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Há 43 anos, Vladimir Herzog foi torturado e morto pela ditadura militar brasileira. (FOTO/Mirante Lab). |
Hoje
completam-se 55 anos do início do golpe, quando os militares retiraram um
governo legítimo do poder e deram início a uma ditadura sangrenta, marcada pela
perseguição política, pela cassação de parlamentares, de direitos, pelas
torturas, assassinatos e desaparecimento de manifestantes e de cidadãos e
cidadãs que fizeram parte da oposição ao regime, pelo fechamento do Congresso
Nacional e pelo cancelamento das eleições diretas para presidente da República.
Sem
dúvida, foi um dos períodos mais sombrios de nossa história, e aqui no Brasil,
diferentemente de alguns outros países da América Latina, os militares nunca
fizeram uma confissão de culpa ou qualquer coisa perto disso. Muito pelo
contrário. No começo dessa semana, o militar que ocupa o cargo mais alto deste
País afirmou que é preciso celebrar a ditadura nos quartéis.
Aliás,
para Bolsonaro nem houve ditadura e, segundo ele, isso é invenção da esquerda.
Ele até chegou ao cúmulo de afirmar que o que tivemos foram “alguns
probleminhas como qualquer casal”.
As
declarações de Bolsonaro ressoaram negativamente nos quatro cantos do País. A
indignação e a pressão popular lhe causaram medo, tanto que ele fugiu de uma
visita que estava marcada na Universidade Mackenzie, em São Paulo. E na última
sexta-feira, ele, mais uma vez, voltou atrás do que disse, afirmando que não
falou em comemorar, mas “rememorar, rever o que está errado, o que está certo e
usar isso para o bem do Brasil no futuro”.
Só
que Bolsonaro precisa aprender que rever os erros implica em não esconder o
passado. Não dá para fingir que não houve censura, que 20 mil pessoas não foram
torturadas e que 423 não foram assassinadas ou desapareceram, segundo dados da
Comissão da Verdade. Não dá para reduzir os métodos de tortura – como
afogamentos, choques elétricos e pau-de-arara etc – a “alguns probleminhas”.
As
décadas de repressão deixaram marcas e contaminaram instituições. Nosso sistema
policial é, infelizmente, um grande exemplo disso. A polícia tornou-se militar
na ditadura e os métodos de tortura que os nossos policiais aprenderam naquela
época formataram a violência institucional que sofremos até hoje, sobretudo a
população negra e pobre que é humilhada, torturada e assassinada todos os dias,
em todos os estados brasileiros.
A
ditadura aprofundou os problemas sociais. Muita gente da laia de Bolsonaro faz
questão apenas de lembrar que a economia cresceu 10% ao ano entre o período de
1968-1973, mas esquece de rememorar o achatamento dos salários dos
trabalhadores e a concentração de renda, fatores determinantes para o boom da
desigualdade.
Portanto,
o crescimento do PIB não resultou na melhora nos indicadores sociais, como
espalham alguns.
Além
disso, tem a questão da corrupção. Já naquela época, os militares afirmavam que
iriam limpar o País da corrupção, mas o que fizeram foi censurar as notícias
sobre a roubalheira. É importante lembrar que o pagamento de propinas de
empreiteiras ao governo se consolidou no período ditatorial, e que empresas
como Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht viraram gigantes do mercado
naquela época. Coincidência, não?
É
importante esclarecer, também, que todo esse esquema de arbitrariedades
beneficiava apenas a alta cúpula militar. Muita gente de baixa patente ou até
dissidentes daquela doutrina hegemônica não ganharam nada com o regime e,
também, sofreram prisões e torturas.
Ao
querer celebrar o 31 de março, Bolsonaro demonstra não saber nada sobre o
Brasil e ser incapaz de enxergar nossa a história para além do véu do
corporativismo militar.
Não
dá para um presidente da República ter tanta sintonia com a ditadura – a ponto
de espalhar militares em 21 áreas do governo, o maior número desde a
redemocratização – e ignorar toda a herança negativa desse período. Já passou
da hora de Bolsonaro tirar a venda e perceber que hoje nós, brasileiros, não
temos nada a comemorar. (Coluna de Samia Bomfim para a Mídia Ninja).
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