As
ordens de fatores que relacionam a necessidade, a disponibilidade e o interesse
pela pesquisa em determinado tema e com enfoque especifico quanto a base
teórica, metodologia e caminhos interpretativos e organizativos da produção de
conhecimento é um terreno de conflito e que se explicita com grande força
quando se trata da pesquisa com opção da metodologia afrodescendente. A
principal razão explicita é que ocorre uma ruptura de perspectiva sobre o
conhecimento, este elege a população negra como fonte ativa do conhecimento e
não como objeto. De maneira subjetiva interfere na relação intima da nossa sociedade
sobre os racismos antinegro mentais, a nossa sociedade é perpassada pela ideia
da superioridade e de supremacia do pensamento ocidental. Propor o africano e
afrodescendente como pensadores ativos fere as ordens mentais instituídas e
praticadas. Varias são estas ordens de fatores que relacionam a pessoa do
pesquisador, seu coletivo de origem e os temas e posturas sobre os temas e
sobre a forma científica de trata-los (questionamentos que eram apenas
realizados como uma opção entre o popular e erudito, entre o despossuído e
possuidor (despossuído de poder político, cultural e social ou apenas
despossuído de poder dos meios de produção), ou entre funcionalismo e marxismo,
hoje com a presença dos afrodescendentes falando de conhecimento africano e de
populações de origem africana introduz novo e precioso debate na epistemologia
das ciências no Brasil. Debate ainda não declarado como existente e necessário,
mas em vias de explicitação, explicitação que renasce com a fundação da
Associação Brasileira de Pesquisadores Negros e não ganha corpo nacional em
razão da timidez de ações realizadas pelos próprios afrodescendente, timidez
explicada em face das pressões a que estamos submetidos.
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Professor Henrique Cunha, da UFC. Foto: Rede Social Facebook. |
O
tema de pesquisa eleito é percebido como estar na ordem das rupturas e das
normalidades cientificas, reside no campo da especificidade ou da
universalidade do conhecimento, traduz a persistência da pratica sobre a teoria
ou da teoria sobre a pratica, ou da alternância entre elas?. A ordem pessoa do
pesquisador, sua filiação subjetiva e objetiva com o tema e com a forma da
pesquisa.? Trata-se de uma ordem de ser e ter propriedade de dentro ou de fora
da porteira do horizonte do tema de pesquisa?. Carrega a ordem de pensar a
pesquisa no campo micro complexo e microfacetado ou com parte do campo macro
ordenado ( o conflito é parte do macro-ordenamento)?. Poderíamos de forma
resumida e pouco explorada sintetizarmos estas ordens nos seguintes grupos de
problemas sobre a aquisição do conhecimento e sua sistematização (vejam que a aquisição
é diferente de sistematização, conhecer é diferente de dar a saber que conhece,
que dar a saber como difunde) como: ordem do conhecimento e a ciência
ocidental- universal;ordem da relação sujeito-sujeito ou de sujeito-objeto de
pesquisa, melhor dizendo o pesquisador dentro da pesquisa e em transformação ou
consolidado e apenas operador do conhecimento, ser operador do conhecimento ou
ser parte do conhecimento em processo, ser transformador-transformado; a ordem
do ator-pesquisador ou pesquisador o pesquisador, onde mesmo atua inscrevendo
os atos ou atua como participante da plateia, a ordem de compreensão dos
contextos, tanto da pesquisa como do tema pesquisado. A pesquisa é importante
para um movimento da dinâmica social do qual o pesquisador faz parte ou faz
parte do interesse pessoal apenas, o que é amplamente legitimo importante e de
consequências ambas importantes, mas que de interações com a sociedade e com a
sociedade cientifica muito particulares.
A
ciência tem as suas normalidades e as rupturas. A normalidade apresenta e
representa a aceitação de um determinado estado de coisas. Normalidade foi
atingida pelas teorias marxistas embora estejam em contraposição com a
organização do estado liberal, com a organização da sociedade capitalista, com
o poder econômico, e fale em nome das classes trabalhadoras, estas teorias
estão em perfeita conformidade com um campo do conhecimento estabelecido e
cristalizado de normalidade quanto a aceitação cientifica dos seus dogmas,
princípios e bases teóricas. O marxismo é um modelo consolidado no campo
cientifico, faz parte da normalidade e não mais da transformação inovadora em
termo de aceitação cientifica. Perdeu seu potencia de introduzir novas ideias
de base teóricas e criou um léxico de repetições e recriação das mesmas ideias
e não de proposição de novas interpretações da sociedade e da cultura humana.
Também representa o predomínio da pesquisa teórica sobre a empírica. Desta em
perfeita harmonia estável com as teorias do racionalismo cientifico ocidental.
Entrou para parte operante do conhecimento ocidental como forma de dominação
sobre os conhecimentos africanos e asiáticos.
Entretanto
o pan- africanismo os enfoques do conhecimento tendo como base a cultura
africana, os princípios de parte dos conhecimentos Egípcios, Núbios, Etiopês,
Bantos e Iorubanos, das concepções do conhecimento africano como fonte
importante do conhecimento da humanidade estão ainda sobre forte contestação em
relação ao conhecimento ocidental, trata-se de um campo de tensão, de ruptura.
A Grécia e o conhecimento gregos não são os pilares do conhecimento ocidental,
no entanto uma grande ideologia em torno deste paradigma produziu o ocidente
como forma e força política, cultural, científica e econômica. Impõe a ordem de
fatores na pesquisa cientifica, de que a teoria precede a pratica, o campo
empírico perde seu potencial de fonte e torna-se apenas local de constatação,
exemplificação e aplicação da teoria. Condiz com um paradigma cientifico do
ocidente que a possibilidade de universalização do conhecimento. Diz que uma
teoria pode abarcar todas as situações da vida humana. Aceita a proposição que
a teoria é superior a pratica, os teóricos são ilustres os práticos são seus
discípulos, portanto pensadores reprodutores e não pensadores instituidores de
novos paradigmas e novas ideias.
Principal
ordem de fatores é a relação do tema da pesquisa com o conhecimento de vida e
envolvimento do pesquisador. A bagagem previa do autor, do pesquisador com tema
modifica em muito as capacidades de acesso ao conhecimento e informação
ofertado pelo tema pesquisado. Neste sentido a pesquisa afrodescendente é uma
metodologia de postura nova, relacionando a ação a pesquisa, procurando uma
dialética entre ação – pesquisa-ação , tendo como partida o campo e o
conhecimento sobre o campo e procurando a construção explicativa teórica depois
como consequência e não como fonte. Esta no campo da discussão da epistemologia
das ciências e das rupturas necessárias para integração do continente africano,
de africanos e descendentes como produtores de um conhecimento, com base na
experiência criadora de populações africanas e negras na diáspora. Implica no
caso brasileiro em considerarmos os africanos como colonizadores do Brasil,
devido a herança cultural e material, e não os portugueses, como também
reconhecer o africano e descendente, como pensador, vindo de comunidades
pensantes e realizadores dos ato criador e civilizador também, como todos os
outros povos. No campo ético o respeito ao conhecimento pelo nosso próprio
conhecimento e protagonismo social. Não se trata de um conhecimento “vindo de
baixo” como a historia tem apresentado como visão inovadora, trata-se de
conhecimento produzido no fazer social, nas dinâmicas das sociedades.
*Professor da Universidade Federal do
Ceará (UFC)
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