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Deputado Henrique Fontana (PT - RS), autor da proposta |
Cercada
por silêncio ensurdecedor, a proposta de reforma política que previa, entre
outros itens, o fim do financiamento privado das campanhas, foi arquivada pela
Câmara dos Deputados duas semanas atrás.
Que
os parlamentares fossem avessos a mudar as regras pelas quais se elegeram era
provável. Foi surpreendente, contudo, que, com exceção do manifesto coordenado
pela OAB e pela CNBB na véspera do recuo, houvesse tão pouca mobilização da
cidadania a respeito do tema.
Sem
chegar a ser apreciada em plenário, a proposta caiu no colégio de líderes, a
quem o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves, consultou, conforme o
prometido –justiça seja feita–, sobre a conveniência de levar o assunto a
votação. O distinto público nem sequer foi informado sobre quais partidos
bloquearam a tramitação da emenda. Exceto uma ou outra nota, a
imprensa envolveu a
questão numa espessa invisibilidade, tornando-a um não assunto.
Observe-se
que ao adotar o comportamento acima, os meios de comunicação, além de privar a
sociedade de informações importantes, endossam situação que dizem repudiar.
Basta passar a vista nos primeiros cadernos dos jornais para perceber que boa
parte do espaço é ocupada por escândalos de corrupção. Tais casos, por sua vez,
estão, na maioria, direta ou indiretamente relacionados a recursos para eleger
mandatários.
Não
acredito em cálculo consciente, mas a verdade, paradoxal, é que embora os
editoriais ataquem os desvios de candidatos e eleitos, o noticiário é
alimentado por eles. Ou seja, o desprezado sistema atual é fonte inesgotável de
histórias que compõem manchetes, reportagens e comentários.
O
resultado é aumentar a descrença nos mecanismos democráticos. Crescente
sentimento de que os Poderes da República nada têm a ver com a vida real
perpassa a população, unificando em um círculo vicioso desde o mais engajado
militante de ONG até o menos interessado dos habitantes do país.
É
provável que aí esteja a razão de fundo para a indiferença que cercou o sepultamento
do relatório do deputado Henrique Fontana (PT-RS). Como se os eleitores
tivessem se conformado com o fato de que cerca de 200 empresas, segundo o
parlamentar, controlem o processo eleitoral por meio de rios de dinheiro (quase
R$ 5 bilhões em 2010).
O
fracasso mudo da terça-feira, 9 de abril de 2013, mostra a face excludente da
democracia brasileira. O caminho de construção de um regime participativo passa
agora por fortalecer o Projeto de Iniciativa Popular por uma Lei das Eleições
Limpas, também iniciativa da OAB e da CNBB, já apoiada por outras 30 entidades.
Vai ser longo e árduo, todavia é o único que vale a pena trilhar.
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