Para
79% da população, é importante que um candidato à Presidência da República
acredite em Deus – sendo que 67% concorda totalmente com isso e 12%,
parcialmente. Uma minoria de 21% acha que isso é irrelevante ou é indiferente.
Os dados são da pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta terça (13).
O
brasileiro aceita mais facilmente alguém que tenha fé no Deus cristão do que
alguém que não acredite ou não tenha certeza disso. E nem precisa ser da mesma
religião – apenas 29% dos entrevistados do Ibope acha que o candidato deva
compartilhar da mesma fé que eles.
Até
aí, nada de novo. Ficaria chocado se o país elegesse hoje um presidente que não
precisasse esconder o fato de ser ateu convicto de seu eleitor com medo que o
seu caráter fosse, estupidamente, julgado por conta disso. Pela natureza de alguns debates públicos em eleições
passadas, não parecia que estávamos escolhendo um líder político, mas
participando de um conclave para definição de papa.
No
dia em que isso ocorrer, creio que atingiremos a maturidade como democracia.
Não porque ateus são melhores e religiosos são piores, longe disso. Mas porque
teremos compreendido que, se o governante zelar pela dignidade e igualdade de
direitos de todas as crenças, sua fé pessoal é tão importante quanto o time de
futebol pelo qual torce.
A
história mostra que garantir salvo-conduto a figuras de autoridade reconhecidas
por sua fé pode resultar em sofrimento profundo. Quantas vítimas de certos
padres católicos que cometeram abusos sexuais gritaram por anos sem serem
ouvidas? Quantos bispos de algumas religiões evangélicas foram acusadods de
crimes e até de estupro e suas congregações fecharam os olhos para não encarar
o pecado?.
A
fé pode se juntar à política com o objetivo de libertar o espírito e o corpo da
opressão, como na Teologia da Libertação ou em movimentos semelhantes que
existem entre protestantes e mais especificamente nas denominações evangélicas –
apenas para citar o cristianismo. Ou ser instrumento para causar dor, caminho
para reduzir a dignidade de outra pessoa ou limitar os direitos fundamentais de
outro grupo social. Quantos adeptos de religiões de matriz africana não sofrem
com administradores públicos que abraçam interpretações fundamentalistas da fé,
ignorando a violência cometida contra esses adeptos e seus centros?
No
Brasil, mesmo aqueles políticos que não se dizem religiosos, quando tentam
atingir ou manter o poder, atendem às demandas de grupos ultraconservadores com
vistas à chamada governabilidade. Por exemplo, o combate à homofobia através da
educação não avança por conta da pressão de deputados da bancada
fundamentalista e pelos cálculos políticos do Palácio do Planalto.
O
povo quer um candidato que acredite em Deus. Prefiro um que acredite no povo. E
garanta a separação Estado e religião, relação que, por aqui, anda querendo
formalizar união estável com a benção do Supremo Tribunal Federal – que liberou
a catequese nas escolas.
Deveríamos
seguir o conselho do sábio de barba – neste caso, Jesus Cristo, não Karl Marx.
No Evangelho atribuído a Mateus, capítulo 22, versículo 21: ''Dai, pois, a César o que é de César e a
Deus, o que é de Deus''. (Por Leonardo Sakamoto, em seu Blog).
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Parlamentares evangélicos oram no Congresso Nacional. (Foto: Saulo Cruz/ Agência Câmara). |
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