Às
vésperas do Dia Internacional da Mulher, a loja de departamentos Riachuelo
veiculou, no Youtube, um vídeo que está sendo acusado de racismo nas redes
sociais. Nele, uma mulher branca é servida por mãos negras. Depois da
repercussão ruim a empresa retirou o vídeo do ar, mas ainda não se manifestou
oficialmente sobre o acontecido.
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Vídeo mostra mulher branca como símbolo da mulher brasileira e mãos negras a servindo. |
Em
texto publicado ontem (06), a escritora do blog blogueirasnegras.org, Zaira
Pires, criticou a escolha da Riachuelo em estrelar uma mulher branca na
campanha. “A mulher brasileira padrão, essa do comercial, corresponde
exatamente ao padrão médio da brasileira, afinal, somos majoritariamente
brancas, loiras, com traços faciais finos e tão magras e altas como sílfides
mitológicas. Uai, não somos?”, ironiza.
Veja abaixo o vídeo que circula nas
redes e a íntegra do texto de Zaira Pires:
Dia Internacional da Mulher BRANCA
Mais
um 8 de março se aproxima e recebemos aquela enxurrada de chorume em nossas
existências femininas nos “homenageando” por sermos delicadas, amorosas,
resilientes, submissas, mães, esposas, damas na sociedade e amantes ardentes
entre quatro paredes.
Todo
esse repentino amor tem hora pra começar e acabar, durando o tempo do mês de
março, da semana do 8 ou só desse dia mesmo, de acordo com o tanto de baboseira
que cada um consegue produzir.
Nesse
sentido, as mulheres homenageadas são sempre as mesmas: brancas, jovens,
magras, ocidentais, cristãs e cisgêneras.
E
para não perder o costume, nós, as pretas neuróticas, recalcadas, mal amadas e
que veem racismo em tudo, vamos direcionar nossa crítica destrutiva ao bode
expiatório da vez: a Riachuelo e sua campanha pela Semana da Mulher Brasileira
2014 (leiam ironia nas minhas palavras, por favor).
Como
podemos ver no vídeo, a mulher brasileira padrão, essa do comercial,
corresponde exatamente ao padrão médio da brasileira, afinal, somos majoritariamente
brancas, loiras, com traços faciais finos e tão magras e altas como sílfides
mitológicas. Uai, não somos?
E
então que a presença negra no comercial é de uma mão que serve. Um corpo sem
cara, que não consome, não tem vontades, sequer existe, apenas serve. Uma
sombra semivivente que só se presta a apoiar a existência da sua senhora.
Sim,
porque a mulher que deve ser homenageada na semana da mulher é aquela branca
que trabalha fora, independente, bem resolvida, que limpa a casa, cuida dos
filhos, serve ao seu marido e sempre está com as unhas feitas e a depilação em
dia. Essa é uma super mulher que consegue viver seus rompantes de modernidade
sem deixar de lado suas obrigações femininas. Essa merece ser louvada e ganhar
um desconto nas compras da semana por cumprir suas funções com tanto esmero.
A
preta que sustenta a família com seu salário do subemprego, que enfrenta 5
horas de ônibus sujeita a abuso sexual, que vê seu filho ser morto pela
polícia, que morre por complicações aborto inseguro, que está fadada ao serviço
doméstico desde sempre como se isso fosse inerente à sua existência, que
suporta as investidas sexuais do patrão e do filho do patrão para não perder o
sustento dos seus, que é a principal vítima de negligência na saúde pública, que
deixa seus filhos sozinhos em casa pra cuidar dos filhos da patroa branca, que
é a maioria entre as trabalhadoras do sexo, que não completa os anos básicos de
estudo porque precisa sair para trabalhar, que tem que se virar em quinze para
viver e ainda manter o sorriso no rosto, essa não merece as homenagens desse
dia.
Na
verdade essa mulher é a serviçal que deve se alegrar por ter a honra de ver
seus braços pretos aparecerem na televisão.
Afinal,
o que a Riachuelo nos diz com esse filme, e o que muitas outras nos dirão nessa
semana, é que mulher negra consumidora é paradoxo, e já que ela não existe,
porque deveria ser representada numa propaganda? Quem disse que preta tem
dinheiro? Quem disse que preta compra alguma coisa? Quem disse que preta
entende de publicidade?
Pois
estamos aqui, consumidoras, pensadoras, cidadãs, formadoras de opinião, dizendo
que esse comercial não nos representa. Durmam com esse barulho!
Com Brasil de Fato
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