As
mulheres negras nunca reconheceram o mito da fragilidade que sempre justificou
os espaços subalternos que lhes foram dados. Aprenderam muito cedo o quanto
duro é o trabalho nos espaços disponibilizados e acima de tudo que suas vidas
valiam o que lutassem para ter. O
processo que desumaniza a população negra, fez com que o machismo sobre essas
mulheres, tivesse um impacto maior do que nas demais, principalmente na
mercantilização de suas vidas e corpos, além de sua afetividade.
Sabemos
quais são as consequências da negação do papel da mulher negra na formação da
cultura dos povos, especialmente na política partidária e na área social. Mesmo
entre os movimentos feministas mais avançados e plurais, há ainda hoje uma
dificuldade em reconhecer as mulheres negras que estiveram presentes nas lutas
e movimentos sociais e principalmente na capacidade destas de ocupação de
espaços “privilegiados”. As heroínas e intelectuais negras,
são totalmente invisibilizada nos processos históricos.
Após
séculos de exploração, ainda há de forma intensa a erotização e apropriação do
corpo da mulher negra, onde na divisão entre santas e profanas, acabam por
ocupar o espaço de diversão casual. Nada diferente do passado por mulheres
negras na diáspora como um todo e
principalmente na América Latina, onde essa identidade é legitimada a partir de
raízes euro-ocidental, raiz que rejeita a presença negra na história e vida
cotidiana, que exclui e discrimina estas. Por conta do entendimento desta
realidade comum na diáspora negra, um grupo de mulheres negras viu a
necessidade de iniciar um debate em nível internacional sobre a situação da
população afro descendente, o racismo, discriminação e principalmente
questionar a identidade europeia imposta a esse povo.
Diante
da constatação de que é difícil ser negra latino-americana numa sociedade
construída a partir do racismo e do patriarcado, essas delinearam os países
latino-americanos via exclusão territorial, social, econômica e política. Esses
dados confirmaram a realidade da diáspora negra na perspectiva racial e
principalmente das mulheres negras, onde essa identidade implica em sofrer uma
dupla opressão historicamente construída e a hegemonia de um gênero sobre o
outro. Ao compreender esses fatos, surge a necessidade de construir uma
identidade global com uma articulação que pudesse permitir ter uma maior
visibilidade desta situação em toda região.
Essas
mulheres internacionalizaram o debate que faz surgir o movimento das mulheres
afro-latinas e caribenhas, contribuindo desta maneira para a criação da maior
antena preta feminista. Essa união permitiu a aproximação de profissionais de
comunicação, cultura, acadêmicos e áreas afins que hegemonizaram a luta negra
na diáspora de forma continental. A partir desta articulação, em 1992, em Santo
Domingo, na República Dominicana, realizou-se o 1º Encontro de Mulheres
Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, do qual decorreram duas decisões: a
criação da Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas e a definição
do 25 de julho como Dia da Mulher
Afro-latino-americana e Caribenha. Data
que nos dias de hoje, temos orgulho em comemorar.
O
25 de Julho internacionaliza o feminismo negro via aglutinação da resistência
das mulheres negras à cidadania nas regiões
em que vivem, principalmente as
opressões de gênero e étnico-raciais. Desta forma, essa data amplia e
fortalece as organizações e identidade das mulheres negras, que vem construindo
estratégias para o enfrentamento do racismo e do sexismo. Essa não é uma data
qualquer para nós mulheres negras, ele
significa o rompimento com um feminismo que nunca nos contemplou. Resgata a
luta das mulheres negras da diáspora, iniciada ainda na década 70, através das
feministas negras em pontos diferentes da diáspora.
Comemorar
o 25 de julho é celebrar e reverenciar a
elaboração de novas perspectivas feministas, em especial da introdução da
diferença na teoria feminista tradicional. Afinal não podemos esquecer que o
feminismo que ressurgiu na década de 1970, afirmava uma identidade feminina
homogênea, logo não se conseguia identificar e visibilizar demandas específicas
de mulheres que sofriam com a intersecção de diversas condições como, gênero,
raça, classe, etnia, orientação sexual e religiosidade.
Fortalecer
o 25 de julho é dá visibilidade e energia a emancipação das
mulheres negras de um feminismo que colocava a opressão de gênero como fator opressor prioritário para as mulheres,
sem levar em conta as demandas das mulheres negras. É fortalecer a emancipação de um feminismo que não conseguia abarcar as
diferenças entre estas ou seja, o
olhar para as múltiplas
experiências e identidades femininas.
Empoderar
essa data é contribuir na luta histórica
de mulheres que foram e são protagonistas
no pautar e exigir de seus países o atendimento de demandas que nos dias de hoje melhora a
qualidade de vida da população negra é lutar pela garantia e ampliação do acesso a direitos já conquistados,
principalmente na construção enquanto
continente de afros descendentes como uma
nação transnacional. É nessa construção coletiva que precisamos
acreditar quando reverenciamos o 25 de julho, dia da Mulher
Afro-latino-americana e Caribenha.
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Mulheres Negras do Cariri durante marcha em Brasília. Foto; Divulgação. |
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