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(Foto: Reprodução/Diário Online). |
“Acham
que caímos de paraquedas na universidade!”. A afirmação é de Márcia
Pinheiro, 22 anos, estudante do curso de Jornalismo na Universidade Federal do
Pará (UFPA), moradora da comunidade de Itacuruçá Alto, em Abaetetuba, região
Nordeste do Estado. A fala demonstra o quanto a conquista de uma vaga no ensino
superior por um remanescente de quilombola é algo complexo e considerado
distante.
A
jovem se queixa quando algumas pessoas dizem que ela e os demais alunos
quilombolas estariam ocupando a vaga de um estudante que mereceria mais que
eles a oportunidade de acesso a uma universidade. O assunto reúne uma série de
discussões, como preconceitos de diversas ordens e dificuldades estruturais
intrínsecas à maioria das comunidades no país.
Apesar
do Pará ser o estado da região Norte com o maior número de Comunidades de
Remanescentes de Quilombos (CRQs), ainda há pouco sendo feito para facilitar o
acesso e melhorar a educação nestas áreas, especialmente em relação ao ingresso
ao Ensino Superior.
Tais
dificuldades partem desde as metas do Plano Nacional de Educação (PNE), que não
possui nenhum ponto específico para a educação quilombola. Segundo o Ministério
da Educação (MEC), no entanto, as metas são bastante abrangentes: contemplam
crianças, jovens e adultos de todas as raças e etnias sejam elas de comunidades
tradicionais ou não, independentemente do Estado.
Com
227 comunidades espalhadas em mais de 40 municípios paraenses, esta camada da
população, ainda que tenha papel fundamental para a formação sociocultural do
país, permanece à margem da sociedade e sem condições adequadas de educação,
saneamento, saúde e segurança.
Em
geral, os remanescentes de quilombolas no estado estão ligados à produção
agrícola familiar, o que demanda bastante tempo, já que envolve o plantio, a
colheita e a distribuição dos produtos. Com isto, desde a infância, muitas
pessoas não conseguem prosseguir nos estudos e não concluem sequer o Ensino
Fundamental.
Contribui
ainda para este panorama o número reduzido de escolas em áreas quilombolas (o
Pará possui de 158 a 430 escolas, segundo dados de 2012 da Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial). A problemática completa, assim, um
ciclo histórico: sem alternativas econômicas e grandes perspectivas sociais, os
quilombolas no Pará dificilmente concluem todos os níveis de ensino. Ingressar
a um curso superior ainda é visto por eles como um grande desafio que, quando
alcançado, é comemorado não somente pela família, mas por toda a comunidade.
Estas
comunidades ainda carregam algumas chagas do período de escravidão, possuindo
problemas que estão longe de serem solucionados.
Para
Maria do Socorro Amoras, doutora em Antropologia e professora no curso de
Serviço Social da UFPA, é necessário levar em conta que essas populações são
agentes de suas escolhas e têm o direito de dizer como querem continuar vivendo
em seus territórios e fazendo suas incursões com os grupos externos, seja como
professores, advogados, médicos, engenheiros, assistentes sociais, físicos etc.
“Permanecer na terra e lutar por ela não
significa viver unicamente do trabalho rural. Tive a oportunidade de ver
eletricistas, professores graduados, pedreiros, motoristas e estudantes
universitários que trabalham na cidade, mas que dizem não conseguir afastar-se
do trabalho com a terra. Nessas comunidades é comum se ouvir que é desonroso
abandonar a terra”, diz.
Mudanças
são aguardadas e necessárias, há décadas. Entre elas, está até mesmo a ausência
de definição de um local próprio – já que boa parte das localidades
remanescentes já tiveram suas terras tituladas, enquanto outras seguem
aguardando a confirmação da posse da terra. A educação, que deveria ser a base
da busca de um futuro promissor e melhores condições de vida, também fica
comprometida.
Algumas
ações vêm contribuindo para de algum modo facilitar a entrada dos remanescentes
em instituições de ensino superior, como a existência, desde 2013, do Processo
Seletivo Especial (PSE), promovido pela Universidade Federal do Pará UFPA e
pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). O vestibular é voltado para
as comunidades quilombolas, indígenas e moradores do campo.
De
acordo com o MEC, em todo o Brasil, há atualmente seis universidades federais
oferecendo formação continuada para professores que trabalham com alunos
quilombolas. Outra ação destacada pelo Ministério é o incentivo à capacitação
de gestores dos sistemas, das escolas, das coordenações pedagógicas e/ou
núcleos da diversidade, sejam de instituições públicas ou particulares.
Além
disso, o crescimento no número de faculdades particulares na Grande Belém e em
municípios do interior, maior disponibilidade de aparelhos tecnológicos,
operadoras de internet e aumento de iniciativas, como a criação de infocentros,
contribuem para o acesso à informação, interesse e possibilidade de tentativas
de vagas por parte dos quilombolas.
Tais
mudanças, ainda que tímidas, ainda não conseguem alterar outro problema grave
que se arrasta há séculos: o preconceito. Falar da história dos negros é fazer
referência também, infelizmente, à história do racismo, que ainda persiste,
velado ou não, na sociedade brasileira.
Neste
caleidoscópio de dificuldades, mas também possibilidades, surgem então novas
lutas que envolvem os quilombolas na busca pelo acesso e pela permanência no
Ensino Superior. Diversas trajetórias, dificuldades, processos seletivos ajudam
a compor um quadro de possíveis modificações na educação no estado e mesmo no
país. (Com informações do Diário Online).
Confira vídeo abaixo
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