Estima-se
que existam hoje em todo o território brasileiro cerca de 3 mil comunidades
remanescentes de quilombos, grupos formados pela população negra de origem
rural ou urbana. Há 10 anos, em 20 de novembro de 2003, os processos de
demarcação e posse destas terras foram regulamentados pelo decreto federal nº
4.887, cumprindo o artigo 68 da constituição federal. Desde então, 1.500
comunidades quilombolas foram certificadas pela Fundação Cultural Palmares e
pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

A proposta do curso, que é inédita no Brasil, foi elaborada em conjunto com o Núcleo de Estudos de Identidades e Relações Interétnicas (NUER) da UFSC e aceita pela Pró-reitoria de Graduação neste semestre. Nos próximos meses será montado um grupo de trabalho para elaborar o plano curricular, que deve ser aprovado pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Conselho Universitário da UFSC.
A
pesquisadora do NUER Raquel Mombelli explica que a ideia é semelhante a da
Licenciatura Indígena, implantada na UFSC em 2011: é uma questão que nasce
atrelada ao processo de reconhecimento de terras ocupadas tradicionalmente por
estes povos. Raquel lembra que os negros, assim como os índios, não tiveram seus
direitos de posse reconhecidos pela Lei de Terras. Desta forma, a educação se
soma às políticas fundiárias com o objetivo de garantir a inclusão social
destes grupos.
“Trata-se
de viver e falar que história é essa, de preconceito e exclusão, vivida pelos
negros”, afirma Raquel, que também aponta que “a presença negra teve um papel
fundamental na economia da região sul em várias frentes, contribuição que nunca
foi efetivamente reconhecida”.
A
mesma crítica é feita pela integrante do MNU/SC Maria de Lourdes Mina: “[Santa
Catarina] é considerado um estado europeu”. Ela também alerta para o fato de
que a população negra em Santa Catarina chega a 18% e que há uma estimativa de
que as comunidades remanescentes de quilombos no estado cheguem a 200, segundo
levantamento feito pelo MNU/SC nos últimos nove anos. “É preciso tirar esses
grupos da invisibilidade para que eles se reconheçam e se trace uma política”.
Desde
2004, o MNU/SC atua junto ao NUER na identificação e regularização fundiária
das comunidades de Santa Catarina. Atualmente 15 comunidades quilombolas
catarinenses buscam certificação junto ao INCRA, das quais 11 já foram
tituladas (veja a lista completa no site da Fundação Cultural Palmares).
Neste
trabalho de reconhecimento, as duas instituições constataram que o acesso dos
integrantes das comunidades à educação é bastante precário, seja pelo
isolamento geográfico ou, quando há disponibilidade de professores, pela falta
de um currículo específico que trate das questões relativas à história da população
negra – o que é previsto pela lei 10.639/03.
Raquel
avalia que além da questão da infraestrutura e da quantidade de professores, o
principal desafio para a educação quilombola é justamente a formação destes.
“Faltam condições pedagógicas para abordar questões como o racismo”.
Via
UFSC
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