A
FIFA e seus parceiros comerciais vêm conseguindo impor seus interesses ao
Brasil. A Lei Geral da Copa e a proposta de Lei Antiterrorismo são mostras de
que o poder público tem sido subserviente ao poder econômico dessas
corporações. Mais um caso flagrante disso é a recente carta que a Anatel enviou às associações de rádios comunitárias, na qual
informa que vai aumentar a repressão por conta da "Copa do Mundo
FIFA".
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Alexandre Silva, um dos 4 novos comunicadores no stúdio da Rádio Comunitária Altaneira FM. |
Todos
sabemos que a Lei de Rádios Comunitárias
(Lei 9612/98) foi criada para que elas não existam. Das mais de 4.600 rádios
legalizadas no Brasil, 99% podem ser apontadas como infratoras por conta das
armadilhas da lei (isso sem falar nas cerca de 10 mil que esperam há mais de
dez anos pela legalização). Para exercerem o direito humano à comunicação, as
rádios comunitárias são obrigadas a cair na ilegalidade, desde a operação em
outra frequência, já que a referida lei as coloca fora da faixa de FM, até a
veiculação de publicidade do pequeno comércio local, pois não possuem outra
forma de sobrevivência.
Agora,
a Anatel quer que as infrações acabem por conta da Copa do Mundo, sob a
alegativa "de utilização intensa do
espectro radioelétrico durante a realização de eventos de grande magnitude",
conforme a carta destinada às rádios. De acordo com o texto, "Para o uso adequado do espectro de
radiofrequência é impreterível o cumprimento das características técnicas
autorizadas para o funcionamento de suas estações, além da utilização de
todos seus equipamentos com a devida certificação/homologação".
Como
a Anatel sabe que essas condições não podem ser cumpridas pela maior parte das
rádios do país, a carta deixa claro que a agência vai aumentar a perseguição a
quem cumpre voluntariamente um papel fundamental para a sociedade: "Ademais, destacamos que no primeiro
semestre de 2014 as fiscalizações serão reforçadas em todo o Brasil e como de
praxe as entidades atuando em descordo com a regulamentação em vigor por
este órgão serão autuadas". Trata-se de uma criminalização anunciada.
Na Rio+20 foi diferente
A
Agência Nacional de Telecomunicações e o Ministério das Comunicações
provavelmente dirão que devem cumprir a lei e pronto. Só que sabemos que quando
há interesse político, a história pode ser diferente. Durante a Rio+20, em
2012, a Anatel já ensaiava sua atuação para a Copa. Com novos
equipamentos, funcionários chegaram à Rádio Cúpula dos Povos, que funcionava no
Aterro do Flamengo. Neste caso, o automático ato de fechar uma emissora foi
substituído pela alternativa mais sensata: contribuir para a prática do
direito à comunicação.
Buscando
a garantia da liberdade de expressão, Ministério das Comunicações e Empresa
Brasil de Comunicação (EBC) aturam e, em 24 horas, aquela rádio comunitária foi
legalizada com a ajuda do poder público. Foram pelo menos dois os ganhos: a
rádio passou a funcionar dentro da legalidade e o direito humano não foi
violado.
Anatel e Ministério devem auxiliar e não
reprimir
Atender
reivindicações é mais inteligente do que reprimir. Já passou da hora de o
Brasil regulamentar sua Comunicação do ponto de vista da democracia. Fechar
uma rádio comunitária não resolve nada. No outro dia, mais outras rádios
estarão funcionando, porque a população quer fazer sua própria mídia e não
apenas consumir os conteúdos já existentes.
Ao
contrário de criminalizar, a ação correta é entender a importância da
comunicação comunitária (como fez Lula no último mês de seu mandato, ao chamar
as rádios para reunião em que reconheceu sua importância para a democracia e
prometeu que no governo Dilma iria cobrar a valorização do setor) e criar
políticas públicas que garantam, dentre outras questões, mais frequências,
financiamento público, mais potência e menos burocracia (que FHC, Lula e
Dilma não fizeram), contribuindo para que esses meios possam cumprir seu
papel de multiplicar as vozes que circulam pelos meios de comunicação.
Rádio
comunitária não é caso de polícia. Rádio Comunitária é um direito humano!
A
análise é de Arthur William, integrante do Conselho Diretor do Intervozes e foi
publicado originalmente no Carta Capital
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