O
programa político do PSDB de 17 de agosto defendeu a adoção do sistema
parlamentarista no país. Anunciado no vídeo como um modelo que “obriga os políticos a terem mais
responsabilidades”, utilizado “pelas
democracias mais sólidas do mundo”, o parlamentarismo é adotado em países
como Alemanha, Suécia, Espanha, França, Portugal, Japão e Canadá. Privilegia-se
o papel do primeiro-ministro, escolhido entre os parlamentares, em detrimento
da figura do presidente ou do rei, no caso das monarquias.
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Propaganda do PSDB. |
Por
Patrícia Figueiredo, no DCM - Uma das vantagens do sistema, segundo o vídeo do
PSDB, seria a maior representatividade feminina. Os narradores afirmam que “em
todos os países parlamentaristas existe uma forte representação das mulheres”.
O Truco – projeto de checagem de fatos da Agência Pública– descobriu que há 79
países parlamentaristas nos quais a representação feminina no parlamento está
abaixo de 30%, porcentual considerado como o mínimo necessário segundo os
padrões recomendados pela ONU. Por isso, a afirmação foi classificada como
falsa. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do PSDB não informou
qual foi a fonte do dado usado no vídeo e também não comentou o resultado da
checagem.
Uma
resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) publicada em 1990 indica que
as mulheres devem ocupar ao menos 30% dos cargos de liderança em governos e
partidos políticos para a promoção da igualdade de gênero. Segundo a União
Interparlamentar (UIP), organização internacional que promove a colaboração e o
diálogo entre parlamentos de todo o mundo, somente 47 países de diferentes
sistemas atingem o porcentual indicado pela ONU atualmente em suas Câmaras. O
Brasil possui hoje apenas 10,7% de mulheres na Câmara dos Deputados e 14,8% no
Senado.
A
UIP atualiza regularmente um ranking mundial da participação feminina nos
parlamentos. A organização elenca os países segundo o número de mulheres nas
casas inferiores (lower houses, equivalentes à Câmara dos Deputados) e nas
casas superiores (upper houses, equivalentes ao Senado). Nem todos os Estados
possuem casas superiores; por isso, os gráficos a seguir incluem apenas a
participação nas instâncias inferiores, equivalentes à nossa Câmara.
Participação feminina no parlamento e
sistema de governo
Com
base nos dados da UIP associados a informações do The World Factbook da CIA e
da Wikipedia, o Truco montou uma tabela relacionando duas informações
principais: o sistema de governo e a representatividade feminina de cada um dos
193 países listados pela UIP. Entre os 47 países com maior representatividade
feminina, 29 são parlamentaristas e 17 são presidencialistas.
Apesar
de os dados mostrarem que os países parlamentaristas são maioria entre os que
têm alta representatividade feminina, isso não significa que os números sejam
altos para todos os que adotam esse sistema. O Truco analisou também os dados
para Alemanha, Suécia, Espanha, França, Portugal, Japão e Canadá, citados no
programa do PSDB como exemplos de nações parlamentaristas. Dois deles, o Japão
e o Canadá, registram índices abaixo dos 30% recomendados pela ONU.
O
Japão, inclusive, tem participação inferior à verificada no Brasil: apenas 9,3%
das parlamentares são mulheres no país, o que o coloca na 164ª posição no
ranking geral da UIP. A taxa representa menos da metade da média mundial, que
passou de 11,3% em 1995 para 22,1% em 2017. O número deixa o Japão no grupo de
32 países onde a representação das mulheres no parlamento fica abaixo dos 10%.
Além
do Japão, há outros 13 países parlamentaristas neste grupo: Botsuana, Belize,
República Democrática do Congo, Mali, Butão, Tuvalu, Sri Lanka, Tonga, Kuwait,
Papua Nova Guiné, Haiti, Ilhas Salomão e Vanuatu. Completam a seleção final da
tabela outros 11 países presidencialistas e sete que seguem outros regimes de
governo alternativos. Nota-se, portanto, que a maioria dos países na faixa
abaixo de 10% é parlamentarista. Portanto, tanto no grupo com os melhores
resultados em representação das mulheres quanto no grupo com os piores índices
verifica-se a prevalência de repúblicas ou monarquias parlamentares.
É
possível verificar que há países presidencialistas onde o número de mulheres na
política é alto, como Ruanda, Bolívia e Nicarágua, assim como há repúblicas
parlamentares que registram índices elogiáveis, como Islândia, Suécia e
Senegal. Da mesma forma, no outro extremo da tabela, onde estão os países com
os mais baixos índices de representação feminina, há tanto países
presidencialistas, caso de Nigéria, Líbano e Congo, como parlamentaristas, como
Japão, Sri Lanka e Botsuana. Não se pode afirmar, portanto, que em “todos os
países parlamentaristas existe uma forte representação das mulheres”.
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