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(Foto: Reprodução/Blog do Sakamoto). |
Palavras
são importantes. O que ocorreu, nesta sexta (25), em Brumadinho (MG) não foi um
simples acidente e as mortes decorrentes tampouco são fruto do acaso. O que
ocorreu é resultado da incapacidade da Vale em garantir que suas operações não
matem seres humanos, polua a água, contamine o solo e destrua o meio ambiente e
da incompetência de autoridades dos Três Poderes em punir devidamente a empresa
quando ela causa tragédias ou prevenir antes que isso aconteça.
Investigações
vão apontar o que levou ao rompimento, mas o uso irresponsável da palavra
"acidente" faz crer que tudo isso seria inevitável, concedendo na
sorte e no azar uma responsabilidade que está nas mãos de empresas e governos.
Em
coletiva à imprensa, o presidente da Vale Fabio Schvartsman afirmou, repetidas
vezes nesta sexta, que eles não sabem o que ocorreu com a barragem da
mineradora que se rompeu em Brumadinho, na Grande Belo Horizonte, liberando 13
milhões de metros cúbicos de rejeitos da exploração de minério de ferro. Disse
que checagens e auditorias foram realizadas recentemente e tudo estava em conformidade
com os padrões.
Neste
momento, se eu fosse morador de municípios de Minas Gerais e de outros Estados
com barragens semelhantes sob responsabilidade da empresa ou de suas
controladas estaria bastante preocupado com a minha vida. Porque o "está
tudo bem" da Vale, atestando riscos baixos de tragédia, não vale muita
coisa.
Em
novembro de 2015, uma barragem em Mariana, sob responsabilidade da Samarco,
rompeu sobre o povoado de Bento Rodrigues, deixando 19 mortos e o maior
desastre ambiental da história brasileira, mudando para sempre a vida no rio
Doce. Pessoas ligadas à essa empresa e à Vale e à BHP Billiton, suas
controladoras, foram denunciadas pelo Ministério Público Federal por homicídio.
Eu
estive em Mariana no dia do desastre e escrevi aqui que, pouco depois do mar de
lama chegar à praia onde o rio Doce encontra o mar, as manchetes seriam
substituídas por outras tragédias. Mas que exatamente a mesma coisa aconteceria
de novo em Minas Gerais e que o cronômetro já tinha sido posto em contagem
regressiva.
Com a
anuência não só do Estado, que peca pela falta de fiscalização e punição, mas
também de parte da imprensa e da sociedade, que dedicam mais tempo ao
monitoramento do poder político do que ao comportamento danoso dos atores
econômicos.
Naquela
época, também disse que se o governo federal existisse e fosse autônomo, Dilma
Rousseff teria pego um avião imediatamente para sobrevoar o local, colocaria a
Vale contra a parede e aproveitaria a comoção pública para reabrir a discussão sobre
a regulamentação da mineração no Brasil, com efetiva participação das
comunidades atingidas e foco na responsabilidade empresarial e no direito ao
território e à dignidade humana. Não fez, nem Michel Temer – que aprovou
remendos no Código de Mineração através dos nada democráticos decretos
presidenciais. Tampouco a Justiça conseguiu punir os responsáveis e garantir as
devidas reparações e indenizações, apesar das cobranças do Ministério Público,
dos atingidos e da sociedade civil.
O
presidente Jair Bolsonaro anunciou que deve visitar a área neste sábado (26),
sendo mais célere que sua antecessora, o que deve ser reconhecido. Deveria,
para ficar à frente de Dilma e Temer, aproveitar o momento para rediscutir essa
regulação e, dar um giro de 180 graus no posicionamento ambiental que defendeu
na campanha.
Nossa
legislação deveria ser rigorosa na responsabilização das empresas, nas ações de
prevenção, na garantia de estrutura para fiscalização e nas situações em que a
proibição de exploração é o único caminho. Sim, porque às vezes para manter o
interesse da maior parte do público, o minério deve ficar onde está até que se
encontre uma maneira verdadeiramente racional de extraí-lo. E, uma vez
extraído, as empresas devem gastar o que for necessário para que os riscos
relacionados aos rejeitos seja limitados. Mesmo em prejuízo aos acionistas.
Por
fim, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou, diante do que
ocorreu em Brumadinho, que o Brasil não conta com uma "cultura de prevenir
para não remediar".
Será
ótimo que isso não seja apenas bravata e o governo que ele representa fortaleça
a fiscalização e o licenciamento ambiental (prevenindo que tragédias como a de
hoje voltem a acontecer, mas também outros crimes ambientais), recrie o
ministério do Trabalho e fortaleça a sua fiscalização (prevenindo trabalho
escravo, trabalho infantil e superexploração de pessoas), atue para inspecionar
agrotóxicos (prevenindo a liberação de produtos químicos agressivos aos seres
humanos e ao meio ambiente) e garanta a demarcação de territórios indígenas e
outros povos tradicionais (prevenindo que o sangue dessas populações que escorra
no campo brasileiro). (Por Leonardo Sakamoto, em seu blog).
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