![]() |
Para Dino (esq.) e Boulos, a atuação política do Judiciário representa adesão a uma visão de país para poucos. (Foto:RBA) |
A
juventude será a responsável por criar uma oposição unida e corajosa para frear
os futuros retrocessos. A constatação deu o tom ao primeiro dia de atividades
da 11ª Bienal da União Nacional dos Estudantes (UNE), nesta quinta-feira (7),
em Salvador. Especialmente na mesa temática que reuniu estudantes, políticos e
especialistas para discutir os 30 anos da Constituição.
Vistos
como importantes etapas da reconstrução democrática depois da ditadura, os
avanços sociais conquistados na Carta são alvos de duros ataques, iniciados
pelo governo de Michel Temer (MDB), que seguem com Jair Bolsonaro (PSL). A
resistência a esses ataques ocupou as intervenções do governador do Maranhão,
Flávio Dino (PCdoB), e do coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores
Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos. Compunham também a mesa o ex-deputado
constituinte e ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP) Haroldo
Lima, a professora da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP)
Maria Paula Dallari e o jornalista e escritor Emiliano José.
Boulos
e Dino foram enfáticos: é preciso ter unidade, coragem e emoção para enfrentar
as propostas dos grupos de Bolsonaro. Um dos principais desafios citados foi o
enfrentamento à reforma da Previdência, proposta pelo governo.
O
governador do Maranhão afirma que o conteúdo da reforma é político, com o
argumento oculto de que os pobres não cabem no orçamento federal.
"Atentem-se: é o corte de direitos dos quem menos têm. Vocês vão ter
aposentadoria após 40 anos de contribuição, ou seja, é um genocídio de vocês e
dos mais pobres, que jamais vão se aposentar", alertou, dirigindo-se à juventude.
Já o
ex-candidato à Presidência pelo Psol pede que seja feita a unidade de
movimentos sociais, estudantis e sindicais com os partidos progressistas para
que se crie uma "verdadeira oposição à agenda de Bolsonaro".
Entretanto, o recado dele é claro: a combatividade se dá nas ruas.
"Não vamos conseguir enfrentar o projeto de
destruição nacional nos limitando aos bons discursos nos carpetes do Congresso
Nacional. Vamos às ruas, com enfrentamento, com inspiração nas lutas
históricas. A reforma da Previdência será um teste importante para o nosso povo
e nossa luta", disse.
Defesa da Constituição
O
debate também lembrou que após duas décadas de uma ditadura civil-militar, com
graves consequências ao Estado democrático de direito, a Constituição reergueu
uma diretriz de pacto nacional, em 1988. Entretanto, todos lamentam que a atual
Carta Magna seja questionada por diferentes setores do mundo político e
jurídico.
Como
explica Haroldo Lima, a Constituição foi feita de baixo para cima, ouvindo
todas as comissões e setores sociais. Maria Paula acrescenta que, apesar das
diversas emendas, o texto foi fortalecido em alguns aspectos, como a educação,
durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Uma
das propostas de emenda à Constituição (PEC) citada por ela foi a criação do
Fundo de Educação Básica (Fundeb), que destinou R$ 38,2 bilhões para a educação
infantil, ensinos fundamental e médio e educação de jovens e adultos.
"A agenda da educação é decisiva para
diminuir a dívida social no Brasil. Não haverá bem-estar social sem essa
agenda. Na Constituição de 88, essa visão existia e fala sobre a autonomia da
educação superior, por exemplo. A construção da educação está ameaçada. Não
podemos comprar o discurso de que é para a elite intelectual, ela é para todos
que querem estudar, sim", afirmou a professora.
Boulos
brinca que é uma ironia a esquerda brasileira defender a Constituição. "Ela nem é bolivariana", diz,
provocando risos. "Foram tantos
golpes nos último cinco anos, contra os direitos sociais, liberdades democráticas,
que a Constituição se tornou uma bandeira nossa", acrescenta o líder
do MTST.
A
fragilidade da legislação social – que teve direitos respeitados e ampliados
sob os governos de Lula e Dilma, observou Boulos – revela que o país nunca
viveu em uma democracia plena.
Para
ele, foram conquistas como as alcançadas das áreas de educação, saúde,
distribuição de renda e expansão de oportunidades que desencadearam os ataques
por parte da elite. "Eles argumentam
que os direitos não cabem no orçamento, que os direitos são privilégios. Porém,
é esse projeto selvagem neoliberal que não cabe na democracia. Para se
viabilizar, esse projeto ataca as vias democráticas e, por isso, irão tirar a
participação popular para silenciar a gente", afirma.
Papel do Judiciário
Flávio
Dino considera que a cumplicidade do Poder Judiciário abriu caminhos para a
retirada de direitos e retrocessos constitucionais, ao aderir a uma visão de
"país para poucos".
O
governador alerta que o Direito Penal tem sido utilizado como arma política.
Como exemplo, cita os Estados Unidos, que se apoiam em sua legislação para
justificar os "massacres sociais"
em nome do combate ao terrorismo. Na visão do governador, o mesmo é feito no
Brasil, mas o "inimigo" da
vez é um suposto combate à corrupção.
"Em nome de uma causa justa, o único líder
político (o ex-presidente Lula) recebe as penas mais graves. Isso é pelo fato
de ele carregar a memória de todas as lutas de classe. O discurso do 'direito
penal de inimigo' deve ser enfrentado já", afirma Dino.
Boulos
ressaltou que o Judiciário não deve sair da pauta de luta, já que o poder se
mostrou capaz de interferir no processo eleitoral. "Vamos ter de enfrentar no entorno das pautas que nos unem. O que
aconteceu ao ano passado, com Lula, não tem a ver gostar ou não dele, mas, sim,
com admitir que o Judiciário atua no processo político", conclui.
A
11ª Bienal da UNE vai até o próximo domingo (10). A programação anuncia como
convidados políticos, artistas e intelectuais, e a organização prevê a
participação de cerca de 10 mil estudantes de todo o Brasil. O campus Ondina,
da Universidade Federal da Bahia (UFBA), receberá oficinas, mostras, mesas de
debate políticos e culturais, além de shows e blocos de carnaval. (Com
informações da RBA)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!