Um
aluno da Faculdade Getulio Vargas (FGV), no Centro de São Paulo, tirou uma foto
de outro estudante da mesma instituição e compartilhou em um grupo de whatsapp
com a frase: “Achei esse escravo no fumódromo! Quem for o dono avisa!”. A
vítima registrou boletim de ocorrência por injúria racial e o autor da foto foi
suspenso da faculdade por 3 meses.
O
agressor, de acordo com o boletim de ocorrência, é Gustavo Metropolo que, logo
após a mensagem se espalhar pelas redes internas, retirou todos os seus perfis
das redes sociais.
A
Fórum tentou entrar em contato através do seu celular, mas ele não atendeu.
Em
um grupo da GV no Facebook, a vítima conta que foi chamada pela Coordenação de
Administração Pública na terça-feira (6) e informada que um aluno do 4º
semestre do curso de Administração de Empresas compartilhou a foto com a frase.
No
post, a vítima diz que o colega teve atitude “covarde”. “Tão perto de
mim…porque não foi falar na minha cara? Mas você optou pela atitude covarde de
tirar uma foto minha e jogar no grupo dos amiguinhos. Se seu intuito foi fazer
uma piada, definitivamente você não tem esse dom. Acha que aqui não é lugar de
preto? Saiba que muito antes de você pensar em prestar FGV eu já caminhava por
esses corredores. Se você me conhecesse, não teria se atrevido. O que você fez
além de imoral é crime! As providências legais já foram tomadas e você pagará
pelos seus atos”, diz post publicado em grupo da faculdade no Facebook.
“Não descansarei até você ser expulso dessa
faculdade. Pessoas como você não devem e nem podem ter um diploma da Fundação
Getulio Vargas. A mensagem é curta e direta. Mas serve para qualquer outrx
racista da Fundação. Não passará!”
O
boletim por injúria racial foi registrado no 4º Distrito Policial da
Consolação, na região central da cidade, nesta quinta-feira (8).
Em
nota, a FGV afirma que ante “possível
conotação racista da ofensa” “aplicou
severa punição ao ofensor, que foi suspenso por três meses”.
“O comentário ofensivo foi feito em grupo privado do qual o ofensor fazia parte, sem qualquer participação, ainda que indireta, da FGV. Ante a possível conotação racista da ofensa, firme em sua postura de repúdio a toda forma de discriminação e preconceito, a FGV, tão logo tomou conhecimento dos fatos, tal qual prevê seu Código de Ética e Disciplina, de imediato aplicou severa punição ao ofensor, que foi suspenso de suas atividades curriculares por três meses, estando impedido de frequentar a escola, sem ressalva da adoção de medidas complementares, a partir da apuração dos fatos pelas autoridades competentes”, diz o texto.
O
Diretório Acadêmico Getúlio Vargas disse, por meio de nota, que uma carta de
denúncia será apresentada à Congregação, órgão colegiado capaz de deliberar a
respeito da expulsão do aluno.
“Reiteramos, ainda, nosso profundo repúdio ao
ocorrido. Nossa gestão assumiu o DAGV com o compromisso de trabalhar junto aos
coletivos por uma faculdade mais inclusiva e democrática, e por um ambiente
universitário verdadeiramente acolhedor a todos e todas que nele estão”,
diz a nota.
O
coletivo negro 20 de Novembro FGV
também se manifestou e pediu “basta de
preconceito”.
“Vivemos num país livre. Infelizmente essa
liberdade muitas vezes é tão somente formal. As desigualdades de renda, classe,
gênero e de cor nas terras de Machado de Assis, Dandara, Luís Gama, Carolina de
Jesus, Joaquim Barbosa e Thais Araújo, nos dizem que indivíduos ainda são
cerceados de ser quem realmente são. Negros e negras são minoria nas
prestigiadas instituições de ensino superior. Homens negros são a maior parte
da população carcerária do país. Mulheres negras sofrem duas vezes mais com o
feminicídio do que mulheres brancas. Crianças negras são a grande maioria do
corpo discente do péssimo ensino público. LGBTSs negros fazem parte de uma das
populações mais vulneráveis para o desenvolvimento de doenças mentais. Sendo
assim, o coletivo 20 de novembro se levanta e diz: Basta!”
Nota de Repúdio Cursinho FGV
Nós,
do Cursinho FGV, expressamos nosso repúdio ao ato de racismocontra um dos
alunos da Escola de Administração de Empresas (EAESP), denunciado terça-feira
dia 06/03, dentro da Fundação, praticado por um ex-docente do Cursinho FGV.
Tendo a situação chegado ao nosso conhecimento no dia 08/03 após ter sido
divulgado em grupos da FGV.
Como
entidade estudantil que visa promover a diversidade dentro da Fundação Getúlio
Vargas e a promoção do acesso à educação de maneira geral, é com grande
tristeza e revolta que enxergamos o ocorrido. Possuímos o ingresso de nossos
alunos na Fundação Getúlio Vargas como objetivo e passamos a imagem da Fundação
como um ambiente convidativo e enriquecedor, porém, diante episódios hostis
como esse, nos sentimos desacreditados. Consideramos absolutamente inadmissível
a perpetuação desses comportamentos dentro do ambiente acadêmico e, por essa
razão, enfatizamos a importância de medidas que efetivamente combatam esse tipo
de conduta.
Uma
vez que o referido aluno não faz parte de nosso corpo docente desde outubro de
2017, gostaríamos de declarar aos atuais e antigos alunos do Cursinho FGV que a
Fundação é um espaço nosso, e que vamos continuar o ocupando mesmo que isso
gere incômodo e desconforto em um ambiente no qual os privilégios ainda são
evidentes, mas que têm caído a cada dia.
O
Cursinho FGV aguarda um posicionamento oficial da Escola de Administração de
Empresas (EAESP) da Fundação Getúlio Vargas e da Congregação da Fundação Getúlio
Vargas. Por fim, gostaríamos de oferecer nossos sentimentos e nosso apoio à
vítima do ocorrido e ao Coletivo 20 de novembro. (Com informações do G1 e da Revista Fórum).
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A postagem racista à esquerda e o autor à direita. (Foto: Reprodução). |
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