![]() |
Principal ponto de reivindicação da série de atos é o respeito ao direito à terra. (Foto: Reprodução/Facebook). |
Os
povos indígenas terminaram ontem (31) uma agenda de mobilizações que ficou
conhecida como #JaneiroVermelho. Por meio do lema "Sangue Indígena,
Nenhuma Gota a Mais", o dia contou com mais de 60 atos no Brasil e nove no
exterior. Durante a tarde, a líder indígena Sônia Guajajara fez um balanço das
atividades e disse que segue o estado de alerta em defesa dos grupos étnicos
originários no Brasil.
O
principal ponto de reivindicação da série de atos é o respeito ao direito à
terra. Os indígenas denunciam medidas do presidente, Jair Bolsonaro (PSL), que
vão no sentido contrário da proteção a esses povos. Entre elas, destacam-se
três: a retirada da Fundação Nacional do Índio (Funai) do Ministério da Justiça
para o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos; a retirada da
responsabilidade da demarcação de terras da Funai para o Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento; e a municipalização da saúde dos índios.
Para
Sônia, tirar da Funai a responsabilidade pelo registro dos territórios
tradicionais representa um aceno para o agronegócio. Representa a ideia de que
os indígenas não possuem mais direito à terra, dando lugar às grandes empresas
produtoras rurais. "Esse governo
demonstra claramente que não vai demarcar terras indígenas, que está entregue
ao agronegócio. O Ministério da Justiça tem a estrutura que precisa ter para
fazer os estudos de demarcações. Este ministério aqui tem compromisso com o
agronegócio. Não é transferência, é falta de compromisso", disse, em
frente ao prédio que sedia a pasta da Agricultura.
O
temor que levou os índios a convocarem os diversos atos também tem relação com
o aumento da violência. Já foram registrados 15 ataques contra indígenas apenas
neste primeiro mês de 2019. Para Sônia, existe relação direta com o discurso do
presidente que, ainda em campanha, disse repetidamente que não demarcaria um
centímetro de terras. "A retirada
das demarcações fragiliza muito mais os territórios, a vida dos povos
indígenas. Com essa declaração de que não haverá mais demarcações, as pessoas
que tem intenção de invadir terras estão se sentindo representadas por este
discurso."
"Estamos sendo duramente atacados pela
autoridade máxima do país", completa a líder, que concorreu nas
eleições de 2018 à vice-presidência, em chapa liderada por Guilherme Boulos
(Psol). "Desde a primeira canetada
do presidente (a Medida Provisória 870), os conflitos se intensificaram.
Tivemos incêndios, ataques, tiroteios no Mato Grosso do Sul. O que vamos
esperar ao fim dos anos? Atribuímos essa violência aos pronunciamentos da
Presidência", disse.
Frente
a tais ameaças, Sônia falou sobre os próximos passos da resistência indígena.
"Entramos com uma ação no Ministério
Público Federal (MPF) e todos os estados acionaram as procuradorias. O MPF
chamou os povos para o diálogo e vamos entrar com uma ação direta de
inconstitucionalidade no Supremo (...) No Legislativo, estamos em conversa com
uma frente parlamentar para apresentar emendas à MP 870. Queremos nossas terras
demarcadas para termos nossa cidadania, nossa identidade."
Ao
lado de Sônia, a primeira deputada federal mulher indígena eleita, Joenia
Wapichana (Rede-RR), reforçou a mobilização constante dos povos originários.
"Esses atos são apenas os primeiros.
Estamos nos posicionando na véspera da posse do nosso mandato. Esse mandato
será dos povos indígenas. Minha atuação estará em aliança com as pessoas que
acreditam em um Brasil diferente. Um Brasil que respeite a vida e a diversidade
cultural. Que compreendam que a demarcação das terras indígenas não é apenas
questão ideológica, e sim Constitucional", disse.
"Precisam concluir as demarcações. Não somos
empecilho para o desenvolvimento do país e sim solução. Precisamos ser vistos
como um país que respeita a vida, que avança em questões socioambientais, que
têm um planejamento de acordo com a realidade, que respeite a natureza e os
direitos dos povos indígenas. Precisamos ter voz no Congresso, para que nenhuma
gota de sangue de nossos parentes seja mais derramada", concluiu.
Por
fim, a deputada federal reeleita Erika Kokay (PT-DF) fez discurso em defesa da
luta coletiva. "Estamos vivenciando,
a partir do Planalto, um processo de rompimento da civilidade, da democracia e
de todas as barreiras que dialogam com a vida e nossa condição humana. Esta
manifestação está acontecendo em todos os lugares e é a resposta que estamos
dando. Há coragem neste país para fazermos o enfrentamento. Coragem para
impedir a flexibilização das licenças ambientais, há coragem para defender os
povos originários deste país, há coragem para enfrentar uma ministra dos
Direitos Humanos acusada de sequestro de crianças indígenas." (Com informações
da RBA).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!