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A manifestação de terça, 23, participam Chico, Caetano e Mano Braw. (Foto: Ricardo Stuckert). |
Mano
Brown, rapper de 48 anos que saiu e entende da favela, tinha jurado para si
nunca mais subir em palanque político, mas quebrou a promessa na terça-feira 23
à noite, ao participar, no Centro do Rio, de um ato a favor de Fernando Haddad,
ao lado de Chico Buarque e Caetano Veloso.
“Não
consigo acreditar que pessoas que me tratavam com tanto carinho, pessoas que me
respeitavam, me amavam, que serviam o café de manhã, que lavavam meu carro, que
atendiam meu filho no hospital, se transformaram em monstros. Eu não posso
acreditar nisso”, discursou o sempre carrancudo Brown, em alusão ao
bolsonarismo que seduziu parte das periferias brasileiras.
“Se
em algum momento a comunicação do pessoal daqui (do PT) falhou, vai pagar o
preço. Porque a comunicação é alma. Se não tá conseguindo falar a língua do
povo, vai perder mesmo, certo? Falar bem do PT pra torcida do PT é fácil”,
prosseguiu, entre vaias e aplausos. “Deixou de entender o povão, já era. Se nós
somos o Partido dos Trabalhadores, o partido do povo tem que entender o que o
povo quer. Se não sabe, volta pra base e vai procurar saber.”
A
desconexão petista com as bases foi causada pela burocratização do partido nos
tempos no poder em Brasília e resultou num aparente esquecimento de que a razão
primeira de ser do campo progressista no Brasil é melhorar as condições de vida
da maioria pobre.
Diante
dessa desconexão – exceção feita ao Nordeste, terra de 39 milhões de eleitores,
26% do total –, o candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro, do PSL, chegou
favorito às vésperas do dia D. Tinha 50% contra 37% de Haddad em um Ibope da
terça-feira 23 e 44% a 39% em um Vox Populi do dia seguinte.
As
vítimas inconscientes da treva à vista que se preparassem para o pior. “As
pessoas não sabem que estão votando contra si ao votarem no Bolsonaro”, diz Wellington
Leonardo da Silva, presidente do Conselho Federal de Economia. O PT, afirma,
foi tímido em expor as ideias do adversário, e a mídia não tinha interesse no
assunto, para não contrariar seus anunciantes, bancos, grandes empresas.
Em
junho, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a OCDE, um
clube de países desenvolvidos, mostrou que é cada vez mais difícil os pobres
subirem na vida pelo mundo. A distância deles para os ricos aumenta desde a
crise financeira global de 2008.
Por
razões históricas, no Brasil é pior. Somos penúltimos em um ranking de ascensão
social com 30 países, elaborado pela OCDE. Com Bolsonaro no poder, teoriza
Leonardo da Silva, ficará mais grave. O deputado e seu guru econômico, o
ultraliberal Paulo Guedes, planejam aprofundar a reforma trabalhista de Michel
Temer, por exemplo. “Imagine uma pessoa trabalhando sem jornada limitada de
horas, sem 13º, sem Previdência... Acabará a perspectiva de uma vida melhor,
vão trabalhar só para sobreviver”, diz o presidente do Cofecon.
Com
pouca grana no bolso, afirma, as pessoas dependerão mais do SUS e da educação
pública, e estes vão sucatear com o congelamento de gastos por 20 anos aprovado
por Temer e que Guedes promete manter.
Em
2019, a Saúde terá pela primeira vez menos verba em anos, 129 bilhões de reais,
1 bilhão a menos que este ano. Na surdina, o time bolsonarista sopra que quer
cobrar mensalidade de universidades federais, ao menos de quem pode pagar.
Na
quarta-feira 24, protestos contra o corte de gastos públicos terminaram em
pancadaria em Buenos Aires. A polícia reprimiu com balas de borracha, gás
lacrimogêneo e jatos d’água. A Argentina está em recessão, tem hoje o maior
juro do mundo.
Em
setembro, o governo anunciou o fechamento de dez ministérios, um deles foi o da
Saúde, agora uma repartição de outra pasta.
Marca
da gestão neoliberal de Mauricio Macri, a austeridade foi ampliada por um
acordo de 57 bilhões de dólares com o FMI este ano. Guedes reza pela mesma
cartilha neoliberal. Bolsonaro quer ter boa relação com Macri caso eleito,
ambos conversaram por telefone em outubro.
Dá
para imaginar como o ex-capitão trataria protestos. Em um ato na Avenida
Paulista a seu favor no domingo 21, ele despontou em um telão com um aviso aos
adversários petistas. Vai “varrer do mapa esses bandidos vermelhos do Brasil”,
“ou vão para fora ou vão para a cadeia”.
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