O
penúltimo debate entre os candidatos à presidência da República marcou uma
inflexão no tom utilizado por Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). Se no
encontro do SBT, realizado na quinta-feira, ambos apostaram na agressividade, o
evento organizado pela Record teve um retorno à discussão de propostas. A
mudança não necessariamente abriu espaço a discussões novas: no centro da pauta
estiveram as comparações entre gestões tucanas e petistas e o tema da
corrupção.
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Dilma e Aécio no estúdio da TV Record para o debate presidencial: penúltimo confronto direto |
A
escolha de Dilma para a primeira pergunta, a respeito do microempreendedor
individual, sinalizou que o debate seria marcado por uma diminuição de tom. Na
resposta, Aécio elogiou a escolha da adversária e repetiu uma tática que vem
adotando desde o começo das eleições, dizendo que as principais iniciativas do
PT são heranças do PSDB. "Agradeço a
qualidade da sua primeira pergunta e aproveito para dizer que é isso mesmo:
governar é aprimorar as boas ideias", provocou.
Sem
a agressividade em jogo, a comparação entre os governos Fernando Henrique
Cardoso, do PSDB, e Lula e Dilma, do PT, voltou a ganhar espaço, repetindo o
que ocorrera no encontro realizado pela Band. A presidenta recordou a tentativa
da gestão tucana de votar no Legislativo, em 2001, um projeto que transformava
direitos trabalhistas em questões a serem debatidas diretamente na relação
entre patrão e funcionário. "Este
projeto, no entanto, o presidente Lula foi eleito e enterrou este projeto.
Vocês naquele momento conseguiram um recorde nacional e internacional: 11
milhões e 500 mil trabalhadores desempregados no Brasil".
Aécio
respondeu que tem um histórico de respeito aos direitos trabalhistas e voltou a
repetir que vai discutir uma alternativa ao fator previdenciário, criado em
1999 pelo governo FHC, do qual foi deputado e presidente da Câmara. "Mais uma vez eu a convido: vamos debater o
presente, vamos apontar caminhos para o futuro", afirmou. "O que seu governo vai fazer para que o
Brasil volte a crescer, saia da lanterna do crescimento na região? As pessoas
estão extremamente preocupadas com o futuro".
As
considerações finais marcaram também uma diferença clara entre o que buscam
Dilma e Aécio para vencer uma eleição tão acirrada. “Dois projetos de Brasil estarão em jogo. Um que garantiu avanços e
conquistas para todos. Outro que condenou o povo brasileiro ao desemprego e ao
arrocho salarial. O Brasil que eu represento é um Brasil que quer que todos
cresçam”, afirmou a petista, que claramente escolheu mandar uma mensagem
aos eleitores que enxergam na ascensão social uma conquista individual: “Ninguém é uma ilha nem ninguém consegue
crescer sozinho. Você cresceu porque o Brasil mudou. Pra vida mudar foi preciso
governar olhando para todos os brasileiros.”
Também
na busca por uma mudança de rumos que desequilibre a balança, Aécio chegou a
mirar o voto do Nordeste, região na qual sofre sua pior derrota para o PT,
acusando o governo de atrasar obras importantes para os nordestinos. Nas
considerações finais, novamente evocou a ideia de que a má gestão é o traço
central do governo da adversária. “Temos,
sim, dois projetos para o país. Um representado pela candidata oficial, que se
contenta em comparar o presente com o passado, talvez sem ter muito a
apresentar para o futuro.”
A
disputa na seara econômica teve tema batido com a retomada, por Aécio, da
questão da inflação, que vem pautando sua campanha desde o início. O candidatou
voltou a criticar a afirmação da adversária de que os preços estão sob
controle, comparando o Brasil aos casos de Chile e México.
Dilma
afirmou que é descabida a comparação entre um país do tamanho do Brasil e
alguns de seus vizinhos, e recordou que empregos foram mantidos, mesmo em um
cenário de crise internacional. A respeito da inflação, ela voltou a demarcar
diferença com a proposta do eventual ministro da Fazenda de Aécio, Armínio
Fraga, que promete uma taxa de 3% ao ano até o final do mandato - atualmente a
meta vai de 2,5% a 6,5%, mais frequentemente próxima do topo do limite.
