que tem atuado no sentido de visibilizar a nossa presença e contribuir com o processo de fortalecimento das identidades", destacou ela.
Ainda de acordo com a pesquisa que é feita a partir da percepção de cor e raça do entrevistado e da entrevistada, o número de pardos no Ceará equivale a 65,7%, enquanto que as pessoas que se autodeclararam brancas atingiu 28,2%. Se somados pardos e pretos, o número de negros no Ceará atinge 71%.
Tanto
para o IBGE quanto para o Estatuto da Igualdade Racial, a população negra é
definida pela soma de pretos e pardo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!