Para
o senador e ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, o atual contexto político do
Brasil e da América Latina, com o avanço das forças de direita, não pode ser
visto com desânimo. “Nós aprendemos muito
mais com as derrotas do que com as vitórias. É preciso levantar e começar de
novo”, declarou Mujica durante o Seminário Democracia na América Latina,
que reuniu milhares de pessoas nesta quarta-feira (27) em Curitiba.
Publicado
originalmente na Revista Fórum
Segundo
o senador, a democracia está em risco no mundo inteiro devido a duas questões
centrais: a concentração da massa financeira nas mãos dos ricos e a crescente
desigualdade na Terra. “Nunca o homem
teve tantos recursos e meios científicos e técnicos para erradicar a fome e a
miséria dos povos”, disse o ex-presidente, enfatizando que o grande
problema não é ecológico, mas político. “Temos
80 senhores que possuem o mesmo que outros 3 bilhões de habitantes”.
O
ex-presidente destacou que, antes de mais nada, é preciso mudar a cultura. “Sem mudar a cultura não muda nada”,
sentenciou. Como cultura, entende-se, a mentalidade de vida. Deixar o
consumismo de lado, promovendo principalmente a vida e a felicidade humana como
centro da sociedade.
Mujica
opinou ainda que o crescimento econômico só se justifica se ocorrer para o
desenvolvimento da felicidade humana. “Fomos
transformados em uma máquina de consumismo. A acumulação capitalista necessita
que compremos, compremos e gastemos e gastemos. Vendem mentiras até que te
tiram o último dinheiro. Essa é a nossa cultura e a única saída é a
contracultura”, afirmou.
Democracia em foco
Organizado
pelo laboratório de Cultura Digital, projeto do Setor de Educação da UFPR, o
evento ocorreu com o objetivo de fomentar o debate sobre a ameaça aos regimes
democráticos na América Latina, a partir do atual contexto de golpe
institucional no Brasil.
Sobre
esse assunto, na opinião de Pepe Mujica, é necessário pensar um outro modelo de
democracia. “A democracia do futuro não
pode ser a democracia de gente sob medida, de campanhas e propaganda para
satisfação do mercado. Aquela que vende um candidato político como se fosse
pasta de dente. Se a política é isso estamos fritos”, criticou.
“A democracia é uma luta permanente, não é o conformismo.
E o nosso papel é lutar por um mundo melhor. O que vale é a vida”,
finalizou.
Convidados
Participaram
da mesa, junto com Mujica, a integrante da Rede de Mulheres Negras do Paraná e
Secretária de Direitos Humanos da ABGLT, Heliana Hemeterio dos Santos; o Doutor
em História pela FFLCH-USP, Gilberto Maringoni; a Mestre em Educação pela UFPR
e professora da Universidade Federal da Integração Latino Americana (UNILA),
Lívia Morales; e a pesquisadora na área de políticas educacionais e movimentos
sociais da UFPR, Andrea Caldas.
Durante
sua exposição, Gilberto Maringoni criticou incisivamente a política de Estado
mínimo proposta pelo governo interino de Michel Temer. De acordo com ele, as
propostas de cortes orçamentários nos programas sociais representam uma opção
política. “É o livre mercado e ele só tem
uma alternativa: o ajuste fiscal e reduzir direitos sociais. Não tem saída
porque estamos sem dinheiro”, disse ele, reproduzindo com ironia o discurso
majoritário do atual Governo Federal.
Hemeterio
questionou a efetividade da construção democrática em um país no qual, a cada
23 minutos, um jovem negro é morto. “A
democracia latino-americana não inclui o povo negro. Não podemos falar de
democracia a partir do nosso umbigo, sem incluir as mulheres negras, as
mulheres lésbicas, as mulheres pobres”, avaliou.
A
professora Livia Morales, da UNILA, destacou a necessidade de respeitarmos e
valorizarmos as diversidades. “A política
é o lugar da diferença. Quem gosta de tudo igual ao mesmo tempo é fascista.
Precisamos aprender a lidar com as diferenças, conversar com as pessoas”,
afirmou.
As
falas foram recheadas de palmas e gritos por “fora Temer” e “fora Beto Richa”.
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Foto: José Cruz/ Agência Brasil. |
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