"Considero muito grave a taxa de 3% de inflação
porque vai repetir a velha história de desemprego. Porque para ter 3% vocês vão
triplicar o desemprego, ele vai a 15%, vocês vão aumentar a taxa de juros",
acusou, recusando a ideia de Aécio de que não se deve debater o passado. Ela
considera preocupante que a figura central da economia num eventual governo
tucano seja Armínio Fraga, presidente do Banco Central no governo FHC e que nos
últimos anos se dedica a ser consultor de bancos e de investidores do mercado
financeiro. "Vocês sempre gostaram
de plantar inflação para colher juros. Essa sempre foi a sua política. E vocês
governaram, sim, o Brasil. O governo Fernando Henrique Cardoso, você foi
liderança. Não lave suas mãos. Você tem responsabilidade e tem de responder por
elas."
Corrupção
A
questão da corrupção novamente apareceu como um dos temas centrais do debate.
Também sem novidades no tom do discurso. De um lado Aécio evocou denúncias
contra a Petrobras para dizer que há um problema grave de gestão e que o PT
elevou os desvios na administração pública a níveis inéditos. De outro, Dilma
recordou escândalos envolvendo quadros do PSDB que acabaram engavetados e
afirmou que em sua gestão as instituições têm autonomia para investigar.
“Por que ao longo de todos esses anos não se
tomou nenhuma providência para impedir que essas ações continuassem?”,
indagou o tucano, citando especificamente se Dilma confia no tesoureiro do PT.
João Vaccari Neto foi citado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa
como intermediário de pagamento de propinas.
A
petista recordou que o mesmo delator citou o ex-presidente do PSDB Sérgio
Guerra como distribuidor de pagamentos no Congresso para esvaziar uma CPI
ocorrida em 2009. Dilma afirmou ainda que Aécio disse que não se pode confiar
na palavra de um criminoso sob acordo de delação premiada quando os desvios
envolviam políticos do PSDB no esquema do Metrô de São Paulo, mas agora parece
dar confiança a tudo que diz Costa. Ela prometeu tomar providências quando as
investigações forem concluídas, sem se precipitar em julgamentos que depois de
mostrem equivocados.
“Agora,
a minha diferença pra você é que mandei investigar quando soube que tinha essas
características”, afirmou. “Nunca impedi a investigação. Nunca impedi que
falassem, que olhassem ou que verificassem o que estava acontecendo.”
Em
nova pergunta sobre a Petrobras, Aécio buscou demonstrar que a má gestão
prejudicou trabalhadores que decidiram investir em ações da empresa por
estímulo do governo Lula. “Acho
estarrecedor”, respondeu Dilma. Ela recordou a mudança de nome, de
Petrobras para Petrobrax, como um caminho para a privatização, e declarações
dadas por Aécio no final do governo FHC no sentido de transferir rapidamente o
controle da empresa. “Vocês venderam 30%
da Petrobras a preço de banana. Na época a Petrobras valia R$ 15,5 bilhões.
Hoje a Petrobras passou do patamar de R$ 100 bilhões. Vocês não têm a menor
moral de falar de valor da Petrobras.”
O
tucano prometeu melhorar a maior estatal brasileira com “profissionalização” da gestão, mesmo argumento de que se valeria no
debate sobre o papel dos bancos públicos. Aécio afirmou haver um “grande terrorismo” em relação ao que se
fará com essas instituições em seu eventual mandato. “Fizemos as privatizações que precisavam ser feitas, e os bancos
públicos vão ser fortalecidos no nosso governo”, defendeu.
Na
resposta, Dilma novamente recordou declarações dadas recentemente por Armínio
Fraga, que, em debate com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, explicitou seu
desejo de diminuir o papel dos bancos públicos. “Terrorismo é o que faz seu candidato a ministro da Fazenda. Quando
alguém diz que no fim não sabe o que vai sobrar dos bancos públicos, eu se
fosse funcionário do BB, da Caixa ou do BNDES ficava com as três pulgas atrás
da orelha.”
Via
Rede Brasil Atual
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