Ciro
Gomes é um candidato a presidente deveras interessante.
Sua
visão dos problemas brasileiros reúne um conhecimento profundo de economia ao
objetivo genuíno de melhorar as condições de vida do povão.
Ciro
bate constantemente no rentismo e na concentração de renda absurda do nosso
país. Foi linha de frente na luta contra o golpe. É, portanto, um aliado do
campo de esquerda.
Dito
isto, suas posições sobre a imprensa hegemônica são decepcionantes, para dizer
o mínimo.
Ciro
participou ontem de um tal “2º Encontro Folha de Jornalismo”. Foi entrevistado
pela colunista Mônica Bergamo.
O
início é constrangedor. Ciro elogia a Folha e sua dona, a família Frias, por
prestar informações plurais e fidedignas.
Apenas
o episódio da ficha criminal falsa de Dilma Roussef, divulgada em 2009 pela
Folha, desmente espetacularmente os elogios de Ciro. A própria Folha admitiu
depois (aqui) que não poderia assegurar a autenticidade da ficha mas
complementou, de forma cretina, que a autenticidade também “não pode ser
descartada”.
De
lá para cá a coisa só piorou. A Folha é um veículo a serviço do capital e faz
um jornalismo absolutamente desonesto, muitas vezes bandido, mentindo e
manipulando loucamente para atacar a esquerda, além de ter sido uma das grandes
propulsoras do golpe de Estado que Ciro tanto combateu, em um conluio aberrante
com o sistema de justiça.
A
primeira pergunta da entrevista é sobre Lula. O próprio Ciro, após respondê-la,
brinca que quer falar um pouco das suas próprias ideias ao invés de falar do
ex-presidente, “se não sai na Folha amanhã ‘Ciro mete o pau no Lula'”.
Elementar,
meu caro Gomes.
Ciro
sacou de pronto qual a grande motivação para que fosse convidado ao evento –
gerar manchetes contra Lula a partir de críticas vindas do campo da esquerda –
e mesmo assim prestou-se ao lamentável papel.
Perguntado
sobre a regulação da mídia, Ciro repetiu a estúpida frase de Dilma e disse que
“a melhor regulação da mídia é o controle remoto. (…) Quer mudar de canal? Muda
de canal. Não precisa o governo regular”.
Na
resposta anterior ele mesmo havia criticado o fato de que a mídia no Brasil é
controlada por cinco famílias e uma igreja e tem uma linha ideológica única. Do
que serviria o controle remoto, então? Deve ser para a pessoa escolher qual
veículo de direita, anti-povo e antidemocrático irá manipulá-la.
Diz
que hoje há o contraponto da internet, mas esqueceu de dizer que a brutal
concentração de mídia no país tem um poder de fogo incomparavelmente maior do
que qualquer post de blog ou em rede social.
A
Globo, Folha e demais integrantes da máfia midiática são as grandes
responsáveis pelo caos golpista no qual estamos metidos.
Seu
papel no golpe de 2016 e na perseguição a Lula é fulcral. Sem a pesada
manipulação midiática – a qual só é possível porque não há qualquer
regulamentação que faça com que a imprensa expresse a pluralidade política da
sociedade – a Lava Jato simplesmente não teria como fazer o que fez.
Por
suas falas, Ciro aparenta ignorar tudo isso, o que não me parece provável, dada
a sua inteligência. A outra hipótese é que finja ignorar deliberadamente, para
talvez tentar angariar alguma simpatia dos barões da imprensa.
Caso
a segunda tese seja mesmo a correta, Ciro comete um equívoco grosseiro.
Ele
está sendo poupado pela velha mídia até agora porque suas críticas a Lula
servem aos interesses da direita.
Assim
que Lula estiver definitivamente fora do páreo, as baterias do oligopólio de
mídia se voltarão para qualquer candidato do campo progressista.
Ciro
cedo ou tarde será o alvo do massacre midiático que ataca impiedosamente
qualquer candidato a presidente não alinhado ao projeto político da direita.
O
controle remoto não vai ajudá-lo. (Por Pedro
Breier, no Cafezinho).
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Ciro Gomes. (Foto: Fórum). |
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